Do jardim até a cidade

Uma contemplada no propósito de Deus.

Marcelo Díaz

O livro de Gênesis contém ao menos dois relatos identificáveis a respeito da criação. O primeiro, que compreende o capítulo um, descreve o início de todas as coisas no espaço de seis dias, mais um dia de repouso, com uma narração maravilhosa da ação criadora da Palavra, que cria, separa e ordena o universo, deixando o seu rastro divino em cada intervenção com a expressão: "E viu Deus que era bom".

O homem no Éden

Ao entrar no capítulo dois, a lente bíblica se aproxima para nos narrar detalhes de como foi a criação do homem e da mulher. A ação poderosa de Deus se mostra paternal, afetiva, onde prima à relação. Deus cria o homem do pó da terra, "carinhosamente" sopra em suas narinas o fôlego de vida. Cena que tipifica a de um pai e seu filho. Desta maneira, Adão pela primeira vez abre os seus olhos, e sua retina retém o rosto de Deus, seu Pai. Como diz o evangelho: "Adão, filho de Deus" (Lucas 3:38).

O homem Adão desperta para a vida e recebe a marca divina, o apego necessário para subsistir, pois o sentido do homem está sempre em Deus.

O homem recebe cuidados e é introduzido em um jardim chamado Éden, cujo significado é Delícia. Este nome nos revela as condições nas quais Adão foi acolhido por Deus. O lugar era aprazível, o próprio Deus "passeava no frescor do dia…" (Gênesis 3:8).

Tudo faz pensar que no Éden concentrava um ambiente harmonioso. Deus tinha um especial interesse nesta terra. Nela se via o bom da sua criação. Razão pela qual deu ao homem um duplo propósito ao introduzi-lo nele, que se registra explicitamente nas Escrituras. "Então o Senhor Deus tomou o homem e o pôs no jardim, para que o cultivasse e o cuidasse" (Gênesis 2:15).

A tarefa do homem era aplicar as suas forças para trabalhar a terra e cuidar de cada uma das espécies que ali brotavam. Espécies que lhe proporcionariam diversos e deliciosos frutos, em especial da Árvore da Vida que estava no meio do jardim. Também havia neste jardim outra árvore importante, cujo fruto seria o conhecimento do bem e do mal. A administração deste conhecimento era de suma importância para Deus; por esta razão era-lhe necessário guardá-lo em um lugar seguro e de sua confiança.

Para a tarefa encomendada de lavrar a terra, Adão contava com as riquezas do jardim, pois do mesmo brotava um rio que regava toda a terra, ramificado em quatro braços, rio que as Escrituras mais adiante chamam de rio de vida (Apocalipse 22:1). Ali vivia Adão, no meio de um clima prazeroso, cuja missão era cultivar e cuidar do jardim de Deus.

Uma ajudadora que lhe corresponda

Mais tarde, Deus pensou: "Não é bom que o homem esteja só, far-lhe-ei uma ajudadora idônea" (Gênesis 2:18). Outra vez vemos um Deus preocupado com o homem. A tarefa encomendada seria fatigante, requereria ajuda e companhia. Então, meigamente planeja uma mulher, cuja definição por natureza é "ajudadora idônea". Literalmente, o texto hebreu traduz: uma ajudadora que lhe corresponda.

Que curioso: Deus viu que Adão necessitava uma correspondência, alguém que co-responda as suas necessidades, com quem obtenha mutualidade. Adão não encontrou esta correspondência nos animais, nem ainda na mais delicada e inteligente das espécies. Por isso Deus, do próprio Adão, tira Eva, fazendo-o cair em um profundo sono. Ele não sabia que intrinsecamente escondida em seus ossos, estava "ela", a quem a chama ishshah, pois de ish foi tomada. Ela seria capaz de responder às suas mais íntimas necessidades. Desta maneira, ambos poderiam levar a cabo a missão encomendada por Deus, de lavrar e cuidar do seu jardim.

Em resumo, temos no capítulo 2 de Gênesis, um casal criado no afeto de Deus Pai, com uma missão especial: servir-lhe no jardim de sua delícia. Agora sim o homem estaria em posição de trabalhar e cuidar do jardim de Deus; a ajuda necessária tinha chegado para incorporar-se ao trabalho supremo.

O propósito de Deus

Mas, o que Deus esperava do trabalho do homem? Que projeção Deus tinha cultivando e cuidando do jardim? A resposta a encontramos na similitude que existe entre os primeiros e os últimos capítulos da Bíblia. Ao lê-los atentamente, observamos que o que se iniciou rudimentarmente em Gênesis com um pequeno jardim, termina em Apocalipse com uma grande edificação, em cujo conteúdo existem os mesmos elementos descritos em Gênesis.

Como unimos estas duas realidades? A resposta a encontramos na Igreja, pois ambas são uma figura dela. Salomão escreve a respeito: "Jardim fechado é, OH irmã, esposa minha; manancial fechado, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes, o cipreste com o nardo. O nardo, e o açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias. És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano! Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que destilem os seus aromas. Ah! entre o meu amado no jardim, e coma os seus frutos excelentes! Já entrei no meu jardim, minha irmã, minha esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite; comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados." (Cantares 4:12-5:1).

A mulher se identifica com um jardim onde o amado é convidado a entrar para desfrutar dos seus frutos. Que cena mais preciosa. Cristo, representado no marido, entra na terra fértil de um jardim que representa à igreja. Efetivamente, concluímos que o jardim é figura da igreja.

Mais adiante, o apóstolo Paulo escrevendo à igreja em Corinto, une a figura do jardim e do edifício em alusão a seus destinatários: "Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o SENHOR deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele." (1ª Cor. 3:5-10).

As palavras chaves neste texto são: "E vós sois lavoura de Deus, edifício de Deus". Indubitavelmente, Paulo identifica à igreja com uma terra fértil onde se planta e rega a semente; terra que deve ser lavrada, quer dizer trabalhada e cuidada, referência exata à encomenda de Adão.

Mas Paulo vai mais à frente, porque acrescenta o que chegará a ser este jardim ao ser trabalhado e cuidado através do tempo. Quer dizer, o Edifício de Deus, cujo fundamento é Jesus Cristo. Figura que casa exatamente com a última revelação do que chegará a ser a Igreja descrita na visão do apóstolo João. " Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro... e me mostrou a grande cidade... que descia do céu, de Deus, tendo a glória de Deus... tinha um muro alto e doze grandes portas... E o muro da cidade tinha doze alicerces... A cidade estava situada em quadrado, e o seu comprimento era igual a sua largura... E mediu o seu muro... O material do seu muro era... A rua da cidade era de ouro... Depois me mostrou um rio puro de água da vida... No meio da rua da cidade e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da Vida, que produz doze frutos... e as folhas da árvore eram para a cura das nações." (Apoc. 21:9-22:5).

Em conseqüência, o que começou com um jardim terminará com uma grande cidade, cujo edifício se encontra, inalterável, a árvore da Vida.

Nossa participação

Qual é a sua participação neste macro projeto de Deus? A encomenda dada ao primeiro casal segue hoje sendo a mesma. Nossa maior dedicação na vida é trabalhar a terra de Deus, para que logo chegue a ser o edifício onde ele depositará definitivamente a sua Glória.

A igreja se cumpre com estas duas figuras. Lavoura e edifício, jardim e cidade. De modo que o nosso esforço e sentido de vida devem estar em edificar a Igreja de Jesus Cristo.

Trabalhem, que a transformação da lavoura chegará a ser a cidade edificada, cujo crescimento está nas mãos daquele que prometeu: "Edificarei a minha Igreja".

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