ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Jesus Cristo:
Rei dos reis e Senhor dos senhores
Um enfoque bíblico sobre a autoridade secular.
Rubén Chacón
Vamos ler no livro de Apocalipse, o capítulo 19, dos versículos 11 ao 16, embora iremos atentar apenas para o versículo 16. Todos os comentaristas concordam em que o que temos aqui, é a descrição da segunda vinda de Cristo à terra. E como é próprio do livro de Apocalipse, isto se faz através de símbolos, figuras e metáforas, que longe de pretender obscurecer o relato, procuram fazê-lo mais claro e compreensível.
Leiamos: «Então vi o céu aberto; e eis um cavalo branco, e o que o montava se chamava Fiel e Verdadeiro, e com justiça julga e peleja. Os seus olhos eram como chama de fogo, e havia em sua cabeça muitos diademas; e tinha um nome escrito que ninguém conhecia senão ele mesmo. Estava vestido de uma roupa salpicada em sangue; e seu nome é: O VERBO DE DEUS. E os exércitos celestiais, vestidos de linho muito fino, branco e limpo, seguiam-no em cavalos brancos. De sua boca sai uma espada aguda, para ferir com ela às nações, e ele as regerá com vara de ferro; e ele pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E em sua vestidura e em sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES».
A ordem criacionista de Deus
Quase sempre que fazemos alusão a este nome de Cristo, «Rei dos reis e Senhor dos senhores», fazemo-lo para ressaltar o fato que Jesus Cristo está acima dos reis e senhores deste mundo. O qual é certo e, com efeito, é a idéia central do texto. Jesus Cristo é o Rei dos reis e é o Senhor dos senhores. Não obstante, poucas vezes percebemos que neste glorioso título de Cristo há um reconhecimento implícito da existência de reis e senhores no mundo. E não só um reconhecimento de sua existência, mas também um reconhecimento implícito de sua legitimidade. É legítimo que existam reis e senhores no mundo. Quer dizer, não é contrário à lei de Deus que haja reis e senhores no mundo. Justamente o contrário, a sua existência obedece à ordem criacionista de Deus. Com efeito, quando o apóstolo Paulo declara em Colossenses 1:16 que em Cristo «foram criadas todas as coisas, as que existem nos céus e as que existem na terra, visíveis e invisíveis», afirma que entre todas essas coisas criadas estão os tronos (gr. thronos), os domínios (gr. kuriotes), os principados (gr. arjé) e as potestades (gr. exousía).
O que são estas coisas? São classes de autoridade estabelecida pelo próprio Criador, não só no âmbito espiritual ou angelical, mas também no mundo terrestre, como veremos a seguir na carta aos Romanos. Deus, que é o único ser em todo o universo que possui autoridade de maneira própria e absoluta, estabeleceu ou criou estes níveis ou posições de autoridade no universo. Os que ocupam estes cargos exercem, pois, uma autoridade delegada pelo próprio Deus. Por esta razão, Romanos 13:1, declara que não há autoridade senão da parte de Deus (ou como diz outra versão, «não há autoridade que não venha de Deus»), e as que existem, foram estabelecidas por Deus.
E continua o apóstolo: «De modo que quem se opõe à autoridade, ao estabelecido por Deus resiste». A atitude cristã correta, então, para as autoridades superiores é como diz Paulo, a da submissão: «Toda pessoa submeta-se às exousías superiores». Notem que aqui o texto está se referindo às exousías terrestres e não às do mundo espiritual ou angelical.De fato no versículo 3 chama os magistrados «arjontes», termo que também aparece no texto de Colossenses 1:16.
Mas a propósito da expressão, «toda pessoa submeta-se às autoridades superiores», convém destacar neste ponto, a diferença entre submissão e obediência. A submissão é uma atitude e deve, portanto, ser absoluta; a obediência, ao contrário, é uma ação pontual e não necessariamente absoluta, porque quando uma autoridade terrestre transgride a autoridade de Deus, aos crentes não fica outra alternativa a não ser antes obedecer a Deus do que aos homens. Somente a Deus devemos uma submissão e uma obediência absoluta. A obediência aos homens, incluída a obediência aos pastores, é que não transgridam a lei de Deus.
A supremacia de Cristo
Então, com a mesma força que as Escrituras reconhecem a existência, a validez e a legitimidade dos reis e senhores no mundo, classes de autoridade que hoje chamamos presidentes, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, etc., a Palavra de Deus, com a mesma força e ainda com maior força, estabelece que esses reis e esses senhores tem um Rei e um Senhor sobre eles. E esse Rei e esse Senhor é o nosso bendito Jesus Cristo. Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Jesus Cristo é o Presidente dos presidentes, o Senador dos senadores, o Deputado dos deputados, o Prefeito dos prefeitos e o Vereador dos vereadores.
Por isso, Romanos 13:4, 6 declara que os reis e senhores com respeito a Deus, não são outra coisa que servidores de Deus. No âmbito terrestre e com respeito a outros homens, são reis e senhores; mas diante de Deus, são servos (gr. diáconos). Três vezes se estabelece no texto que são servidores de Deus. É por este fato que no texto de Colossenses 1:16 que comentávamos anteriormente, não só se estabelece que todas as coisas foram criadas em Cristo, mas também diz além disso que foram criadas por meio dele e para ele.
Em Romanos 15:16 Paulo se declara a si mesmo ministro de Jesus Cristo. E aqui usa o mesmo termo grego que em Romanos 13:6 (gr. leitourgos), mas com uma diferença. Enquanto os governantes são leitourgos de Deus, Paulo é leitourgos de Cristo. Por quê? Porque Paulo e os crentes em geral são seguidores de nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, somos servidores de Cristo. Mas uma autoridade terrestre não necessariamente é cristã e, não obstante –e isto é assombroso–, é de todas as maneiras um servidor de Deus, responsável diante do Criador.
Portanto, as autoridades seculares, no exercício de sua autoridade, são chamadas e impelidas a servir a Deus. A autoridade que eles exercem não é própria nem inerente para eles. É autoridade delegada por Deus, que lhes exige representá-la bem e da qual terão que dar conta, não só aos homens, mas também especialmente a Deus. Todo servo deve prestar contas a seu senhor. De maneira que ao ocupar um cargo de serviço público, a primeira lealdade não é com a pátria nem com o estado, nem com os homens, mas com Deus, a quem são chamados a servir e a representar.