Para a semelhança de Cristo

Uma contemplada na epístola de Paulo aos Filipenses.

Arcadio Sierra

Leitura: Filipenses 3:7-8.

A carta aos Filipenses é um documento cheio de amor e de alegria, produto do profundo afeto do apóstolo por esta igreja, das tantas que ele fundou. Foi uma igreja que fundou com muitas dores, como a mulher quando dá a luz, e por isso esses irmãos são de grande estima para o apóstolo.

A carta começa assim: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos". Aqui vemos, em um só versículo e em curtas palavras, o que é uma igreja local bíblica neotestamentaria. A carta está dirigida aos santos de uma localidade. Não há sectarismo aqui, não há divisões, não há denominações. "…a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos".

Os santos são a igreja, e dentro dos santos alguns cresceram - não necessariamente em idade, mas em sua vida espiritual, em seu conhecimento de Cristo - mais do que outros. E os que cresceram mais, pois, são anciões com relação a outros. A pessoa que cresceu mais espiritualmente é chamado na Bíblia de ancião. Pode ser um jovem, como no caso de Timóteo. Mas já é ancião com relação àquelas pessoas que ainda continuam sendo meninos espiritualmente. Esses anciões têm uma função dentro da igreja, que é a de fiscalizar, de inspecionar, de servir de vigias dos santos de toda a igreja local. Essa palavra se traduz em castelhano como bispo.

E surgem dentro da igreja uns irmãos, também espirituais, como diz em Atos capítulo 6, que são os que servem na parte material: os diáconos. Os bispos estão atentos sobre tudo o que diz respeito à parte espiritual, e os diáconos se ocupam da parte material.

Mas a carta é enviada por Paulo e Timóteo. Eles dizem ser: "Servos do Jesus Cristo". Mas estes que dizem que são servos de Jesus Cristo são os mensageiros do Senhor, são os apóstolos, são os obreiros. Eles não dizem: 'Bom, nós como apóstolos...'. Às vezes, Paulo o afirma; mas esta vez, pelo próprio contexto da epístola, não diz. Diz: "Escravos de Jesus Cristo. Essa é a palavra correta nos originais gregos.

Cristo, o exemplo

Nesta carta, vamos considerar alguns aspectos que nos interessam, para observar como é uma igreja bíblica, como vive, como deve refletir um autêntico testemunho cristão. Por exemplo, no capítulo 2, fala da vida cristã e fala de Cristo como o nosso exemplo, e diz: "portanto, se houver alguma consolação em Cristo, se algum consolo de amor, se alguma comunhão do Espírito, se algum afeto entranhável, se alguma misericórdia, completem o meu gozo, sentindo o mesmo, tendo o mesmo amor, unânimes, sentindo uma mesma coisa" (2:1-2).

Possivelmente os irmãos Filipenses já viviam isto, mas Paulo o estampa aqui para nós também. "Nada façais por contenda…". A palavra é clara a respeito. "Nada façais por contenda ou por vangloria; mas com humildade…". E aqui explica o que é a humildade: "…cada um considere aos outros superiores a si mesmo".

Uma das características da igreja do Senhor é que todos nós somos iguais. Não ostentamos duas nem três castas eclesiásticas. Somos um só corpo; cada um com a sua própria função dentro do corpo do Senhor Jesus. De maneira que aqui não cabe o nicolaísmo, não cabem as castas sagradas. Todos são iguais no corpo de Cristo. Mas dentro da igualdade, e dentro do que o Senhor trabalhou em seu coração, dentro do que você tem deixado que o Senhor vá demolindo em nossa velha natureza; na medida em que é aplicada a cruz em sua alma e em seu eu, nessa mesma medida você poderá ver a sua baixeza, e poderá ver os irmãos como superiores a ti. Porque o irmãozinho ou a irmãzinha, por mais humildes que sejam, são do Senhor, são moradas de Cristo; e temos que reverenciar essa morada do Senhor.

De maneira que aqui encontramos, para nós, o dever de olhar para essas pessoas como superiores a nós mesmos. Se isso se tornar prática em minha vida, vai acabando os meus problemas, vai derrubando a vaidade, vão nivelando os corações e enchendo-se de amor. O amor e o enaltecimento são incompatíveis. Porque na medida em que algo passa pela demolição e vai para o lixo, esse espaço é enchido pelo fruto de Alguém que está dentro de nós, e quer se fazer sentir e encher a nossa alma - é o Espírito de Cristo, o Espírito de sabedoria, o Espírito de amor, o Espírito de humildade.

E em seguida o apóstolo dá um exemplo, um modelo - a maior Pessoa de todo o universo, que tem feito toda a criação, é o modelo. E aqui diz o que fez. Depois que nos exorta a que nada façamos por contenda, e que olhemos para outros como superiores a nós mesmos, mostra-nos o modelo. Porque sempre surge a pergunta: Como faço? Como posso torná-lo realidade?

Diz: "Haja, pois, em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, sendo na forma de Deus…". Ele sempre foi Deus; mas ele renunciou essa forma de Deus. "…sendo em forma de Deus, não estimou ser igual a Deus como coisa a que aferrar-se…". Cristo é Deus. Definitivamente. O Deus Elohim, está composto de três pessoas; e uma dessas pessoas é o Filho, o Verbo, que se fez carne. Não há três deuses; mas em um único Deus, há três pessoas.

"…o qual, sendo em forma de Deus, não estimou ser igual a Deus como coisa a que aferrar-se, mas despojou-se a si mesmo -Ele, voluntariamente, o fez-, tomando a forma de servo -ou seja, de escravo - feito semelhante aos homens; e estando na condição de homem -Não somente ficou como um homem qualquer; quis ainda chegar mais baixo-, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz". Não qualquer morte; Cristo escolheu a morte mais ignominiosa da história.

Nós não queremos nos despojar de nosso enaltecimento. E o que aconteceu então? Por esse fato voluntário de humilhação do Filho, "Deus lhe exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo nome" (2:9). Nós, os homens, queremos ser exaltados sem nos humilhar, e queremos construir um nome e uma fama na terra, e ainda aspiraramos que o Pai também nos exalte até o extremo. Mas diz a Palavra que aquele que merecia tudo -e sempre mereceu- se humilhou a Si mesmo, para dar a nós, hoje, a vida que temos, vida eterna e salvação que ninguém pode nos tirar. Bendito seja o nome do Senhor: Ele o fez!

Então, "Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo nome, para que no nome de Jesus se dobre todo joelho -Ainda os que hoje se opõem, um dia terão que ajoelhar-se diante do Senhor- dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai" (2:9-11). Diante dele, irmãos, se prostrarão os que estão nos céus. Não só os anjos. Os que estão no terceiro céu, os que estão no paraíso, os que estão na terra, os que estão no Hades; todos têm que dobrar os seus joelhos diante daquele que adquiriu tudo. Aleluia, glórias ao Senhor! Ele é o Senhor, o Filho do Homem, que jamais escreveu uma cartinha, e dele foram escritos toneladas de livros e toneladas de gravações e de vários escritos. Glória ao Senhor!

Ocupem-se em vossa salvação

Frente a isso, diz o apóstolo: "portanto -se Ele for o modelo, se Ele fez tudo isso por nós-, amados meus, como sempre obedecestes, não somente em minha presença, mas muito mais agora em minha ausência…". Olhem, este é um perfil do verdadeiro crente. E quando ele diz: "Façais isto", é para nós também. "…ocupem-se em vossa salvação com temor e tremor". Somos salvos? Ocupemo-nos dessa salvação!

Alguém pode dizer: 'Mas, já sou salvo, que mais devo fazer?'. Então, ocupa-te dessa salvação! A salvação veio ao seu espírito. O Senhor quer também nos salvar do nosso eu; o Senhor também quer nos salvar dos nossos lixos carnais, de todo esterco que trazemos ainda, coisas que muitas vezes consideramos como algo muito importante. Às vezes Deus quer nos salvar de nossas verborréias, de nossas famas, de nossas posições do mundo. Deus quer derrubar tudo isso em nós.

Ocupa-te da tua salvação, porque em vez de ti mesmo, Cristo quer reinar em ti, e não que você siga reinando em sua vida. É fácil dizer: 'Já não vivo eu; é Cristo o que vive em mim'. São palavras que às vezes são lançadas ao vento. É fácil dizê-lo, e adquirir uma aparência de muita piedade. Mas o Senhor é autêntico, o Senhor é transparente, e quer que o nosso andar seja suficientemente transparente, que vejam ele através de nós; como através de um cristal.

É doloroso que uma pessoa que não seja eu venha fazer-se transparente em minha vida. Mas o Senhor o quer fazer se é que nós o permitimos, se é que nós lhe dizemos: 'Eu já não quero mais reinar. Sei que vou sofrer, porque a cruz é dolorosa, mas me ajude a tomar a minha própria cruz para levar à morte toda esta estrutura que vivi, e que te tem feito mal, te atrapalhado. É necessário que a minha vida te beneficie; pois até agora eu somente procurei o meu próprio benefício!'. Estas coisas são perdas; são coisas que me amarram e não me deixam conhecer convenientemente a Cristo.

"Ocupai-vos com a vossa salvação…". Que lutemos, irmãos, para viver na prática esta profissão. Aqui há muitos profissionais. Há médicos, há engenheiros, há contadores... E eles vivem essa profissão; são responsáveis por elas. Vivamos também a nossa profissão de filhos de Deus. Em todo lugar, que demos um testemunho; permitamos que o Senhor o dê através de nós.

"Ocupai-vos com a vossa salvação, porque Deus…". Olhem, isto parece um contra-senso. É um processo que ele não opera sozinho, nem tampouco eu sozinho. Eu não posso fazê-lo sozinho, e ele não intervém sem que eu lhe diga: 'vamos fazer nós dois', porque o Senhor é muito cavalheiresco. "…porque Deus é o que produz em vós tanto o querer como o efetuar, por sua boa vontade" (2:12-13).

Primeiro Paulo diz: "Ocupa-te da tua salvação", e em seguida diz: "Deus é o que faz isso em ti". E como é isso? Será que é um paradoxo, será um contra-senso? Não, é a ação de ambos. Nós temos um livre-arbítrio, e ele respeita. Mas há uma soberania absoluta de Deus. Vamos entendendo! Deus também exercita a sua soberania. Então, o apóstolo insiste aos Filipenses que se ocupem de sua salvação como se fossem plenamente responsáveis e capazes de fazer o bem por seu próprio esforço. "Ocupa-te". Mas em seguida, a artigo seguinte, diz: "…porque Deus é o que produz em vós tanto o querer como o fazer, por sua boa vontade". De maneira que nós temos que entrar dentro desse processo, e convidar a Deus.

O mesmo Espírito nos está dizendo quais são as nossas coisas que lhe estorvam e que lhe impedem de avançar, os passos que Cristo quer dar em sua vida para te aperfeiçoar. Ele quer avançar, e de repente encontra uma dura barreira, uma casca de ovo. Ele quer derrubá-la, mas você não permite. Que tipo de casca de ovo é essa? Você sabe. Quantas barreiras não quer soltar, porque para ti é algo importante vivê-la; mas assim está comprometendo a sua comunhão com o Senhor, e a vida e o testemunho que Cristo quer expressar através de ti.

Considerando tudo um lixo

Queremos abordar no capítulo 3 umas exortações e doutrinas, que é, como se disséssemos, o centro do que trazemos de carga nesta ocasião.

"Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos no Senhor. A mim não me é penoso escrever-vos as mesmas coisas…" (3:1). Repetir uma e outra vez, reiterar aos irmãos certos princípios. Por quê? Porque nós somos duros, e o Senhor quer nos reiterar sempre. Para derrubar uma parede dura, terá que bater muito no mesmo lugar. Sim, a parede está dura, e o golpe vai e vem, enquanto a parede continua resistindo e quebrando até que caia. E o Senhor reitera uma e outra vez: A cruz. Negue-se a si mesmo.

Quer seguir após mim, quer ser um santo vencedor? Quer triunfar em sua vida espiritual? Quer ver logo o rosto de Cristo sem que você tenha que se esconder um pouco? Deixa que Cristo te golpeie. Amém, deixe-o. "Não me é penoso escrever as mesmas coisas, e para vós é seguro". Ou seja, isto te dá segurança. Recebe-o, porque é segurança para ti. É o que significa isso.

"Guardai-vos dos cães". Quem são esses cães? Vocês sabem, como diz ali em Gálatas também, que havia um grupo de judaizantes que pretendia divulgar que a salvação não era somente por fé, mas sim 'por fé e… cumprir tais preceitos; por fé e… circuncidar-se; por fé e… deixar de comer porco; por fé e… por fé e…'. Mas a Bíblia diz que somos salvos por fé… somente. "Porque por graça sois salvos por meio da fé, e isto não vem de vós, pois é dom de Deus, e não por obras, para que ninguém se glorie". Amém. Por fé no Senhor. Por fé em sua obra, em seus méritos, em seu sangue derramado, em sua Cruz, em sua ressurreição, em sua glorificação; por fé que chega a nós, no dia que cremos, a presença gloriosa do Deus eterno por meio do seu Espírito, para morar dentro de nós.

O uso da palavra 'cães' se deve aos judeus que chamavam aos gentios de 'cães'. Para eles os gentios eram imundos. É como se Paulo dissesse: 'Vocês são mais cães do que os que vocês chamam de cães, porque vocês estão pisoteando o sangue do Senhor'. "…guardai-vos dos maus obreiros…". Há falsos obreiros. "…guardai-vos dos mutiladores do corpo". Isso se relaciona com a circuncisão. Então, diz Paulo em Gálatas, não só que se circuncidem, mas também se mutilem; pois eles estão mutilando o corpo, estão dividindo o corpo de Cristo; querem excluir os irmãos da verdadeira fé. Porque a Palavra diz que o que retorna para o cumprimento da lei, cai da graça. Então Paulo diz "…guardai-vos dos mutiladores do corpo, porque nós somos a circuncisão…". Por que somos a circuncisão? Você se circuncidou alguma vez? Circuncidou-se fisicamente? Não. Mas Cristo se circuncidou por você, irmão. Porque, olhem algo curioso: os que verdadeiramente se circuncidaram na carne, os judeus, o que lhes aconteceu? A circuncisão não valeu nada para eles, não guardou eles, mas se inclinaram para a idolatria e se afastaram de Deus. Vejam o que o Senhor já ensinava através de Gideão. Todos eles eram circuncidados, mas estavam na idolatria. Na casa do pai de Gideão havia idolatria. "Vá primeiro e derrube esses altares da idolatria". Sim, santifique-se.

Nós não somos idólatras? Olha! Idolatria é tudo o que você põe no lugar do Senhor, e o adora, e o reverencia, e lhe obedece. Isso é idolatria. Sim. Mas nós, a igreja, somos a verdadeira circuncisão. Sabem o que aconteceu aos que se circuncidaram? Se foram. O Senhor permitiu que fossem levados para o cativeiro por estrangeiros. A circuncisão não valeu nada para eles. Primeiro, a Assíria, as dez tribos do norte, e em seguida, a Babilônia, as duas tribos do sul; mais ou menos com cem anos de diferença, mas se foram. O que tinha acontecido com a circuncisão praticada em seu corpo? Não lhes valeu nada; pois a verdadeira circuncisão é por dentro; a circuncisão é espiritual. A circuncisão na carne é um mero símbolo da espiritual. Devemos cortar a carne. Como dizia um irmão, a mulher de Ló saiu de Sodoma, mas levou Sodoma em seu coração. Ou seja, ficou em Sodoma.

"Porque nós somos a circuncisão, os que em espírito servimos a Deus e nos gloriamos em Cristo Jesus, não tendo confiança na carne" (3:3). A circuncisão é na carne, quando é física. Não tenhamos confiança na carne. Eles confiaram na circuncisão carnal. "Ainda que eu também tenha do que confiar na carne. Se alguém pensar que tem do que confiar na carne, mais eu". Atrevido, não? "Mais eu". Quais eram esses méritos carnais de Paulo?

"…circuncidado ao oitavo dia...". Ele era circuncidado, e do que teria lhe valido essa circuncisão carnal sem Cristo? São glórias da carne. Bem, há cerimônias, há investiduras humanas; há ritos de consagração na vida. Amém. Certamente, a circuncisão tinha sido um pacto entre o povo hebreu e Deus, entre Abraão e Deus, e foi bom para eles cortarem a carne para que fosse um povo consagrado a Deus. Mas isso era uma sombra, um tipo da verdadeira circuncisão que é em Cristo Jesus.

Nós cortamos a carne. Se não vivemos, devemos vivê-lo. Porque é um fato histórico que Cristo, na cruz, cortou a carne para nós. Cremos nisto? É preciso que vivamos. Senhor, nos ajude a vivê-lo, a levá-lo à prática! Que realmente possamos dizer: 'Nós somos a circuncisão de Deus, o povo que serve a Deus no Espírito'.

"…da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim…". Que lindo, não? Tinha pura glória dos homens: linhagens, linhagens, camadas sociais. 'E nessa igreja, quem é esse irmãozinho? Vive por lá, nas colinas do sul'. 'Ah, sim; da camada zero!' Então, há outro que é da camada seis; vive no Chicó. Mas tem que nivelar-se. O irmãozinho sobe à camada três, e o outro irmão baixa para a camada três. Todos para a camada três… Aleluia, já não temos mais camadas sociais! A única camada nossa é a que o Senhor adquiriu na cruz do Calvário. Aleluia! No reino dos céus não há camadas sociais.

"…da tribo de Benjamim…". Claro. Por que ele dizia assim? O que tem haver a tribo de Benjamim? Olha, muito. O primeiro rei foi de Benjamim. E ele tinha o mesmo nome do primeiro rei. Saulo. Além disso, se olharmos atentamente um mapa do território de Benjamim, com cuidado, sabem o que encontramos? A Jerusalém! No território de Benjamim. Uma grande coisa! Não vos parece que é bom orgulhar-se de que alguém seja da tribo de Benjamim e ver que ali ficava Jerusalém? Ali estava o templo onde tinham que vir todas as tribos para adorar, e vir da Babilônia, de Roma, de Filipos, de todas partes, ao território de Benjamim! Certamente, era uma glória da carne.

"…hebreu de hebreus…". Era puro de raça. O pai e a mãe eram hebreus. Avós e bisavôs eram hebreus. Todos hebreus. Ali não havia mistura de um prosélito, nada. Sim, a mãe de Timóteo era judia, mas o papai era grego. Paulo teve que circuncidá-lo por causa do testemunho, mas Paulo era hebreu de hebreus. Muito orgulho. E diz: "…quanto à lei, fariseu". Estrito e zeloso no cumprimento da lei. A seita farisaica era a nata da ortodoxia religiosa. Esse era Paulo; assim tinha sido educado; e isso era de muito orgulho. 'Você, o que é?'. 'Fariseu'. "…quanto ao zelo, perseguidor da igreja…". O que significa isso? O topo do orgulho; ter a honra de perseguir oficialmente e com ira aos que não estão de acordo com eles.

Então, na igreja, se houver isso, deve ser derrubado; e se não é derrubado, algum dia teremos que dar conta ao Senhor. Igrejas de racismos, igrejas de negros, de brancos, de ricos, de indígenas, de classes sociais, da raça ariana, de anti-semitismo. Na igreja pura e legítima do Senhor não há isso. É uma vergonha. Na igreja, todos somos iguais. Na gênesis da igreja, na mesma mesa do Senhor, sentavam-se um funcionário do império, Mateus, e um guerrilheiro anti-imperialista, Simão o zelote. Ali estavam os dois, e comiam do mesmo prato.

Sim, irmãos, porque o Senhor veio para nos fazer um, um corpo; sem divisões, sem racismos, sem termos que olhar nem por baixo nem por cima a nenhum irmão. Nenhum irmão é superior a ti, nem tampouco inferior. Somos iguais. Não há sectarismo religioso, não há divisões. Nós já não somos nem fariseus, nem saduceos, nem paulistas, nem cefalistas, nem legalistas, nem nada disso. Somos a igreja do Senhor. Devemos ter consciência de que somos a igreja do Senhor. Somos a igreja inclusiva. Somos a igreja que consideram os outros irmãos como nossos irmãos, se tiverem sido também lavados pelo sangue de Cristo.

E diz: "…quanto ao zelo, perseguidor da igreja". Perseguições religiosas, inquisições na história, que tem ceifado a vida de mais de 50 milhões de pessoas levadas para a fogueira, simplesmente porque não estavam de acordo com as crenças de quem mandava executá-los.

"…quanto à justiça que há na lei, irrepreensível". Justiça própria, aparência de piedade. Nesse tempo, o próprio Paulo se considerava irrepreensível, e outros o viam como irrepreensível. Mas o ser irrepreensível chegou a ser lixo para ele. O caso é que a Bíblia não diz 'lixo', mas sim 'comida para cães', 'esterco', etc. Tudo o que é mais imundo. E essas são coisas grandes consideradas na carne; mas por maiores que sejam no mundo, essas coisas impedem que conheçamos a Cristo.

O importante em tudo isto é a seguinte declaração do apóstolo: "Mas o que para mim eram ganho, estimei-as como perda por amor de Cristo" (V. 7). Como pôde ocorrer essa mudança em Paulo? Será que em nós também está ocorrendo? Se você, em sua vida, alimenta o lixo da carne, é perda. Não poderá avançar em sua vida no conhecimento do Senhor. "E certamente, até estimo todas…". Não só essas, todas. Todas aquelas coisas que em Mateus 6:33 diz que são acréscimos. Lembrem-se. Todas as coisas, e tudo o que vivemos, tudo o que nós fazemos, tudo o que procuramos e nos afadiga no mundo. A tudo isso o Senhor o chama acréscimos. A lista é longa. Fora do reino de Deus, tudo é lixo. Tudo o que quiser reinar sem o Senhor, é lixo.

Tudo isso o apóstolo o considera "…como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor". A excelência é Cristo, porque ele é o excelente, e o conhecimento dele tem a sua excelência, e proveito para nós. Ele é o meu Senhor, o meu Adonai, o meu Kirios, o meu Amo. Ele é o meu amo; ele não é qualquer pessoa. Ele é a cabeça da igreja. "…por amor do qual perdi tudo…". Pobre Paulo; tinha perdido tudo. Mas, o que ganhou? "…e o tenho por lixo, para ganhar a Cristo…". Eu creio que quase e em qualquer lugar que fosse, recebia surras, mas seguia tão alegre, pela excelência de quem havia crido.

A participação dos seus sofrimentos

A causa dessa profunda transformação do apóstolo, dessa dramática mudança de mente, a encontramos em Atos 9. Quando ele tem o encontro com Cristo Jesus, e é conduzido a Damasco, cego, o Senhor diz a Ananias (V. 15), o irmão que é comissionado para que lhe ministre, impor-lhe as mãos, batizasse-o, lhe diz: "Vê, porque este me é um instrumento escolhido, para levar o meu nome na presença dos gentios, e de reis e dos filhos de Israel; porque eu lhe mostrarei quanto lhe é necessário padecer pelo meu nome". Era necessário que Paulo passasse por essas provações desagradáveis para a carne, e é necessário que nós também passemos por coisas similares. Não é só Paulo lá na história; somos nós, no presente, em nossa cotidianidade como filhos de Deus.

Irmão, não é que seja um mérito; é uma concessão. Nós somente pedimos o que nós gostamos, o que é agradável. Mas também o sofrimento por causa do Senhor é concedido. O Senhor tinha escolhido isso para os irmãos de Filipos; e Paulo declara isto em 1:29: "Porque a vós é concedido por causa de Cristo, não só que creiais nele, mas também que padeçais por ele". Amém.

Recordem que Paulo não tinha planejado ir para a Europa, incluindo a Filipos. Paulo ia pregando pela Ásia. Na sua segunda viagem missionária, ele ia pelos lados da Galácia, Frígia, etc..., e de repente lhe aparece uma visão, de noite, onde um varão macedônio lhe diz: "Passa para a Macedônia e nos ajude". Então, Lucas diz: "Em seguida procuramos partir para a Macedônia". Chegaram à cidade e colônia principal do Império Romano chamada Filipos. E ali sofreu muitos açoites, e o colocaram no fundo das masmorras, do cárcere.

Digo-lhes isto, para que vejam a dor com que ele deu a luz à igreja de Filipos. Por isso pulsava todo o amor e o direito de lhes escrever estas coisas, de lhes prevenir sobre o tóxico lixo que os judaizantes lhes estavam vendendo, e lhes dizer: 'Olhem o que eu era, e tudo isso deixei por amor ao Senhor'.

Então diz o versículo 9: "E ser achado nele (em Cristo), não tendo a minha própria justiça, que é pela lei, mas a que é pela fé de Cristo, a justiça que é de Deus pela fé, a fim de conhecer-lhe…". Não se pode conhecer o Senhor quando vivemos uma justiça própria. Quando ostentamos em ser algo, quando dizemos: 'Eu sim cumpro; eu sim sou uma pessoa responsável', sim, quando cacarejamos essas coisas, vivemos nas aparências do autêntico lixo.

Nós somos o que Cristo é em nós. Isso sim nós somos. Isso é nos gloriarmos, Cristo é o teu orgulho, o são orgulho - dizer ao Senhor: 'Sejas o que tu quiseres ser em minha vida, e anula a minha'. Então Paulo diz: "…a fim de lhe conhecer, e o poder da sua ressurreição". Viver a vida de ressurreição, viver a vida que em Romanos 6 diz que já vivemos, se nós participarmos de sua morte e sepultura. É a vida da ressurreição de Cristo em nosso espírito. Mas a alma necessita também uma morte. Quando a alma morre, também irá ressuscitar. O que é essa vida de ressurreição? Viver a vida de Cristo. Mas Cristo não quer que fiquemos somente nessa ressurreição. O texto diz: "…e a participação dos seus sofrimentos". Porque terá que participar dos sofrimentos de Cristo. Paulo estava consciente de que cada vez que saísse para o campo missionário, ia sofrer. Não podemos ficar surpresos com isto. Estejamos preparados para essas coisas, para todo sofrimento e perseguição, chegando a ser semelhantes a Cristo em sua morte.

Na medida em que participamos dos sofrimentos de Cristo, nós participamos de sua morte; é um desenvolvimento; e nessa forma é como ocorre o do versículo 11. "…se de alguma maneira possa chegar à ressurreição dentre os mortos". Aqui na versão castelhana diz ressurreição tanto no versículo 10 como no 11, mas no original grego não diz exatamente igual. Porque no versículo 10 diz anastasis; mas ao referir-se à ressurreição do versículo 11 diz exanastasis - uma ressurreição sobresselente. Qual é realmente a diferença? Todos participamos da ressurreição do versículo 10; isso é real em nós pela participação da morte e ressurreição históricas do Senhor. Mas quando participamos realmente dos sofrimentos e da morte de Cristo, quando levamos a nossa própria cruz, e nosso eu tiver sido levado para a cruz, é quando a alma começa a participar dessa verdadeira e completa ressurreição. Não pode haver ressurreição sem morte.

E quando Cristo vier, experimentaremos então uma ressurreição completa: espírito, alma e corpo. O espírito ressuscitou quando cremos na morte e ressurreição de Cristo; a alma ressuscita quando ocorre a morte do eu, e o corpo ressuscitará quando vier o Senhor. Então seremos ressuscitados integralmente, e já não teremos que escutar uma frase do Senhor que dirá: "Servo mau. Tomem-no, atem-no e lancem-no nas trevas exteriores; dali não sairá até que tenha pago até o último ceitil, …etc."; isto nós já sabemos e entendemos. Isto é um assunto que devemos encará-lo desde já; devemos avançar; e se vamos avançando nessa carreira, vamos adquirindo posições na morte do eu, para a semelhança de Cristo, e vai abrindo passagem para a ressurreição sobresselente de que fala aqui.

E, olhem, que o próprio Paulo, o grande apóstolo dos gentios, declara: "Não que já a tenha alcançado, nem que já seja perfeito…". Então, ele vivia a ressurreição do espírito; mas manifesta a nós que pretendia viver essa ressurreição sobresselente de que fala no versículo 11. E diz: "…mas sim prossigo, por ver se consigo alcançar aquilo para o qual fui também alcançado por Cristo Jesus". Ele ia no barco, ele ia no caminho. É um engano considerar que já estamos completos e perfeitos. Temos que pagar um preço para obtê-lo.

"Irmãos, eu mesmo não julgo já havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo certamente o que fica para trás, prossigo para o que está adiante…". O que já fizemos, fizemos. Agora cabe-nos viver uma nova vida. De maneira que aquele que está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas já passaram; eis que, todas são feitas novas. Agora não vamos mais nos conhecer na carne; nos conhecemos no Espírito. No Espírito, vivamos essa nova criação que Cristo quer que nós vivamos.

"…prossigo para a meta, para o prêmio da suprema chamada de Deus em Cristo Jesus". A salvação não é um prêmio. Mas no trabalho, em nossa negação, na cruz, no sofrimento, na submissão, na obediência, há um prêmio. O prêmio é o Senhor, é estar com ele para sempre, é entrar em seu Reino milenar e reinar com ele. Esse é o prêmio, irmãos - o próprio Cristo em nós.

"Assim, todos os que somos perfeitos…". Porque não vai se dar uma surra em qualquer um, para em seguida levantar-se, sacudir o pó, e seguir pregando. Tem que haver uma perfeição de Deus nele para realizá-lo. E diz: "…isto mesmo sintamos; e se outra coisa sentis, isto também Deus vo-lo revelará". "Mas naquilo a que chegamos, sigamos uma mesma regra, sintamos uma mesma coisa". O Senhor, desde o começo, conheceu-nos e designou para cada um de nós algo específico. Sigamos à meta, para fazê-lo.

Digamos ao Senhor: 'O que é que tu determinaste para mim? Diga-me por Teu Espírito se eu o estou fazendo, Senhor. Ponha em meu coração. Não me deixe quieto, até que eu possa conhecer contigo, por meio do seu Espírito, o que foi o que tu determinaste em minha vida, para o tempo que me resta nesta terra. Não quero chegar diante de ti com as mãos vazias. Não quero levar a ti um montão de lixo e de esterco. Quero levar diante de ti os lucros que tu adquiriste na cruz por mim, e me ajudou a levar a minha própria cruz'.

Não sejamos covardes. Que Deus, em sua misericórdia, encha-nos de sua valentia, de seu Espírito, de seu conhecimento e de sua revelação. Amém.

Síntese de uma mensagem ministrada no Retiro da Sasaima (Colômbia), em Julho de 2008.

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