ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
No monte e no vale
Uma palavra a respeito da suficiência de Cristo na vida do crente.
Gonzalo Sepúlveda
Enquanto o nosso Senhor Jesus esteve na terra, fez muitos milagres em resposta às necessidades específicas das pessoas e, ao mesmo tempo, com autoridade e sabedoria entregou preciosas lições através dos mesmos milagres. Mas, especialmente com respeito aos seus discípulos, o Senhor preparou ocasiões em forma intencionada, para que nesses momentos eles pudessem receber uma impressão mais profunda da sua pessoa.
Nossa maior necessidade sempre será conhecer mais e melhor a nosso Senhor Jesus Cristo. Porque a intenção do Pai é nos dar a conhecer o seu Filho.
No capítulo 17 do evangelho de Mateus há alguns acontecimentos com os quais a maioria de nós estamos bastante familiarizados. Uma passagem paralela de Lucas relata os mesmos atos, mas com alguns detalhes que ajudam à compreensão: «Aconteceu como oito dias depois destas palavras, que tomou a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte para orar» (Luc. 9:28). O relato de Mateus diz que Jesus tomou os três e os levou à parte, a um alto monte. Mas aqui, o propósito está bem definido: subiu com eles ao monte, para orar.
A expressão «depois destas palavras» menciona claramente à dura repreensão que Pedro recebeu após repreender o Senhor: «Retira-te de diante de mim, Satanás! Me éres tropeço, porque não põe atenção nas coisas de Deus, mas sim nas dos homens». E em seguida lhes diz: «Que aproveitará ao homem, se ganhar todo o mundo, e perder a sua alma?».
Ao dizer estas palavras, o Senhor estava revelando a intenção, a razão de viver dos homens, quer dizer, ‘ganhar o mundo’, ganhar fama, ter uma vida boa, lutar pelas coisas deste mundo. Então, a alegria ou as dores deste mundo’, são o tudo do homem.
Depois de ter falado estas palavras, para lhes consolar, para dar-se há conhecer um pouco mais, para marcar a diferença entre o que é do mundo e o que é de Deus, o Senhor os toma aparte e sobe com eles ao monte para orar.
Para subir ao monte, terá que deixar o vale. Avançaram para o monte; foram de um plano a outro plano. Isto seria como o Senhor querendo nos dizer: ‘Olha, você vive em um plano de coisas, preocupado só com as coisas terrestres. Eu te levarei a outro plano’. Bem-aventurados os que já foram levados a um plano mais elevado!
Mateus diz: «…e se transfigurou diante deles». Lucas completa a idéia: «E enquanto orava, a aparência do seu rosto se fez outra, e seu vestido branco e resplandecente. E eis que dois varões que falavam com ele, os quais eram Moisés e Elias; que apareceu rodeado de glória, e falavam da sua partida, que Jesus ia cumprir em Jerusalém».
O olhar do Senhor não estava para baixo, mas do monte para cima, orando. E enquanto orava, o seu rosto se torna «como o sol quando resplandece». Não há outra coisa com o que compará-lo. Quando olhamos o sol, embora seja só uma fração de segundo, temos que fechar os olhos, porque o seu resplendor nos cega.
Recordem o que dissemos no princípio: Os discípulos não pediram para ir ao monte; mas o Senhor conhecia a necessidade deles. Assim acontece conosco. Eu penso que necessito algo, mas minha visão é muito estreita e minha capacidade muito limitada. No entanto, o Senhor sabe o que realmente necessito!
O Senhor sabia que esses discípulos precisavam conhecer algo mais profundo. Até aí, estavam conhecendo o Senhor de uma maneira muito limitada. Por exemplo, quando o Senhor falou de morrer, eles quiseram detê-lo, porque para eles, a longevidade, viver muitos anos na terra, era um valor irrenunciável. Se essa vida se interromper… Não, não pode ser! A visão deles era limitada.
Mas o Senhor tinha propósitos mais elevados. Era necessário que ele morresse pela humanidade inteira, que na cruz pudesse vencer a Satanás o diabo, que pudesse perdoar os pecados de todos os homens, ressuscitar ao terceiro dia, subir aos céus, e de lá enviar o Espírito Santo, e vir ser o Sumo Sacerdote que intercede por todos os homens. Que distinta a visão humana da visão divina!
Então, o Senhor nos ajuda a sair deste plano, para outro plano mais elevado. E ali, no monte, eles tiveram uma revelação, um conhecimento do Senhor Jesus que nunca podiam imaginar. Viram o Senhor de uma maneira maravilhosa, preciosa.
«E eis que, apareceram-lhes Moisés e Elias…». Moisés e Elias são personagens proeminentes do Antigo Testamento. Elias, o grande profeta que fez descer fogo do céu; e Moisés, o homem que esteve quarenta dias com o Senhor no monte Sinai, e ali recebeu as tábuas da lei, e o desenho de um tabernáculo onde os homens teriam que ir para procurar o favor de Deus.
Mas eles não aparecem para nos levar de volta para o regime do Antigo Pacto. Agora, no Novo Pacto, aparecem estes homens falando com o Senhor a respeito da cruz. O tema da conversa era «a partida do Senhor», o que ele ia viver em Jerusalém. Que precioso é este relato, porque não deixa lugar para a nossa imaginação, mas abunda em detalhes. Moisés está falando da cruz de Cristo; Elias não está recordando velhos tempos, a sua atenção está no que vai ocorrer com o Senhor Jesus quando for crucificado.
Toda a atenção está na pessoa do Senhor. Ele aparece glorioso, resplandecente. Neste relato, a única pessoa que não está focado só em Cristo é Pedro. Pedro nos representa, em nossa fraqueza. Deixamos-nos impressionar pelas luzes; confundimo-nos diante das coisas que nos parecem espetaculares e essa confusão nos leva a pôr a ênfase em assuntos secundários.
Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é para nós que estejamos aqui; e façamos três cabanas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias; não sabendo o que dizia» (Luc. 9:33). Então, como o Pai viu que a atenção estava se desviando, interveio. Fez Pedro se calar, e disse estas palavras que ressonam com plena vigência até hoje: «Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência; a ele ouvi».
Ficou corrigida a ‘boa intenção’ do homem. Tudo ficou centrado no Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Glória ao Senhor! Moisés e Elias, centrados em Cristo; os olhos dos discípulos, centrados em Cristo. «Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência; a ele ouvi».
Você está ouvindo ao Filho de Deus? Está pondo a atenção em Jesus Cristo, o Filho de Deus? Onde têm postos os seus olhos? O que é que enche o seu coração? O que é que mais preocupa a você? Se não for Cristo, você perdeu o rumo na vida.
Nos dias de Moisés, o povo necessitava uma lei e um tabernáculo. Hoje em dia, tudo o que o homem precisa é o Filho de Deus. A humanidade não necessita de tabernáculos nem de cerimônias. Necessita o Filho! Não necessitam de instruções religiosas. Necessitam de uma Pessoa, a Jesus Cristo, o Filho de Deus!
Se você conhecer essa Pessoa, você não necessita de mais nada; se você é guiado por essa Pessoa, você nunca se equivocará; se você for sustentado por essa Pessoa, você nunca cairá; se é guardado por essa Pessoa, nada será derrubado. Tudo o que você precisa é o Senhor Jesus Cristo! Esta é a voz de Deus. Que preciosa é a experiência do monte; que precioso é ir estar com o Senhor! Nos tempos antigos, tivemos um solitário Moisés no Sinai; agora acudiram Pedro, João e Tiago, os três junto ao Senhor orando no monte. É um novo tempo, um novo pacto, é o dia do corpo e não dos indivíduos.
Quando você se reúne com os irmãos, não é verdade que sente mais a presença do Senhor? Hoje em dia, a oração de um irmão, mais a oração do outro irmão e o testemunho de outra irmã, mais a canção dos irmãos, elevam o nosso coração. Refrescam-nos o coração, e fechamos os nossos olhos, e elevamos a nossa voz. E se cumpre a palavra: «Onde estão dois ou três congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles». Que precioso é ter comunhão uns com os outros, no Senhor! Este é o monte. Que grande provisão há no monte!
No vale
Se voltarmos para o relato em Mateus capítulo 17, nos encontramos com outra cena. No versículo 9 diz: «Quando descenderam do monte…». O evangelho de Marcos acrescenta outros elementos: «Quando chegou onde estavam os discípulos, viu uma grande multidão ao redor deles, e escribas que disputavam com eles… Ele lhes perguntou: O que disputais com eles?» (Marcos 9:14, 16).
«Quando chegaram à multidão, veio a ele um homem que se ajoelhou diante dele, dizendo: Senhor tem misericórdia do meu filho, que é lunático, e padece muitíssimo; porque muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água. E o trouxe para os seus discípulos, mas não puderam curá-lo. Respondendo Jesus, disse: Oh geração incrédula e perversa! Até quando tenho que estar convosco? Até quando vos tenho que suportar? E repreendeu Jesus ao demônio, o qual saiu do moço, e este ficou são desde àquela hora. Vindo então os discípulos a Jesus, à parte, disseram: por que nós não pudemos expulsá-lo? Jesus lhes disse: Por sua pouca fé; porque em verdade vos digo, que se tiveres fé como um grão de mostarda, dirão a este monte: passe-te daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível. Mas esta casta de demônios não sai senão com oração e jejum» (Mateus 17:14-21).
Aqui está o outro plano. Tratemos de observar a cena. Recordemos que no monte havia paz; no monte estava a glória do Senhor, a voz do céu e o Filho resplandecente.
Que preciosa cena a do monte! Mas, que tremendo contraste com o vale! Chega uma pessoa agoniada… Que problema! Tem um filho lunático, diabólico. Que aflição para esse pai que procurava ajuda! Os escribas não a deram; os discípulos, impotentes, fracos, foram incapazes de lhe socorrer. E o que dizer do moço! O demônio queria lhe matar.
A morte estava no vale. A morte, a enfermidade, o próprio diabo; as discussões inúteis dos homens. Uma multidão desordenada, uma geração incrédula. O Senhor os repreende a todos. Sem discussão, o Senhor ama a todas as pessoas; mas quando diz isto, está repreendendo a incredulidade das pessoas, esse coração perverso que deixa o Senhor de fora. Tal é o vale.
Uma pergunta: Qual é o seu vale? O que há no seu vale, esse vale da sua alma; esse vale da sua própria vida, do seu coração? Será que a sua experiência não se parece muito a isto que acabamos de ler? Aí estão todas as frustrações do homem, os seus problemas, o pranto de um, a necessidade do outro, que procura ajuda e não a encontra… Esse é o mundo.
Por certo o mundo também tem os seus encantos. Mas o mundo, no final das contas, é uma frustração permanente. Não estranhemos que haja dores, angústias, frustrações, enfermidades e tantas coisas amargas. Essa é a vida do homem.
Mas, irmãos, o que fez o Senhor Jesus quando chegou ao vale? Que precioso! Ele vem descendo do monte. Que autoridade a do nosso Senhor! Em primeiro lugar, repreende os seus discípulos. «O que fazem, disputando inutilmente com os escribas?». O Senhor começou a pôr ordem. Em seguida, vem um homem aflito, que reclama: «Os seus discípulos não foram capazes de me ajudar». E o Senhor atende ao homem. É maravilhoso o Senhor, que, no meio da multidão, atende uma necessidade particular; entre milhares, lembra-se de um.
Será que, entre as centenas que estão aqui, haverá uma necessidade que o Senhor está disposto a atender agora mesmo? O Senhor não a postergou, não lhe disse: ‘Olhe, vou mandar os meus discípulos que visitem a sua casa, e você deverá abrir o seu coração para eles’. Não lhe pôs nenhum impedimento. Atendeu-o imediatamente: «tragam-me para cá».
E o trouxeram. E o Senhor não tratou com o menino, tratou com o demônio! E o jovem «ficou são desde aquela hora». Nós tem um Senhor que é poderoso; quando ele manda, os homens têm que obedecer; os demônios têm que fugir. O Filho de Deus curou o filho de um homem. Assim é o Senhor. Quando ele vem para o vale, traz ordem, saúde e vida.
A angústia desse pai terminou nesse instante, quando se encontrou com Jesus. Antes tinha falado com os discípulos, e tinha ficado frustrado. Talvez você já tenha ficado frustrado com algum cristão. Talvez alguém de nós, em um momento de fraqueza, pôde havê-lo decepcionado terrivelmente. Mas a boa notícia é que há Alguém que não lhe decepcionará jamais! Há consolo para você, que tem ficado decepcionado muitas vezes. Venha ao Senhor!
Como sofre um pai pela dor de um filho, pela enfermidade de um filho! Se o filho não dormia, o pai não dormia; em sua casa não havia repouso. Qual é a sua enfermidade? Há alguém que depende de ti, a quem não pode ajudar? Está procurando ajuda para alguém que depende de ti?
Quantas pessoas dependem de ti? Filhos, sobrinhos, netos? Você tem que iluminá-los. E, com que luz vai lhes iluminar? Necessitas do Senhor! Talvez haja um caos em sua casa e você mesmo é o culpado desse caos. Você mesmo necessita do Senhor! Este pai necessitava de Cristo. É verdade que o moço necessitava de Cristo; mas parece que o pai necessitava mais ainda. Bendito seja o Senhor, que tem solução, que tem poder para curar a esse filho em um instante! Esse é o nosso Senhor!
Há caos no vale; há caos no seu vale. Mas eis aqui, há um Salvador, que não só desceu do monte. Na realidade, ele veio da eternidade a este mundo, para que você e eu o conheçamos. O que os discípulos precisavam era ter perto o seu Mestre; o pai deste menino necessitava de Cristo; o que este doente precisava era de Cristo.
Eu necessito mais de Cristo, quando a vida me confunde, quando torna difícil o caminhar, quando não faço bem as coisas. A dolorosa verdade é que todos os que estamos aqui somos peritos em fazer mal as coisas. Ou nos adiantamos, ou paramos; nos zangamos quando não devemos; falamos mais do que deveríamos; tomamos decisões apressadas, depois lamentamos; ferimos com nossas palavras, com nossas atitudes – até com nossos silêncios. Somos peritos em deixar tudo a perder.
Dos trôpegos que há aqui, declaro-me o primeiro. Sem o Senhor, não sei o que seria deste homem; estaria cheio de desgraças; sem Cristo, este mundo seria um vale insofrível. Como pode alguém viver sem Cristo! A sua vida, a sua família, a sua pessoa, a sua alma, pode ser um caos permanente, a menos que o Senhor venha pôr em ordem o que você e eu necessitamos.
É verdade que você necessita de saúde, mas na realidade necessita de Cristo. O Senhor não mandou a saúde do céu, mandou ao seu Filho, e seu Filho é o que cura. O Senhor não mandou uma correta religião para praticar; mandou a seu Filho, para que o seu Filho nos levasse ao Pai, e então adorássemos a Deus com todo o nosso coração. Bendito seja Deus, que deu a seu Filho!
O Senhor, a voz mais autorizada do universo, o Criador de tudo o que há, o Pai que nos deu vida e existência a todos, que faz sair este sol, que mantém a temperatura do planeta, que nos alimenta cada dia, o Deus diante do qual nos enfrentaremos um dia face a face, ele tem dito: «Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência; a ele ouvi».
Nossa atenção está no Filho, sempre no Filho. Não nos distraiamos com nada. Deus tem dito: «A ele ouvi». E esse: «A ele ouvi», pode ser também: «Recebam a ele». E, se ouvirmos o Filho, o Filho disse estas palavras: «Aquele que me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos morada com ele». O Filho tem dito: «Aquele que me recebe, recebe aquele que me enviou».
Se você não tiver o Senhor em sua vida, como enfrentará a vida? E mais ainda, como enfrentará a sua morte? Como enfrentará esse momento sem o Senhor? Como vai viver na próxima semana? Como viverá no próximo dia? Como enfrentará o próximo conflito que virá sobre você?
Nossa vida não consiste nos bens que temos; a nossa vida é Cristo. Não consiste em quão boas férias ou que dias melhores teremos, porque para nós o viver é Cristo. Bendito seja o Senhor! E a nossa comunhão com os irmãos é em Cristo. E reconhecemos os que são filhos de Deus, e o mais precioso é estar juntos, orando juntos. Então o Senhor ‘nos transfigura’. E quando algo não está claro, ele põe ordem. Obrigado, Senhor!
O Senhor convida hoje. Está no vale, mas agora ele está te convidando para o seu monte. Ele desce até o seu vale. Qual é a sua dor? Não há dor que ele não possa curar. Há algo que te domina, você tem algo que tem procurado superar por todos os meios, mas que ainda te controla? Que hoje Satanás perca, e você seja livre para o Senhor; que à partir de hoje, a sua vida seja uma vida de Cristo e para Cristo.
«Bom é para nós que estejamos aqui», disse Pedro. Até aí, estava bem. É bom para nós estar com o Senhor no monte; mas é bom estar também ao lado do doente, ao lado do aflito. No monte vemos quão glorioso, poderoso e maravilhoso é o Senhor; aprovisionamo-nos nele, e logo descemos com ele «ao vale deste mundo», para abençoar a quem jaze aprisionado nas trevas. No monte e no vale, mas com Cristo sempre. Bem-aventurados são aqueles que vivem esta experiência continuamente!
Mensagem evangelística compartilhada em Temuco, em Dezembro de 2008.