Como conhecer a vontade de Deus

Considerações práticas para o caminhar cristão.

G. Campbell Morgan

Toda urgência da vida se concentra no momento presente. Tudo o que possuímos é o dia de hoje. O ontem passou de nós. O amanhã não é nosso. O tempo de Deus para o seu povo é indicado por estas duas palavras: "agora" e "hoje".

O nosso estudo sobre a vontade de Deus é de importância prática e imediata no que diz respeito aos interesses do presente. Se nos lembrarmos de "todo o caminho por onde o Senhor nos guiou", será apenas com a finalidade de extrair uma lição das nossas falhas e ser consolado pela infalível fidelidade de Deus, e assim poderemos "esquecer as coisas que para trás ficam" em nossa dedicação à responsabilidade atual.

Se contemplarmos a glória vindoura, faremos isso somente para que a sua luz possa ser uma fonte de inspiração para nós, enquanto "corremos com paciência a carreira que temos adiante". A vontade de Deus é o assunto supremo em cada vida. Tanto o Antigo como o Novo Testamento dão testemunho disto.

Dentro desta vontade, o homem encontra perfeição, prazer, permanência. Ela é viável por causa da sua natureza, sua revelação, e o fato de ser acompanhada com o dom da vida, que torna possível obedecer. É realmente gloriosa, pois o próprio céu jaz dentro do círculo da sua consideração.

No entanto, existe um assunto de importância prática imediata: Como podemos conhecer a vontade de Deus para hoje, em todos os detalhes das horas enquanto elas vão e vêm; e como podemos descobri-la em períodos de crise que possam surgir?

Duas condições preliminares devem ser observadas: desejo e devoção. O desejo deve representar a disposição de obedecer. A devoção deve ser daquela natureza prática que busca o conhecimento e se empenha em pô-lo em prática a qualquer preço.

Cumpridas estas condições, a luz pode vir de três maneiras:

* Da Palavra de Deus.
* Da iluminação imediata pelo Espírito interior.
* Da combinação das circunstâncias.

Examinemos as três em forma separada, e depois em suas inter-relações.

I. As três indicações

1) A Palavra de Deus

Em sua maior parte, a Bíblia não apresenta regras de conduta humana; ela enuncia princípios. Existem algumas provenientes de certas circunstâncias locais que exigiam declarações claras e explícitas de responsabilidade.

Mas considerando que a Bíblia é um livro para todas as épocas, e que os hábitos e costumes mudam, o estabelecimento de normas, que devem necessariamente mudar com a alteração das condições locais, teria frustrado ou elevado o fim em questão.

Por outro lado, a enunciação de princípios que jamais se alteram com a mudança das circunstâncias, exige da parte do homem, em cada geração sucessiva, a aplicação dos seus poderes racionais e atender ao propósito da justiça.

Ao procurar na Palavra o conhecimento da vontade de Deus, não devemos procurar textos que defendam interpretações particulares. Não devemos, por outro lado, fazer "manobras" com a Bíblia, a fim de descobrir mensagens acidentais que nos ajudem a formar julgamentos. É preciso estudá-la com regularidade, devoção e inteligência, para poder descobrir a revelação dos princípios. Sempre que isto é aplicado como um estilo de vida, a mente atuará sob o poder destes princípios e as conclusões alcançadas estarão em harmonia com o propósito de Deus.

2) A Iluminação do Espírito

A doutrina da luz interior não é ensinada suficientemente. Ao crente individual, que é habitado pelo Espírito Santo de Deus, a sua relação com Cristo é feita por ele mesmo, é-lhe concedida a influência direta do Espírito de Deus em seu espírito, comunicando o conhecimento de Sua vontade em assuntos de menor e maior importância. Isto deve ser procurado e esperado. É neste ponto que pode ser bom para o que busca pedir conselho a outro cristão, o qual em oração e conversação pode ser capacitado para trazer luz sobre o problema.

Deve recordar-se até, que os outros só podem dar testemunho quanto ao problema apresentado á partir deste ponto de vista. Tal testemunho é de grande valor. No entanto, não pode ser definitivo e só deve ser dado como sugestão para ajudar a resolver o problema. Nenhum homem ou mulher ensinado pelo Espírito assumirá a responsabilidade de decidir por outro. Finalmente, cada um, depois de ter pedido conselho a outros cristãos, deve retirar-se para um lugar de completa solidão, onde somente possa ser ouvida a voz do Espírito. Em um período de espera desse tipo, deverá ser dada uma resposta clara e definitiva.

3) A combinação das circunstâncias

Na realidade do governo divino, isto pode ser expresso como o abrir e fechar as portas. Não há dúvida de que Deus, em sua infinita sabedoria e poder dirige atos e detalhes de todas as vidas humanas, de tal forma que "todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus". A porta aberta não significa de maneira nenhuma o caminho fácil. Isto é um engano comum. Ouvimos as pessoas dizer que o caminho foi aplainado, e por "aplainado" querem dizer "fácil". No entanto, aqueles que conhecem mais sobre o governo imediato de Deus, confessarão que o caminho mais plano, em geral, foi o mais difícil.

A porta aberta é uma oportunidade criada, a qual está em harmonia com os princípios do governo divino como são declarados nas Escrituras. É também o desejo que foi criado nessa comunhão com Deus, na qual nenhum outro interesse teve permissão para entrar.

Esta é uma consideração muito solene e exige a mais severa precaução. Não existe esfera da vida humana na qual o inimigo penetre com maior êxito, e na qual faça maior destruição, que na esfera da motivação. Desejos fundamentados em outros motivos além da vontade superior, revelam quase sempre portas abertas bem diferentes daquelas que Deus abriria.

II. A tripla indicação

O valor das três indicações examinadas está no fato de que em nenhuma delas, por si mesmo, expressa uma garantia para a ação, mas só em sua combinação.

1) Com relação à Palavra de Deus, muitos princípios de ação conhecidos nela, não são para todos os homens em todas as épocas. Deve haver também luz interior e uma porta aberta.

2) Com respeito à direção do Espírito Santo, não se pode enfatizar muito que tal orientação jamais contradiz a verdade da Escritura. Existe hoje tanta conversa vã sobre a orientação do Senhor, que neste ponto alguém desejaria falar mais alto e solenemente.

Alguns exemplos horríveis de grosseira imoralidade são resultados de seguir o que as pessoas imaginavam ser a direção do Espírito Santo, ainda que a ação estivesse em diretas desobediências às mais enfáticas declarações e exigências da lei de Deus. Isto é blasfêmia da pior espécie. Sempre que se imagina que o Espírito o está conduzindo, é de máxima importância que tal direção seja comprovada pelos princípios da Palavra.

Além disso, o Espírito jamais conduz sem abrir uma porta mais cedo ou mais tarde. Pode ter havido uma espera de demorada disciplina -e habitar na vontade de Deus significa regozijar-se em toda disciplina- e uma espera paciente para que ele abrisse uma porta, ainda que a luz estivesse brilhando claramente quanto ao propósito final do Espírito.

3) Uma porta aberta que obriga a apartar-se da doutrina bíblica é obra do diabo. Por mais evidente que seja o êxito resultante dos esforços feitos nos interesses do reino de Deus, se a base de operação não fosse a lealdade à vontade revelada de Deus na Santa Escritura, o edifício erigido não passa de "madeira, feno e palha", para ser destruído no fogo purificador do último dia.

E, ainda mais, a porta aberta, em harmonia com os princípios da Escritura, não deve ser franqueada, a menos que seja ouvida uma chamada pessoal e se possa dizer: "Faço isto porque tenho o testemunho do Espírito de Deus com o meu espírito de que ele assim o quer".

Em resumo, sempre teremos a prova tripla, que é valioso quanto aos detalhes de cada dia, e nas crises da vida: a verdade de Deus, contida na Palavra de Deus; o propósito de Deus indicado pelo Espírito de Deus; o governo de Deus evidenciado na abertura de portas por parte de Deus.

Uma condição perpétua permanece: a obediência. Esta palavra, como veremos, não é usada aqui precipitadamente. Ela pressupõe um desejo de conhecer e fazer, expressando-se na devoção de buscar e obedecer. Tal obediência será sempre na perfeita confiança do espírito do homem na graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo. Onde existe esta confiança, a obediência vai ser indiscutível, imediata e completa.

A tendência da época é a complacência. Alguns podem ler esta mensagem final e, voltando-se, diz: Isto não é fácil! Quando foi que Cristo sugeriu facilidade aos homens no método arranjado por eles mesmos? Não advertiu ele solenemente a aqueles que queriam segui-lo a calcular o preço, indicando que o caminho de suas pegadas exigia a negação do eu e o tomar a cruz? Se a perfeição do caráter, o prazer da vida, e a permanência do ser, que professamos desejar, devam ser alcançados, isso só será possível mediante grande esforço e atividade: tempo, pensamento, energia - todos são necessários.

Seja o fim como o princípio. Só uma coisa importa: que a vontade de Deus seja feita. Para tal fim, cada um lance fora o prejuízo e "cingindo os lombos do seu entendimento, sede sóbrios, e esperem por completo na graça que lhes trará quando Jesus Cristo for manifestado". O resultado final será a recompensa perfeita de todo o esforço do caminho que conduz para lá.

Tirado do God's Perfect Will.

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