A respeito das coisas opináveis

Assuntos nos quais não precisamos pensar igual para sermos irmãos e para seguirmos juntos.

Rubén Chacón

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão uns com os outros, no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42).

A vida da igreja está descrita aqui, nestes quatro elementos. Portanto, em que coisas os santos deveriam estar ocupados em nossa vida de igreja em cada localidade? Em perseverar nestas quatro coisas. O verbo ‘perseverar’ tem que aplicar-se a cada uma delas, não só à primeira.

A palavra ‘perseverar’ quer dizer que estavam dedicados permanentemente a isto. A vida da igreja consiste em perseverar nestas quatro coisas. Não estamos aqui falando do que devem fazer os ministros, mas do que os santos devem viver e praticar; que coisas devem estar dedicados constantemente.

Tudo se origina na doutrina dos apóstolos

Pois bem, os três últimos elementos –a comunhão, o partir do pão e as orações–, nascem do primeiro, que é perseverar na doutrina dos apóstolos. E a doutrina tem haver com o ensino no que concerne à pessoa de Cristo.

Os irmãos perseveravam no ensino concernente a tudo de Cristo: a sua pessoa, a sua obra e os seus ensinos. E, portanto, de Cristo, que é o primeiro elemento, surgem os outros três. Como não, se a comunhão é o que experimentam aqueles que têm como elemento em comum ao Senhor Jesus? Não poderia haver comunhão entre nós, se não fosse por Cristo nosso Senhor.

A Escritura diz que nós éramos estranhos uns dos outros. E a Escritura não só diz que éramos estranhos, mas, além disso, éramos inimigos uns dos outros.

Assim que a pergunta óbvia é: O que aconteceu conosco? O que nós temos aqui, unidos, em comunhão? O que é o que nos congregou? Não é a nossa personalidade, não é a afinidade, não é a teologia, não são certos ritos, formas ou costumes. É a pessoa gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim que a comunhão uns com outros surge da doutrina dos apóstolos.

E o partir do pão também surge do primeiro elemento, porque o partir do pão, em essência, não é outra coisa senão recordar a morte do nosso Senhor Jesus Cristo. E por que destacar esse elemento de nosso Senhor, a sua morte? Porque o Senhor, ainda que tivesse feito muitas coisas aqui na terra, todas gloriosas, todas obras perfeitas e extraordinárias, nenhuma dessas coisas, por si só, é o que nós temos aqui. O que nós temos aqui, essencialmente, é a sua morte.

Se o Senhor não tivesse morrido por nós na cruz do Calvário, nenhuma das perfeições de Cristo, que ele manifestou durante a sua vida terrestre, teria valor salvador para nós. Nós o temos agora, graças ao que Cristo morreu por nós, e sua morte redentora, e ele ter derramado o seu sangue precioso na cruz, o que finalmente nos trouxe salvação. Por isso, no partir do pão, o que corresponde enfatizar e destacar é a sua preciosa morte; porque é a sua morte que nos mantêm aqui reunidos e em comunhão.

E finalmente, as orações também se desprendem do primeiro elemento, porque nelas expressamos nossa dependência de quem nos salvou. Necessitamos de Cristo não só para sermos salvos; necessitamos dele cada dia e todos os dias, para viver vidas vitoriosas. Na oração expressamos nossa dependência deste Senhor glorioso. Louvado seja o Senhor!

A comunhão uns com os outros

Eu quero, nesta ocasião, enfatizar um pouco o segundo elemento destes quatro, que tem haver com a comunhão. A comunhão uns com outros, essencialmente, consiste em que nos tratemos uns aos outros da maneira com que Cristo nos trata. Dessa maneira, então, começamos aqui na terra a expressar o caráter do Senhor.

Olhemos alguns textos da Escritura. Colossenses 3:13: «suportando-vos uns aos outros…». Notem isso. A comunhão uns com outros inclui ele nos suportar uns aos outros. «e perdoando-vos uns aos outros…». Que precioso é o Senhor! Ele sabia que a sua igreja ia para um caminho de perfeição, e que portanto, no momento que caminhamos para a perfeição, ia ser necessário nos suportar, e até nos perdoar.

«…suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros; se alguém tiver queixa contra outro». Você tem queixa de algum irmão? Bom, o que diz Paulo se alguém tiver uma queixa contra outro irmão? Perdoa-lhe. Que interessante! Se eu tiver alguma queixa contra algum irmão, o Senhor me diz que é para eu perdoá-lo. Porque, olhe como segue: «Da maneira que Cristo vos perdoou, assim também façais vós».

A comunhão tem haver com que façamos entre nós o que Cristo fez por nós. Cristo nos perdoou. Cristo nos suporta. O que nós temos que fazer? Suportar-nos uns aos outros. Cristo nos perdoa. O que devemos fazer uns com os outros? Perdoar-nos. Você crê que Cristo tem alguma queixa contra você, ou poderia ter alguma queixa? Creio que não uma, mas várias. E o que Cristo faz? Perdoa-te. Por isso devemos nos suportar e nos perdoar. Duas coisas.

O texto paralelo, em Efésios 4:32, tem um pequeno destaque que convém lê-lo. É muito parecido ao que acabamos de ler. «Antes sede benignos uns com os outros». Outra versão diz: «Sejam bondosos uns com os outros». Que mais? «…misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como Deus também vos perdoou em Cristo». Notem outra vez? Como o Senhor nos trata, nós devemos tratar uns aos outros.

Como nos tratou o Senhor? Ele foi bondoso, foi benigno conosco, foi misericordioso conosco? Perdoa-nos permanentemente? Bom, isso é o que temos que fazer uns com os outros: Manifestar o caráter de Cristo, as virtudes do caráter de Cristo. O que ele tem feito conosco, nós fazemos uns com os outros. Assim, «sede bondosos… sede compassivos… perdoando-vos… suportando-vos», são elementos que estão presentes na comunhão.

E Romanos 15:7 diz: «portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para a glória de Deus». Outra vez nos mostra algo que o Senhor fez primeiro conosco, e que agora nos pede que façamos uns aos outros. Recebermos-nos uns aos outros. Outra versão diz: «Aceitem-se uns aos outros, como Cristo nos aceitou ».

Como Cristo me aceitou? Como aceitou a ti? Bom, você tem que aceitar a seu irmão da mesma maneira – tal como é, tal como está. Primeiro, é um recebê-lo no coração. Não se escolhem os irmãos, nem são como as pessoas querem que sejam; eles são simplesmente nossos irmãos porque são irmãos, e eu tenho dever de recebê-los como Cristo nos recebeu.

Cristo segue trabalhando posteriormente conosco, dia a dia; mas primeiro nos recebeu. Que diferente é quando queremos nos corrigir havendo nos recebido primeiro, e quando queremos nos corrigir sem haver nos recebido! Quando eu sei que você não tem me recebido em seu coração e você quer me corrigir, é muito difícil receber a correção. Mas quando o amor está primeiro, quando primeiro está à aceitação, então podemos nos edificar em amor.

Os fracos na fé

Eu quero ficar aqui, em Romanos 14 e Romanos 15, para enfatizar algumas coisas de ordem prática, no tema da comunhão; porque este tema de nos receber uns aos outros começa em Romanos 14, e Paulo começa o desenvolvimento disto dizendo: «Recebei ao fraco na fé, mas não para contender sobre opiniões» (14:1). Outra versão, em lugar de opiniões, diz: «Recebei ao fraco na fé, mas não para contender sobre temas discutíveis». Parece-me também uma boa tradução.

Recebam ao fraco na fé, mas não para contender sobre coisas opináveis ou sobre temas discutíveis. Irmãos, por que isto tem que haver com a comunhão? Porque o maior problema que todos os que estamos aqui temos, para efeitos de ter uma comunhão sã, verdadeira, espiritual e genuína, é que, indevidamente, a igreja está formada por fracos na fé e por fortes na fé.

Notem que aqui fala de «fracos na fé», e no 15:1, entre os quais se inclui Paulo, diz: «Assim, os que somos fortes…». Tem-se falado em 14:1 dos fracos na fé, a que está se referindo com os fortes? Ele está se incluindo nos fortes na fé. Quantos são fortes na fé? Quantos são fracos na fé?

Irmãos, o fato é que em cada igreja local e em qualquer lugar do mundo, a igreja está composta de fracos na fé e fortes na fé. E isto, se não soubermos conduzir, se não soubermos suportar, a comunhão estará ameaçada. Assim que o conselho de Paulo em Romanos 14 e Romanos 15 é um conselho apostólico que todos nós devemos atender, porque este tema é fundamental na hora de querermos praticar a comunhão uns com os outros.

Assim Paulo, estando consciente de que, na igreja em Roma e em qualquer localidade do mundo, a igreja está composta de fracos na fé e fortes na fé, ele começa dizendo: «Irmãos, ao fraco na fé temos que recebê-lo». Por que temos que recebê-lo? Porque Deus o recebeu, porque Cristo o recebeu. E como Cristo recebeu a todos, eu sou chamado a receber a todos os irmãos.

«Recebam ao fraco na fé, mas não para contender sobre coisas opináveis ou sobre temas discutíveis». Este é o conselho de Paulo, e começa a desenvolvê-lo. Diz: «Porque alguns crêem que tem que se comer de tudo…». Quem é esse? O forte na fé. No contexto em que Paulo escreve, a quem está se referindo comendo de tudo»? Está se referindo inclusive que podemos comer a carne sacrificada aos ídolos.

Eu não sei se toda a carne que se vendia nos açougues nessa época era uma carne que tinha sido oferecida aos ídolos primeiro. Parece-me que sim, a tal ponto que alguns diziam: ‘Eu não como carne’, por esse fato. Mas Paulo diz: «O forte na fé, come de tudo; come vegetais, come legumes e come carne, ainda que seja sacrificada aos ídolos».

E seguindo, diz: «Outro, que é fraco –fraco na fé–, come legumes». Para ele, é pecado comer carne sacrificada aos ídolos. Mas o que é um fraco na fé? É importante esclarecer isto, porque me parece que a expressão «fraco na fé» ou «forte na fé» teria relação com ter muita fé ou ter pouca fé. Como se um fraco na fé fosse alguém que tem pouca fé e um forte na fé, alguém que tem muita fé. Não, não tem haver com isso.

1ª Coríntios 8:4 nos define o que é um fraco na fé. Eu estou maravilhado, irmãos, do forte na fé que era Paulo; inclusive como que, de repente, escandaliza-me um pouco. Já vou lhes dizer por quê. 1ª Coríntios 8:4 diz: «Acerca, pois, das coisas que se sacrificam aos ídolos, sabemos que um ídolo nada é no mundo…». Assim Paulo, era dos que comiam legumes ou comia de tudo? De tudo. «Um ídolo não é nada», diz. «Portanto, a carne que esteja sacrificada aos ídolos, para mim, não é nada».

«…sabemos que um ídolo nada é no mundo, e que não há mais que um Deus. Pois ainda que haja alguns que se chamem deuses, seja no céu, ou na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), para nós, no entanto, só há um Deus, o Pai, do qual procedem todas as coisas, e nós somos para ele; e um Senhor, Jesus Cristo, por meio do qual são todas as coisas, e nós por meio dele». Assim Paulo está considerando-se, uma vez mais aqui, entre os fortes na fé.

Mas, atenção ao que diz no 7: «Mas nem em todos há este conhecimento», nem em todos há esta revelação de que um ídolo nada é. «…porque alguns, habituados até aqui aos ídolos, comem como sacrificado a ídolos, e a sua consciência, sendo fraca, se contamina». Ou seja, um fraco na fé é alguém que é de consciência frágil; não que tenha pouca fé, mas tem uma consciência fraca. Esse é um fraco na fé.

«Ora a comida não nos faz mais aceitos diante de Deus; pois nem porque comemos, seremos mais, nem porque não comemos, seremos menos. Mas olhem que esta sua liberdade não venha a ser tropeço para os fracos» (V. 8-9). De que fracos está falando aqui? Dos fracos de consciência, que são os que Paulo, em Romanos 14, chama fracos na fé.

«Porque se alguém te vir a ti, que tem conhecimento, sentado à mesa em um lugar de ídolos, a consciência daquele que é fraco, não será estimulada a comer do sacrificado aos ídolos? E por teu conhecimento, se perderá o irmão fraco por quem Cristo morreu. Desta maneira, pois, pecando contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, contra Cristo pecais. Por isso, se a comida for para o meu irmão ocasião de cair, não comerei carne jamais, para não pôr tropeço a meu irmão» (10-13).

E o que quer dizer que um irmão é de consciência fraca? Que tem uma consciência sensível. Poderíamos comparar a consciência com um semáforo, que quando ela considera que algo é pecado, liga a luz vermelha; e quando considera que o que alguém está fazendo está correto, então acende a luz verde, e confirma a essa pessoa que siga em frente.

No caso de um irmão fraco na fé, tem uma consciência muito sensível, e por qualquer coisa a sua consciência acende a luz vermelha, e o acusa de que está pecando. Consciência fraca significa consciência muito sensível.

Nessa época, no que vimos em Romanos 14, Paulo põe este exemplo da comida, das coisas sacrificadas aos ídolos, mas hoje em dia, no contexto atual, há também muitas coisas em que a Escritura não se pronunciou explicitamente, nem define se moralmente são boas ou são más. E, portanto, como não são consideradas explicitamente na Bíblia, aquele que é de consciência fraca, ainda que essas coisas não estejam explicitamente censuradas na Bíblia, a ele lhe acende a luz vermelha e a sua consciência lhe diz que isso é pecado. E, portanto, o irmão vive restringido em grande maneira, porque sua consciência sensível está permanentemente acusando-o de que isso que está fazendo é mau, mesmo que a Escritura explicitamente não censura esse tema discutível ou essa coisa opinável.

Voltando para Romanos 14, então, Paulo colocou um exemplo daquela época, o exemplo deste irmão que, por ser fraco na fé, por ter uma consciência fraca, por crer que os ídolos são algo, então ele, se for comer carne sacrificada aos ídolos, a sua consciência vai se poluir, ela vai acusá-lo, e ele vai considerar que está pecando.

Em seguida Paulo põe outro exemplo em Romanos 14:5, algo que também era tema polêmico naquela época. Diz: «Uns fazem diferença entre dia e dia». Quem é este, o fraco na fé ou o forte na fé? Quem é o que faz diferença entre dia e dia? O fraco na fé. Nós dizemos: ‘Os adventistas, que querem nos dizer que no sábado é o grande dia, é o dia do Senhor e é o dia que temos que guardar’. E nós, o que dizemos? Nós dizemos que é o domingo?

«Uns fazem diferença entre dia e dia» – o fraco na fé. «…outro julga iguais todos os dias» – o forte na fé. O forte na fé não diz que o sábado é o dia do Senhor. E tampouco, quando conversa com os adventistas, diz: ‘Não, não é o sábado; é o domingo’. Não, este julga iguais todos os dias.

Temas discutíveis hoje

Em nosso contexto, irmãos, não andamos brigando pelos dias, nem tampouco andamos brigando se podemos comer legumes ou de tudo. Ao contrário, sentimos falta da carne; se pudéssemos, comeríamos mais. Mas em nosso contexto, nós, os que estamos aqui –porque a igreja segue sendo formada por fracos na fé e fortes na fé–, que coisas são temas discutíveis hoje? Que coisas são coisas opináveis hoje, que não estão explicitamente sancionadas na Escritura?

Eu tenho feito uma pequena lista. Tenham misericórdia de mim, porque está um pouco improvisada, assim pode ser que de algumas destas coisas você diga: ‘Irmão, não deveria estar nesta lista’. Mas em geral, no meu modo de ver, estas coisas não estão explicitamente tratadas na Escritura:

Podemos beber um pouco de vinho? Para falar a verdade, isto está mencionado na Escritura, mas o pus na lista, porque aqui no Chile é um tema discutível. Há uma grande percentagem de irmãos evangélicos que postulam que não devemos beber nem um pouco de álcool. Eu fui amigo de um pastor, que estando sentado à mesa com ele, serviram-nos uma sobremesa que tinha um pouco de licor. E quando ele percebeu o aroma, perguntou: ‘Isto tem licor, algum grau de álcool?’, disseram-lhe que sim, e ele não se serviu.

Agora, eu não bebo álcool, por isso não estou fazendo uma apologia interessada disto. Mas a Escritura diz, falando dos anciões, que eles deveriam ser exemplos do rebanho, diz que não sejam dados ao vinho. E o que significa isso? A NVI diz que não deve embebedar-se, e isso é que está claramente sancionado na Escritura. Nenhum filho de Deus deve embebedar-se com álcool; mas isso não é o mesmo que dizer que não se possa beber um pouco de vinho.

E quando fala dos diáconos diz que não seja amigo de muito vinho. E estamos todos de acordo, não é certo? Mas no Chile é um tema discutível; não sei em outros países, não sei em outros contextos. Mas aqui é um tema polêmico, portanto, alguém poderia dizer: ‘Olhe, a Bíblia é bastante clara a respeito; condena a bebedice, mas permite, até no caso dos anciões e dos diáconos, beber um pouco de vinho’. No entanto, segue sendo um tema opinável.

Podemos ir ao cinema? Este é um tema meio antigo, porque agora, como o cinema está em casa, quase é uma pergunta absurda. Mas, na época do meu pai, era um tema muito forte. Eu não podia ir ao cinema; era estritamente proibido para mim. E se eu ousasse dizer: ‘Papai, onde está na Bíblia que não se pode ir ao cinema?’, ele tiraria o cinturão, me daria uns dois açoites, e me diria: ‘Aí está’.

Podemos ir ao estádio para ver um jogo de futebol? Podemos escutar música mundana? É um tema discutível, não? Podemos dançar músicas mundanas?Podemos pôr letra cristã em música mundana? Aí sim que não, certo? ‘Qualquer outra coisa, mas isso não’. No entanto, chegou-me um CD de Los Iracundos. Eles se converteram ao Senhor. E, sabe, cantam as mesmas canções que cantavam antes; mas agora com letras cristãs.

Podemos consumir todo tipo de mantimentos, até os que podem ser nocivos para a saúde? Não há nenhum texto que diga. ‘Mas, irmão’, dirá alguém, ‘é pecado, porque você está poluindo o seu corpo, o está envenenando’. Certo? Não obstante, quantos têm bebido refrigerantes? Bebem refrigerantes que contêm aspartame e crepúsculo amarelo, que são substâncias comprovadamente cancerígenas. E ao bebê-las, você não estará poluindo o seu corpo? Não está pecando? Os que comem colesterol em excesso, os que comem açúcar ou sal em excesso, também estão poluindo o seu corpo.

Podemos celebrar os aniversários? Podemos praticar esporte? Irmão, olhe, eu creio que a unidade da igreja, e a comunhão, são afetadas por estas coisas que Paulo chama coisas opináveis, temas discutíveis. Creio que as divisões não são pelas coisas fundamentais, no qual temos que ter unidade. Mas, o que põe em perigo a comunhão e a unidade, são este tipo de coisas, temas discutíveis, coisas opináveis.

Podemos participar da política? Você que está inscrito nos registros eleitorais, e vai votar, acaso não está participando da política?

Um artista que se converte ao Senhor, pode seguir sendo artista? Uma cantora chilena se converteu ao Senhor e abandonou o mundo artístico, e começou a morrer de fome. Então, alguns que lhe aconselharam que deixasse o mundo artístico, lhe diziam: ‘Bem, vai agora cantando pelas igrejas. E ela ia pelas igrejas cantando; mas com as ofertas, se é que lhe davam, não custeava nem o aluguel da sua casa.

Um cristão pode ser de tendência política de esquerda? Se não puder ser de esquerda, pode ser de tendência política de direita? Pode um crente aspirar cargos políticos? É mais espiritual votar num mundano, por um que não é crente? Isso seria mais espiritual que votar num crente, por um irmão?

Pode um crente ser um policial, e ter que usar sua arma em determinado momento?

Pode um homem crente usar cabelo comprido? Os que vão usar a Escritura para responder este ponto me adianto para ler-lhe eu mesmo; mas não só vou ler o que fala do homem, mas também da mulher. Diz: «A própria natureza não vos ensina que ao homem lhe é desonroso deixar crescer o cabelo?» (1ª Cor. 11:14). Assim aí temos um texto para condenar aos que usam cabelo comprido. Mas, continuando, diz o versículo seguinte: «Pelo contrário, à mulher deixar crescer o cabelo lhe é honroso; porque em lugar de véu lhe é dado o cabelo» (V. 15). Assim irmã, quando você for usar algum versículo contra um irmão, cuidado, que não se torne contra você.

Podemos tomar a ceia do Senhor com várias taças? Podemos usar vários pães? Alguém vai dizer: ‘Isto está na Escritura. Diz: a taça, o pão’. Portanto, quando formos dois mil, os irmãos que estão encarregados terão que trazer um pão do porte de uma roda de carreta para cumprir assim a Escritura?

Podemos ser doadores de órgãos? Há alguns dias atrás, escutei um pastor dar uma dissertação de que não devemos ser doadores de órgãos, e dava uma série de razões do por que não. Mas alguns aprovam com entusiasmo.

Pode uma irmã pintar-se? Pode uma irmã cuidar de sua estética, indo para a academia, fazendo alguma cirurgia, colocar algum implante? Uma irmã pode usar dispositivos intra-uterino para regular os nascimentos? Na universidade, ensinaram-me que os dispositivos eram abortivos, micro-abortivos. Pode «piratear» a música cristã? Podemos usar software «pirata»?

O conselho de Paulo

Bem, etcétera, etcétera, etcétera. Impacta-me muito o que Paulo diz, como resolve estas coisas. Voltemos para Romanos 14. Paulo pôs exemplos daquela época e era bom, eu creio, que tenho mencionado alguns desta época. Em todo caso eu não pretendo lhes dizer o que é bom e que é mau em todos estes assuntos.

O que propõe Paulo como solução? Diz, em Romanos 14:5: «Uns fazem diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja plenamente convencido em sua própria mente». Que interessante é que Paulo não disse: ‘Vocês estão equivocados, e estes outros têm a razão’. Ou: ‘Tem razão o que faz diferença entre dia e dia, e está equivocado o que julga igual todos os dias’. Ou: ‘Tem razão o que come de tudo, e o que come legumes está equivocado’.

Paulo não ficou a dirimir quem estava correto ou quem incorreto. Ele disse: ‘Não. Nos temas discutíveis, nas coisas opináveis, vamos ter liberdade, e cada um atue segundo a convicção do seu coração, e vamos nos respeitar um ao outro’.

«Cada um esteja plenamente convencido em sua própria mente». Porque o importante, segundo o versículo 6, é: «quem faz caso do dia, o faz para o Senhor». Não discutamos sobre os dias, não discutamos sobre a comida, não discutamos sobre uma ou outra coisa. O importante, o que faz que algo seja espiritual é para quem faço. Comer ou beber, ou vestir-se, ou qualquer outra coisa, o importante é que façamos para a glória de Deus.

«Aquele que faz caso do dia, o faz para o Senhor; e o que não faz caso do dia, para o Senhor não o faz. Aquele que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Pois se vivemos, para o Senhor vivemos; e se morremos, para o Senhor morremos. Portanto, quer vivamos, ou morramos, somos do Senhor» (vv. 6-8). Glória ao Senhor!

Paulo era um forte na fé, sem dúvida. Eu gostaria de ter uma conversa com ele, porque, por exemplo, quando ele diz: «Tudo me é lícito…», sim, eu sei o que segue. Eu sei o que segue, mas pensem um pouquinho nisso: «Tudo me é lícito», ah? Quais são os seus limites Paulo, pois te atreves a dizer que tudo te é lícito?

Claro, «nem tudo convém, nem tudo edifica… eu não me deixarei dominar de nenhuma», mas se atreve a dizer: «Tudo me é lícito». Ou, quando escreve a Tito, lhe diz: «Todas as coisas são puras para os puros» (Tito 1:15). Ou quando diz aqui mesmo em 14:14: «Eu sei, e confio no Senhor Jesus, que nada é imundo em si mesmo; mas para o que pensa que algo é imundo, para ele o é». Ah, quão livre era Paulo?

Então, o apóstolo diz: «No que é fundamental, tenhamos unidade; mas no resto tenhamos liberdade». Cada um tenha convicção do Senhor em seu coração, e faça o que fizer, guarde o que guardar, pratique o que praticar, faça-o para a glória de Deus.

O pecado dos fortes e dos fracos na fé

Então, há uma recomendação para os fracos na fé, e uma recomendação para os fortes na fé. «quem come, não despreze o que não come». Este é o grande pecado dos que são fortes: desprezar os fracos na fé. ‘Olhe, este irmão santão, tudo é pecado para ele; não podemos viver com um irmão assim. Que bom seria que mudasse de localidade’. Como disse Paulo, por causa do irmão fraco na fé, as pessoas têm que restringir a sua liberdade; a liberdade do forte na fé está regulada pelo amor.

Mas os fracos na fé também têm o seu pecado. Diz: «…e o que não come –ou seja, o fraco na fé–, não julgue –este julgar, a NVI traduz: «…não condene»–, não condene ao que come; porque Deus o recebeu». O pecado do fraco na fé é condenar ao outro. ‘Olha, vai ao cinema; olha, foi ao estádio; olha, usa o cabelo comprido’. E o julga no sentido de condená-lo: ‘Mundano, não nasceu de novo, não é convertido, é carnal’.

«Você quem é, que julga ao servo alheio?» (V. 4). O outro irmão não é teu servo; é servo do Senhor. «Para seu próprio senhor está em pé, ou cai; mas estará firme, porque poderoso é o Senhor para lhe fazer estar firme».

No versículo 10, torna a repetir: «Mas tu, por que julgas a teu irmão?». A quem está dizendo isso? Ao fraco na fé. «Ou tu também, por que despreza a teu irmão?». A quem diz isso? Ao forte na fé. E conclui esta primeira parte dizendo: «Porque todos compareceremos perante o tribunal de Cristo».

A verdade que deve nos regular

Se houver algo que tem que nos regular, é saber que, um dia, todos vamos comparecer diante do tribunal de Cristo: «De maneira que cada um de nós dará conta de si mesma a Deus». Você terá que dar conta a Deus do por que ia ao cinema, por que praticava esportes, por que usava o cabelo comprido, por que se pintava, por que cortou o cabelo (no caso da mulher). Você dará conta de si a Deus; não aos homens, mas ao Senhor.

Creio que isso é suficiente para regular todas as nossas ações; porque aqui não vamos estabelecer medo ao homem. O que nos deve regular é o temor do Senhor. Assim, concluindo, Paulo está dizendo que cada um tenha convicção do Senhor com respeito ao que deve fazer sobre estes temas discutíveis. Cada um tenha convicção, cada um tenha fé em relação ao que deve fazer, e faça-o para o Senhor, para a glória de Deus.

Por isso, vamos nos respeitar. Os fracos na fé não condenem aos fortes na fé, e os fortes na fé não desprezem. Se não cuidarmos com estas coisas, irmãos, eu creio que a comunhão se tornará danificada na localidade. E a solução de Paulo, repito, não é que nisto tenhamos uniformidade, nem sequer unidade. Paulo está apelando à diversidade e ao respeito mútuo.

Cada irmão é respeitável em sua opinião, em sua decisão, em sua prática, nestas coisas que são temas discutíveis ou coisas opináveis. Que bom que não temos que nos uniformizar. Não devemos estabelecer uma regra igual para todos. Paulo vai por outro caminho, do respeito, do amor.

Obviamente, o maior peso levam os fortes na fé, que são chamados para suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar-se a si mesmos, porque nem mesmo Cristo se agradou a si mesmo. Assim que o exemplo de Cristo nos impele a ter respeito e consideração pelos fracos, e não ferir sua fraca consciência, porque dessa maneira pecaríamos contra Cristo.

O Senhor nos conceda graça, maturidade, sabedoria, e que estas coisas nos permitam estar atentos e vigilantes, para que a comunhão cresça e se desenvolva. Em algumas coisas, não precisamos pensar igual, para sermos irmãos e para seguirmos juntos. Graças ao Senhor por isso.

Síntese de uma mensagem ministrada em Callejones, em janeiro de 2009.

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