ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
A vida de fruto abundante
Chaves escriturísticas e práticas para uma vida de frutificação.
Rodrigo Abarca
O Senhor nos ensina em João capítulo 15 o segredo de uma vida cristã frutífera diante de Deus. É importante enfatizar o que falamos por último, pois nem sempre o que os homens consideram como «fruto», o é de verdade aos olhos de nosso Deus e Pai. Aqui se trata, então, do fruto que tem valor em primeiro lugar para Deus, e que ele está procurando em nós.
A vontade do Pai, diz-nos o Senhor Jesus, é que demos muito fruto. Esse fruto tem haver com a realização de todos os seus pensamentos e planos com respeito a nós. É o fruto de sua vontade cumprida em nós. Não se trata da realização dos nossos planos e desejos, mas sim dos seus. E há entre ambas as coisas um universo de diferença. De fato, o fruto abundante se obtém, como veremos, no caminho oposto aos desejos da nossa alma caída.
Nunca foi o desejo de nosso Pai que tivéssemos vidas infrutíferas. Pois, a esterilidade de nossas vidas tem a sua causa em nós mesmos e não nele. De acordo com o Senhor, o normal é que os seus discípulos dêem muito fruto: «Vos escolhi para que vá e dêem fruto» (João 15:16). Mas, não em virtude de alguma capacidade ou habilidade inerente a eles mesmos, mas Dele mesmo, em quem o Pai tem posto. Estamos nele, como os ramos estão na videira; unidos a ela e formando parte dela. Este é o segredo de toda frutificação. Ele é a videira e nós os ramos. E, porque estamos nele, Deus espera que demos muito fruto.
A videira estéril de Israel
Em contraste, a antiga videira terrena de Israel (segundo a carne) não pôde dar fruto porque não permaneceu nele. Em Isaías capítulo 5 encontramos a história de Israel contada, justamente, como uma parábola a respeito da videira. Ali descobrimos que Deus, como perito Lavrador, proveu todas as condições materiais e meio-ambientais para que Israel desse fruto: plantou-a em uma terra fértil com as melhores cepas; colocou uma cerca ao seu redor para protegê-la dos animais e intrusos; e edificou no meio dela uma torre de vigia, para guardá-la dos ladrões. No entanto, e apesar de todo esse esforço, a videira só produziu uvas silvestres, uvas azedas, que não se podem comer, nem tampouco usar para produzir vinho. Em seguida vem a pergunta de Deus: «Que mais se pode fazer por minha vinha, que eu não tenha feito por ela? Por que, quando esperava que produzisse uvas boas, produziu uvas silvestres?» (Is. 5: 4, LBLA). As perguntas são retóricas, e a resposta é, até este ponto, «nada mais». Pois tudo o que se podia fazer externamente, foi feito por Deus. O problema não está nos elementos exteriores, mas na própria videira. O homem por si mesmo, ainda em seus melhores momentos, é absolutamente estéril para Deus.
A história de Israel é uma grande lição a este respeito. O homem terreno não é uma boa videira para Deus. O melhor que pode produzir, ainda com o socorro de Deus, são uvas silvestres. Por isso, era necessário aqui uma obra muito mais radical. Desta forma Deus proveu uma boa videira, em contraste com a antiga, vale dizer, um novo homem em Cristo e nos enxertou nele. Fomos cortados do Adão terreno e enxertados em Cristo. Uma velha humanidade acabou e uma nova se levantou em Cristo. Agora estamos unidos a ele, tão real e intimamente, como a vara à videira. Em conseqüência, podemos dar fruto para Deus.
«O vara de si mesma não pode dar fruto», disse-nos o Senhor. Esta é uma lição fundamental que todos precisamos aprender. O poder, a capacidade, a força para frutificar não está na própria vara, mas na videira que a sustenta. Na verdade, a vara é completamente estéril e inútil separada da videira. Como sabemos, os ramos são os ganchos onde crescem os cachos de uva. Mas estes recebem a sua vida, força e alimento da videira. Todos os anos, depois do inverno, os ramos da videira, ou ramos, cobrem-se de folhas verdes e se preparam para dar fruto. Antes disso, no final do verão, foram podados e reduzidos a uma expressão quase mínima.
Qualquer leigo na matéria pensaria que é um engano reduzir assim os ramos da videira e deixá-las tão pequenas. Como poderia algo tão pequeno dar muito fruto no próximo verão? Mas, precisamente disso se trata. Quanto menos ramos ficar, mais força e vida da videira receberão na próxima estação, para dar fruto.
O ensino do Senhor é singelo, mas ao mesmo tempo muito profundo. Quase todos os elementos da vida cristã estão representados aqui. O mais básico e fundamental é que não há poder em nós mesmos para dar fruto. Nada pode mudar este fato. A nossa parte aqui é simplesmente aceitar o veredicto de Deus. A razão pela qual tantos de nós vivemos vidas estéreis ou com muito pouco fruto resulta em nossa incapacidade para compreender e aceitar o veredicto divino sobre a nossa natureza humana. De algum modo, continuamos crendo que a vida e os serviços cristãos são produto do nosso próprio esforço e iniciativa, e como conseqüência, fracassamos uma e outra vez.
O ensino de Paulo
O apóstolo Paulo aprendeu esta lição bem cedo em sua vida cristã. De fato, para referir-se a nossa natureza humana caída e todo seu inútil esforço de agradar a Deus, ele usa a palavra «carne». E nos disse a respeito dela que, «os que estão na carne não podem agradar a Deus» (Rom. 8:8, LBLA), e isso, porque «o desejo da carne é contra o Espírito» (Gal. 5:17a). A carne e o Espírito são antagônicos, segundo o apóstolo. Onde governa um, não pode governar o outro. Os dois não podem concorrer simultaneamente na vida de um filho de Deus. Este parece ser um axioma da vida espiritual. Por isso, Paulo descreve a vida vivida sob a lei como «agradar na carne» (Gal. 6:12), em oposição à vida no Espírito, livre da escravidão da lei.
Com efeito, Israel se encontrava sob o pacto da lei, cujo fundamento era a capacidade humana para fazer e realizar os mandamentos de Deus. Mas isso se revelou finalmente como uma videira estéril, incapaz de dar fruto para Deus. O problema, diz-nos o apóstolo, não estava na lei, que é santa, pura e boa, mas no próprio homem, que é carnal e vendido ao pecado. Em sua tentativa de guardar a lei, a nação de Israel descobriu o seu fracasso.
Portanto, o homem necessita de um poder e uma vida superior a si mesmo, a fim de ser útil para Deus. Essa é a vida de Cristo ressuscitado. É, também, a vida que ministra o Espírito. É a vida que a videira comunica aos seus ramos. Estar «na carne» é o oposto, como se tem dito, a esta vida do Espírito.
De fato, «a carne» é para Paulo a condição básica do homem sem Cristo. Trata-se da natureza humana em seu estado não regenerado. Nesse estado, a alma se mantém em permanente rebelião e autonomia com respeito a Deus. Tal é a condição que o pecado produziu em nossa natureza. Por isso, Paulo a chama também de homem natural (do grego, psikikos, isto é, dominado pela alma), em contraste com a nossa nova condição em Cristo, que é espiritual (do grego, pneumatikos, isto é, dominado pelo Espírito). O pecado é raiz da dita autonomia «na carne». Por esta razão, a carne não pode agradar a Deus, já que é impotente para fazê-lo. Não no sentido de que é fraca para fazê-lo (quer, mas não pode), mas além disso, porque é antagônica ao Espírito de Deus (não quer, nem pode).
Este é, sem dúvida, um grande descobrimento. No dia em que os nossos olhos são abertos para vermos quão aborrecível e perversa é a nossa carne, estamos no caminho da nossa libertação. Esse dia aceitamos o veredicto de Deus sobre ela, e consentimos em sua completa anulação. Podemos clamar com o apóstolo Paulo: «Miserável de mim!», ao descobrir nossa bancarrota total. Nesse momento, vemos que é impossível para nós, em e por nós mesmos, viver uma vida que agrade a Deus. Pois em nós e por nós mesmos não somos senão «carne». Não só o mal em nós é «carne»; também o bom o é.
De fato, a carne não só tem relação com as obras pecaminosas, mas também com tudo o que fazemos a partir de nós mesmos. A justiça, o serviço, e tudo o que de bom procede de nós mesmos além do Espírito de Deus, cai dentro da esfera da carne e sua atividade. E Deus o rejeita. Pois, «os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus» (Romanos 8:8).
É importante compreender que a carne não é só aquilo que em nós tem haver com o pecado, mas também tudo aquilo que surge da nossa natureza humana caída. Isto também é inútil para Deus. Por esta razão, o apóstolo Paulo nos diz que existem cristãos carnais. Vale dizer, cristãos que ainda vivem como se fossem homens naturais (psiquikos, 1ª Coríntios 2:14), sendo eles espirituais (pneumatikos, 1ª Coríntios 2:15). «Não sois carnais e andais como homens?», repreende os Coríntios porque se dividiram em diferentes facções. Portanto, o importante é que carnal aqui equivale a ser simplesmente um homem. Isto, porque no pensamento paulino, o homem no seu estado natural não é nada mais que «carne», tal como afirma Gênesis: «Não contenderás o meu espírito para sempre com o homem, porque certamente ele é carne» (Gênesis 6:3). Quer dizer, não possui um espírito (ou este se encontra inativo), e está dominado pela vida da sua alma. Vive uma vida centrada no eu; seus interesses e desejos são totalmente opostos a Deus. O homem neste estado é, por natureza, inimigo de Deus.
Deste modo, se os crentes derem lugar à carne, andam simplesmente como homens naturais, e atuam como inimigos de Deus.
Assim sendo, em Cristo, o homem é possuidor de uma vida inteiramente nova e diferente: a vida do Espírito. Se essa vida vem a ser, como deve, o elemento central e dominante do seu caráter e conduta, nos diz que é espiritual. Em outras palavras, já não está dominado pela alma e sua atividade independente, mas sim pelo Espírito. A sua natureza humana não foi destruída, mas rendida, subjugada, a um princípio e a um poder mais alto que ela. De maneira que pode dizer como Paulo: «Já não vivo eu, mas Cristo vive em mim».
Não que o eu cessou de existir, senão que foi tirado do centro de sua existência. Foi tirado, por assim dizer, do trono de sua vida, para que Cristo, por seu Espírito, ocupe o seu lugar. Agora Cristo é a força, o poder e a energia pela qual Paulo vive. Esse é o segredo de sua vida, e também da nossa.
Unidos a Cristo
No entanto, tudo isto pode ficar como um ensino alheio a nossa experiência real, se não compreendermos a afirmação que o Apóstolo faz a seguir: «O que agora vivo na carne, vivo-a na fé do filho de Deus». Aqui entramos no terreno da vida cristã prática.
O que até agora se tem dito explica o significado de estar unidos a Cristo, como a vara na videira. O que quer dizer? Significa que se estivermos em Cristo, unidos a ele, já não estamos «na carne». De fato, se estivermos em Cristo, a carne foi crucificada junto com suas paixões e desejos (Gal. 5:24). Recordemos que estar em Cristo é equivalente a viver pelo Espírito. A primeira fala da nossa posição exterior e objetiva, enquanto que a segunda, da nossa realidade interior e subjetiva: «Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho» (Gal. 4.6). Objetivamente estamos em Cristo, enquanto que, subjetivamente, recebemos a morada do seu Espírito. São como as duas faces de uma mesma moeda. Ou nas palavras do próprio Senhor, «Permanecei em mim e eu em vós».
Quanto a nossa posição objetiva, a Bíblia nos ensina que é um fato consumado. Estamos em Cristo por obra de Deus o Pai. Não devemos chegar até lá, nem fazer algo para alcançá-la no futuro. Esta é a nossa posição atual e inalterável como filhos de Deus. De fato, se não estivéssemos em Cristo, não seríamos absolutamente seus filhos, como já vimos na citação em Gálatas.
Dai a sentença do Senhor: «Eu sou a videira, vós os ramos». Não se trata de um estado, nenhuma posição ou condição que devamos alcançar, mas algo que já somos agora. Estamos, de fato, unidos a Cristo. Estamos na videira verdadeira. Por isso, o seu mandamento não é: «Façam algo para estar unidos a mim», ou, «Esforcem-se por unir-se a mim». Pelo contrário, o seu mandamento é: «Permanecei em mim». Quer dizer, «Fiquem ali onde Deus os tem posto». A boa notícia é que já estamos unidos a Cristo, para receber a sua vida constantemente. Não devemos fazer nada mais que permanecer onde estamos.
No entanto, por que, se estamos unidos a Cristo, fracassamos constantemente em experimentar a sua vida e dar fruto? Na realidade, a nossa experiência parece negar continuamente o fato de nossa união com Cristo. Devemos concluir que se trata só de uma «verdade posicional», como ensinam alguns mestres da Cristandade, alheia a nossa experiência real? Não, absolutamente, pois o propósito de estar em Cristo é que demos fruto. Deve ser, portanto, um assunto necessariamente experimental. Mas, como?
A necessidade da fé
O ponto de partida, como vimos, é a fé. Não se pode enfatizar isto demasiadamente. A vida cristã começa com a fé e se desenvolve por meio da fé. Não só necessitamos fé para sermos salvos; também para sermos santos e dar fruto. E necessitamos fé para andar no Espírito. Sem fé, a vida cristã prática se torna impossível. Por isso Paulo nos diz que agora ele vive «na fé do Filho de Deus». Antes Paulo cria em sua carne, em sua força, capacidade e habilidades na carne. Tinha fé em si mesmo. Confiava totalmente em sua carne. Paulo era meramente um homem natural. Mas agora, em Cristo, não confia mais em sua carne. Não se apóia mais nela para sua vida e atividade. Agora confia no poder de Cristo para viver, que habita e opera nele por seu Espírito. Vive na fé do Filho de Deus.
Este é um assunto vital. A razão pela qual tantos filhos de Deus fracassam em nossa vida cristã está, em primeiro lugar, na falta de fé. Não cremos em Deus. Não confiamos nele, nem cremos em suas palavras. Somos muitos céticos e desconfiados. É tanta a nossa confusão, que chegamos a considerar nosso cepticismo como uma espécie de ‘maturidade cristã’. A fé, pensamos satisfeitos em nosso coração, é para pessoas crédulas e ingênuas, e não para nós que sabemos mais. Quão equivocados estamos! Esta não é só uma falta muito grave, mas também um pecado do qual precisamos nos arrepender. Recordemos que aquele que dúvida, como ensina Tiago, não receberá coisa alguma de Deus (Tg. 1:7).
Invertemos a ordem das coisas. Cremos muito em nós mesmos, e como conseqüência, atrevemo-nos a duvidar da palavra de Deus. Não obstante, deveríamos na verdade duvidar radicalmente de nós mesmos, e confiar como meninos na palavra de Deus. Já que desconfiar de sua Palavra é o mesmo que desconfiar de Deus. A sua Palavra nos diz que estamos em Cristo, como a vara na videira. Nisto precisamos crer e confiar. Deus não está tratando de nos enganar neste assunto.
Além disso, nos diz que a nossa carne foi crucificada na cruz de Cristo. Nisto também precisamos crer e confiar. A carne, o eu adâmico, foi reduzido à impotência na cruz. Foi julgada e anulada por completo. Em seu lugar, Deus deu a Cristo, no Espírito. Deste modo, por meio do Espírito Santo, Cristo ocupa agora o lugar que antes ocupava a carne e anula o seu poder sobre mim. Ele está no centro da minha vida, e não mais eu. Ele está no controle. Assim é meu novo estado em Cristo. É muito mais que uma posição. É uma realidade. Nisto preciso crer. Pela fé me aproprio de tudo o que sou e possuo em Cristo. E é preciso enfatizar que todos os seus filhos receberam essa fé para crer. De outra maneira, não teríamos sido salvos.
Que poder maravilhoso tem a fé! Os teólogos nunca puderam defini-la. É uma virtude teologal, dizem-nos, para expressar que ela é de caráter divino. Vale dizer, é em si mesmo uma operação de Deus no coração do homem. Quando usamos a fé, apoiamo-nos e andamos «em» Deus. Em seu poder para fazer todas as coisas. Porque a fé não tem a sua origem em nós, mas em Deus. Não pode ser contabilizava como nosso mérito, mas unicamente como a graça de Deus. E ele nos dá isso para que possamos nos apoiar nele e em sua Palavra. Por isso, negar-se a crer é também rejeitar a graça de Deus.
Crer, confiar e depender; eis aí a fé em ação. A fé é o primeiro dom do Espírito para o coração dos crentes. Por ela somos salvos, e por ele caminhamos com Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus. Pela fé aceito o veredicto de Deus sobre a minha carne, confirmo a sua crucificação, e me rendo ao Espírito Santo que mora em mim. Por meio da fé, descanso em seu poder para me manter constantemente unido a Cristo. Ele não veio precisamente com esse propósito? E descanso, além disso, em seu poder para manter a minha carne crucificada de maneira efetiva. Pois, é pelo Espírito que fazemos morrer as obras da carne (Rom. 8:13b). Por nós mesmos somos totalmente impotentes contra a carne, porque, de fato pode a carne suprimir-se a si mesmo? Definitivamente não. Só o Espírito é totalmente suficiente para fazê-lo. E ele veio para morar em nós com esse expresso propósito: fazer morrer as obras da carne e nos ministrar a vida de Cristo ressuscitado.
Mas, estamos confiando nele para que o faça? Ou ainda lutamos por vencer o pecado e viver a vida cristã por nós mesmos? Quando os nossos olhos se abrem para ver a nossa completa insuficiência e incapacidade, veremos que esta é uma obra que unicamente o Espírito pode fazer. Mas até agora, por causa da nossa incredulidade, ele esteve impedido de operar em nós. É impossível receber um pouco de Deus sem fé. Este é um princípio inquebrantável. Não se pode andar no Espírito sem fé. E não se pode participar de Cristo sem fé.
Por meio da fé participamos da nossa união com ele. A sua vida flui em nosso pobre ramo e o capacita para dar fruto. É ele quem agora me sustenta. Antes eu procurava me manter unido a ele e fracassava constantemente. Mas agora, pela fé descanso na fidelidade do poderoso Salvador. Ele me mantém sempre unido a si por seu Espírito. E nada tem poder para me separar dele. Antes vivia me esforçando em excesso por suprimir a minha carne. Agora deixo todo o problema para ele e confio em seu Espírito para fazer morrer as obras da carne. O seu Espírito governa a minha vida e me comunica constante e fielmente a sua vida poderosa. Que mais posso pedir ou necessitar?
Dando fruto abundante
Agora minha parte é permanecer nele, a fim de que ele permaneça em mim (João 15:4). Como? Há algumas coisas práticas que podemos mencionar brevemente: Em primeiro lugar, como já vimos, crendo em toda a sua Palavra, sem deixar lugar para a dúvida ou para a incredulidade. Em seguida, confessando todos os nossos pecados, logo que o Espírito nos faça conscientes deles. O pecado tem o poder de interromper a nossa comunhão com Deus. Porque ele é Santo e o Espírito que em nos habita e que nos mantém unidos a Cristo é santo. Por isso, precisamos confessar todos os nossos pecados e nos apartar decididamente deles, se quisermos permanecer em uma vida de comunhão com Cristo. Não podemos dar lugar ao pecado de maneira nenhuma. Este é um assunto de suma importância para permanecer nele.
Terceiro, desenvolvendo o nosso amor para com Deus e para com os nossos irmãos. Uma vida de comunhão com Deus e sua Igreja deve ser cultivada em nosso coração. Se a fé for o «método» de nossa comunhão, o amor é seu conteúdo. Permanecer em Cristo é sinônimo de permanecer no seu amor. E quarto, nos rendendo completamente ao governo do Espírito Santo em todas as dimensões da nossa vida. Não só devemos abandonar os pecados, mas também aquelas coisas que o Espírito exige que deixemos, e do mesmo modo também fazer tudo o que nos guia a fazer. Quer dizer, precisamos viver uma vida de obediência ao Espírito de Deus. Devemos enfatizar que nenhuma destas coisas as fazemos para nos tornarmos unidos a Cristo (porque já o estamos), mas porque procuramos permanecer nele.
Então chega o fruto. O caráter de Cristo começa a aparecer em nossa vida cotidiana. A sua amabilidade, a sua paciência, a sua humildade e o seu amor se tornam reais em nossa relação com as nossas famílias, os irmãos e outras pessoas. As nossas palavras adquirem um novo poder quando pregamos o evangelho. O nosso coração se incendeia com um novo amor pelo Senhor e sua igreja. Desejamos ardentemente nos reunir e passar tempo em comunhão com nossos irmãos. A oração deixa de ser uma obrigação entediante que dificilmente realizamos, e começamos a desejar um tempo diário de comunhão com Deus. Começamos a ver que esta vida não é mais que uma peregrinação para a nossa pátria celestial. O mundo perde o seu atrativo diante dos nossos olhos. Oferecemos prazerosamente o nosso tempo, bens e dinheiro ao Senhor e o avanço de seu reino na terra. O destino dos que não têm a Cristo deixa de nos ser indiferente. Começamos a sentir o amor de Deus por este mundo perdido. Em suma, um novo poder para viver, para trabalhar e para falar aparece em nós. Quão diferente se torna a nossa vida!
Este fruto aparece, então, em três dimensões principais: em nossa vida individual como um caráter transformado à imagem de Cristo; em nossa vida de Igreja, como um serviço que traz verdadeira edificação aos irmãos; e no mundo, como um testemunho que traz salvação aos homens e mulheres que estão perdidos.
Não devemos pensar que esta vida frutífera é opcional. Se não dermos fruto, pesa sobre nós uma solene advertência. Aquele que semeia na carne, da carne ceifará corrupção (Gálatas 6:8). No final, nossa perda pode ser terrível. Mas, graças a Deus, ele tem provido em Cristo todo o necessário para que demos fruto. Não fiquemos esperando que esta experiência venha sobre nós algum dia. Não é assim que funciona. Se não estamos vivendo nela, o que nos impede de entrar nela hoje mesmo?
Se temos sido incrédulos, confessemos a nossa incredulidade e creiamos. Se não entendemos, peçamos ao Senhor que nos ilumine e ele fielmente o fará. Se até agora a nossa experiência foi de esterilidade e fracasso, deixemos de lado a nossa incredulidade, e reconheçamos que o problema é a nossa carne, e aceitemos totalmente o juízo de Deus sobre ela. Não tentemos mais «agradá-lo na carne».
Pelo contrário, confiemos plenamente no poder do Espírito Santo para fazer morrer em nós as obras da carne, e manifestar em nosso corpo mortal a vida poderosa de Cristo ressuscitado. Essa é a sua tarefa e finalidade.