Reunindo algumas coisas (3)

Considerações sobre o propósito de Deus e a sua obra presente.

Eliseo Apablaza

A revelação da Igreja

Romanos 12:2 diz: "Não vos conformeis a este século, mas transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento, para que comproveis qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita". Nos capítulos anteriores de Romanos, Paulo falou a respeito dos principais tópicos da fé cristã. Do capítulo 2 até o 8, de uma maneira maravilhosa, o Espírito Santo vai falando a respeito da fé, justificação, santificação, redenção, glorificação. E quando chega ao capítulo 12, diz que nós temos que ser transformados por meio da renovação do nosso entendimento para conhecer a boa vontade de Deus agradável e perfeita.

Ou seja, é como se Paulo estivesse nos dizendo agora: 'Olhem, o que vamos ver a seguir requer que vocês tenham uma mente renovada. Provavelmente entender os capítulos anteriores não requereu tanto como o que vem agora'. Qual é a boa vontade de Deus, agradável e perfeita? Vejam o versículo 3: "Digo, pois, na graça que me é dada, a cada qual que está entre vós..." Que coisa? "...que não tenhas um mais alto conceito do que convém de si mesmo, mas pense de si com prudência, conforme à medida de fé que Deus repartiu a cada um".

Ou seja, é como se dissesse -vou parafrasear um pouco-: 'Irmãos, até aqui falamos de coisas grandiosas: justificação, santificação, glorificação. Mas, agora, continuando, vamos falar de uma coisa ainda maior; e vocês precisam ter um entendimento renovado para entender o que vem a seguir'. E diz: 'Vocês até aqui, entenderam a vida cristã pela óptica individual: eu justificado, eu santificado, eu glorificado. Mas daqui a adiante vamos ver a obra de Deus em um sentido plural, e para que isto possa ser feito, necessitamos verdadeiramente uma renovação do entendimento'.

'Assim que vocês', diz Paulo aos romanos, 'que até aqui estiveram vendo a vida cristã por sua óptica particular, agora vou conduzi-los para que vejam que vocês são uma coisinha pequenininha'. Por isso diz: "Ninguém tenha um mais alto conceito de si do que deve ter". Ou seja: 'Baixem, desçam, sejam humildes'. E em seguida no versículo 4 diz: "Porque da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros".

Então, onde está a novidade? Qual é a coisa que requer revelação e renovação do entendimento? Que somos membros do corpo de Cristo! Agora, entender que somos membros é uma coisa simples. Mas é muito difícil vivê-lo, porque significa aceitar que você não é a unidade, que você não é o tudo. Nós somos uma partezinha de tudo. Significa que eu não me basto a mim mesmo; eu necessito de outros membros. Só sou um membro, um olho, a orelha. Então, se for a orelha, eu necessito do pé para caminhar e do olho para não tropeçar.

Então, antes de ter esta revelação, pensamos que podemos viver a vida cristã do ponto de vista individual. Precisamos chegar a Romanos 12 para ver que já não somos mais indivíduos, mas membros. Quero dizer, que não somos indivíduos que vivem individualmente a vida cristã, mas somos membros. Isto é a igreja; todos nós somos membros uns dos outros, todos com diferentes funções.

Mas não somos apenas membros de Cristo. Diz aqui que somos membros uns dos outros. Vejamos, façamos este exercício: Se eu pedir para você dizer: 'Eu sou membro de Cristo', isso pode ser fácil. Agora se lhe pedir que olhe para o seu irmão e lhe diga: 'Eu sou membro de ti'. Percebem que isso é um pouco mais difícil? Quando diz aqui que somos membros uns dos outros, é como dizer: 'Eu sou membro de Cristo, mas através de ti, ou contigo, junto a ti, dependendo de ti'. Ah, isso é mais difícil de entender. O Senhor nos socorra para avançar nesta revelação e neste conhecimento, não só escriturístico, mas também de forma experimental.

A necessidade de ir mais à frente

Agora, a revelação da igreja que aparece em Romanos 12 foi entendida pela primeira vez no século XIX (1820 mais ou menos) na Inglaterra. Os irmãos de Plymouth obtiveram muita luz da igreja e a partir dali começaram a falar muito da igreja como corpo. Há bastante tempo, eles tiveram luz a respeito de Romanos 12, sobre 1ª Corintios 12, etc.

Entretanto, se nós investigarmos o que acontece hoje com os herdeiros daqueles irmãos que viram a igreja no século XIX, vamos chegar a uma triste conclusão: Eles estão totalmente divididos em centenas e centenas de frações no mundo inteiro. E alguém pode legitimamente perguntar-se: Como é que esta revelação em vez de unir, separa?

Creio que uma explicação está um pouco mais adiante, no capítulo 14 de Romanos: "Recebei ao fraco na fé, mas não para contender sobre opiniões. Porque um crê que de tudo se pode comer; outro, que é fraco, come legumes. Quem come não despreze ao que não come, e o que não come, não julgue ao que come; porque Deus lhe recebeu".

Os fracos julgam aos que são fortes, e os fortes desprezam os fracos. Isto é o que se produzia e é o que se produz quando estamos na vida do corpo. Há uns que são fortes e comem de tudo, outros que são fracos e só comem legumes.

Então, aqueles irmãos tiveram a revelação de Romanos 12, mas não atenderam a Romanos 14. Assim por qualquer diferença, diziam, por exemplo: 'Eu não posso ter comunhão contigo, porque você não vê as coisas da mesma maneira como eu as vejo; você não crê no milênio como eu creio; assim não posso ter comunhão contigo'. Assim foi como se dividiram. Tiveram múltiplas razões para se dividirem.

O desafio para nós hoje, neste degrau que cabe-nos viver da restauração da igreja, é Romanos 14 e Romanos 15. "Recebei-vos uns aos outros, mas não para contender sobre opiniões". Irmãos, houve tantas divisões no povo de Deus, mas aqui no versículo 9 diz: "Porque Cristo para isto morreu e ressuscitou, e tornou a viver, para ser Senhor tanto dos mortos como dos que vivem".

O Senhor é Senhor dos mortos como dos que vivem. Haverá uma distância maior da que há entre os mortos e os vivos? Não, não há. Portanto, se você for prémilenista e eu não penso o mesmo, essa é uma distância muito curta, e o Senhor é Senhor de todos. Então, não há nenhuma razão para estarmos separados, para estarmos com inimizades.

Notem o que diz o versículo 15:7: "portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para a glória de Deus". Se alguém ler a epístola aos Romanos, poderá notar que neste versículo 7 é onde acaba todo o raciocínio, todo o ensino do apóstolo. Ele fala depois de suas viagens e dos seus assuntos pessoais como apóstolo. Mas o fim do discurso é o versículo 15:7.

E diz: "Portanto...". É como dizer: Olhem, temos falado no capítulo 3, e do 4, da justificação; temos falado da igreja, temos falado de tudo, para que cheguemos a este ponto, "Portanto...", o fim de todo o discurso ouvido é este. Qual? "Recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para a glória de Deus".

E eu lhes pergunto: Como Cristo nos recebeu? Em que condições nós estávamos quando Cristo nos recebeu? Estávamos provavelmente em uma situação muito calamitosa, e ele não nos pôs requisitos para nos receber.

Portanto, vocês crêem que é correto que nós antes de termos comunhão com um irmão lhe digamos: 'Olhe, para que possa ter comunhão contigo, tem que cumprir estes cinco requisitos, crer nisto, crer neste outro'! Crer, por exemplo, que a ceia tem que ser celebrada uma vez por semana. As mulheres têm que usar véu, e as irmãs têm que usar saia e não calças. Ou, você tem que falar em línguas para ter comunhão comigo! Isso seria correto? Foi assim que Cristo nos recebeu, impondo requisitos e condições? Não, então quando diz aqui, "como também Cristo", isso põe uma medida muito alta. A sua receptividade é tão grande, o seu coração é tão amplo, que foi capaz de receber a todos. Portanto, nós temos que nos receber uns aos outros da mesma maneira, para a glória de Deus.

"Que o Deus da paciência e da consolação vos dê entre vós um mesmo sentir segundo Cristo Jesus" (15:5). Sim, para vivermos Romanos 14 vamos necessitar do Deus da paciência e da consolação. E também como diz no versículo 13, "o Deus da esperança", e como diz no versículo 33, "o Deus de paz". Necessitamos a Deus nesta quádrupla expressão, para chegarmos ao fim da obra de Deus - o Deus da paciência, da consolação, da esperança e da paz. Que o Senhor nos socorra em todas as coisas.

Extraído de uma mensagem ministrada em Callejones, janeiro de 2008.

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