ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Reunindo algumas coisas (2)
Considerações sobre o propósito de Deus e a sua obra presente.
Eliseo Apablaza
A quádrupla obra de Cristo a favor de sua Igreja
Vejamos uma passagem em Efésios 5:23: "...porque o marido é a cabeça da mulher, assim como Cristo é cabeça da igreja, a qual é o seu corpo, e ele é o seu Salvador". Aqui diz que o Senhor Jesus é o Salvador da igreja.
Em seguida, nos versículos seguintes, diz: "Maridos, amai a vossas mulheres, assim como Cristo amou à igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la..." (Ef. 5:25-26). Aqui é acrescentado que o Senhor é o Santificador da igreja.
E em seguida no versículo 29 diz: "...porque ninguém aborreceu jamais a sua própria carne, mas a sustenta e cuida, como também Cristo à igreja". Aqui temos duas maravilhosas funções do Senhor para com a igreja. É o que a sustenta e o que cuida; quer dizer, Sustentador e Cuidador.
Então, todo o plano completo nos mostra que Cristo é: primeiramente Salvador; segundo, Santificador; terceiro, Sustentador; quarto, Cuidador da sua Igreja. Então, quem faz a obra? Quem edifica a sua igreja? A resposta está aqui, nesta quádrupla expressão da obra de Cristo.
E quando tudo estiver concluído, quando findar o tempo, e o Senhor disser: 'Já terminei a minha obra com a igreja; está plenamente edificada, alcançou à maturidade, a perfeição'. Então irá se cumprir o versículo 27: "...a fim de apresentar-lhe a si mesmo, uma igreja gloriosa, que não tivesse mancha nem ruga nem coisa semelhante, mas que fosse santa e sem mancha".
Lembremo-nos da cena em Gênesis, quando Deus criou a Eva para Adão: "Isso é carne da sua carne; saiu de ti, e olha como te devolvo o que tirei de ti. Tirei-te uma costela e olha o que te dou em troca'. E quando Adão a contemplou deve ter ficado extasiado. Assim também Cristo, quando apresentar a si mesmo a igreja que ele santificou, que a salvou, que cuidou, e que ele sustentou. É a sua obra, é a sua maravilhosa obra.
Portanto, que homem poderá dizer: 'Eu acrescentei isto para embelezar a igreja'? A igreja procede de Cristo e voltará para Cristo, embelezada, embelezada para o seu marido. Só o que sai de Cristo pode voltar para Cristo. Nisto a intervenção humana é zero, zero!
É tão doloroso quando há servos de Deus que atribuem méritos a si. Por que se louva a si mesmo? Por que se gloria de ter feito algo? Não diz aqui que Ele é o que faz tudo? Não diz aqui que é dele, por ele e para ele? O que nós temos que ver com a glória de Deus? E é muito mais doloroso ainda escutar pessoas mais velhas atribuir a si méritos na obra de Deus.
Diáconos e escravos
Sabe o que nós somos? Simplesmente somos diáconos. A palavra que se traduz em certos lugares como ministro, significa servidor. Paulo diz a Timóteo: "Quero que sejas um bom ministro de Jesus Cristo", e a palavra ministro ali é diácono.
Então, como se edifica a igreja? Como a igreja madura, cresce? Quando cada membro serve Cristo a outro membro. Ou seja, quando você abraça o seu irmão, quando você lhe diz uma palavra que o consola, quando você lhe sorri - porque às vezes basta um sorriso para ministrar Cristo a um irmão. Cristo não só é ministrado com palavras, mas também com atitudes, com atos. Somos diáconos, servidores.
Na cristandade de hoje é muito comum pôr nomes altissonantes aos servos de Deus. Vocês os conhecem. É usado para destacar um homem de Deus, em circunstância que a única expressão mais repetida, reiterada, nas Escrituras é esta: servidores.
Inclusive, o Senhor chega a utilizar outra palavra: doulos, que é 'escravo'. Somos escravos uns dos outros em Cristo. Então, os grandes títulos são uma coisa lamentável. Somos só servidores, e isto pela graça de Deus, segundo o que cada um recebeu.
Agora, para que alguém esteja disposto a renunciar a esses títulos altissonantes, requer-se a operação da cruz. Porque tem pessoas que acolhem e gostam que o tratem com palavras bonitas. O ego se sente acariciado. Por isso é necessário que se produza uma quebra da nossa egolatria, da nossa presunção, da nossa vaidade. E Deus tem que nos tratar com força por algum tempo, até chegar a aceitar que somos apenas servidores. Não somos amos, não somos senhores, nem nenhuma dessas classes de coisas.
A igreja edifica com Cristo para a igreja
Há uma passagem em Efésios 4 muito utilizado pelos pregadores. Diz: "E ele próprio constituiu a uns, apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres, a fim de aperfeiçoar os santos ". (V. 11-12). Por muito tempo esta passagem era entendida que a tarefa destas cinco classes de ministros era de aperfeiçoar os santos e a igreja. Então, resultava que o 'senhor apóstolo', e o 'senhor profeta' e este outro senhor, eles aperfeiçoam os santos.
Mas olhe, aclaremos um pouco o conceito. A palavra grega que se usa aqui é muito rica em significados; tanto, que o tradutor aqui teve que escolher entre vários, e o que lhe pareceu melhor foi: aperfeiçoar.
Mas à luz de todo o contexto, melhor que aperfeiçoar é capacitar, equipar, tomar a alguém que não tem as ferramentas, que está ferido, que está prejudicado, e pô-lo em condições de fazer a obra de Deus. Simplesmente isso, equipar os santos para a obra do ministério, para que os santos façam a obra do ministério, para que os santos edifiquem o corpo de Cristo.
Então, você repare que muda bastante o assunto? A obra destes cinco ministérios não é aperfeiçoarem os santos e levá-los para a estatura da plenitude de Cristo. Não, é simplesmente dotá-los das ferramentas espirituais para que os santos façam a obra do ministério e façam a edificação do corpo de Cristo.
Não são os ministros da palavra, por assim dizer, os engenheiros, os criativos, os capazes. Eles tampouco são o centro da atenção. O centro da atenção é os santos, a igreja. Nela descansa o trabalho da obra de Deus. Eles realizam a edificação.
1ª Tessalonicenses 5:11 diz: "Pelo qual, exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis". Paulo escreve aqui aos santos, não aos obreiros ou aos anciões. E diz: "Exortem-se uns aos outros e edifiquem-se uns aos outros". Então, quem edifica a igreja? Qual é o meio que Deus utiliza? Quais são as pessoas que Deus utiliza para edificar a igreja? Os santos! A igreja edifica a igreja.
Outro exemplo. 1ª Coríntios capítulo 14. Aqui neste capítulo se fala a respeito da importância da profecia. O tema central não são as línguas, mas a profecia. E no versículo 26, tratando-se das reuniões da igreja, Paulo diz: "Que fareis, pois, irmãos? Quando vos reunis, cada um de vós tem ... cada um de vós tem salmo, doutrina, língua, revelação, interpretação. Faça-se tudo para ... edificação".
Quem edifica na igreja? Os santos. Porque aqui diz: "Cada um tem...". E em seguida no versículo 31 diz: "Porque podem profetizar todos um por um, para que todos aprendam, e todos sejam exortados". Assim, pois, não endeusemos os ministros da palavra. Isto pode começar por algo muito sutil. Pode ser um simples afeto que vai crescendo, e vamos entrando em um terreno perigoso.
A atenção de Deus está posta nos santos, na igreja. São vocês, irmãos. O seu abraço no irmão que está ao seu lado, o seu consolo, o pequeno ou o grande serviço que você presta ao seu irmão, isso o edifica. Assim vamos edificando a todos, estabelecendo laços e elos de amor, de comunhão.
As pregações e o ensino só entregam certas ferramentas, certa capacitação, para que os irmãos em seguida façam a obra do ministério, a edificação do corpo de Cristo.
A multiforme sabedoria de Deus
Efésios 3:10 diz: "...para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais, conforme o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor".
Sabemos que a sabedoria de Deus é Cristo. E aqui diz: "...para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer...". Quer dizer, o propósito eterno de Deus é que Cristo, em sua multiforme expressão, seja dado a conhecer por meio da igreja. Não diz por meio dos obreiros, nem por meio dos profetas, nem por meio dos anciões. Não; é por meio da igreja. A quem? "...aos principados e potestades nos lugares celestiais".
De modo que Cristo está sendo expresso aqui neste acampamento de Callejones. Em todo lugar onde está a igreja, Cristo é expresso em sua multiformidade. Porque somente Paulo não pode expressar a Cristo, porque se fosse assim, o Novo Testamento teria sido escrito inteiramente por Paulo. Necessitava-se de Pedro, necessitava-se de João, e até, note você, necessitava até de Marcos e Lucas, que nem sequer eram apóstolos.
A palavra grega que se traduz como "multiforme" diz muito mais que "multiforme". Entendemos multiforme como algo que tem várias formas, distintas expressões. Mas em grego significa iridescente, quer dizer, uma realidade, algo de muitas cores e que brilha essas cores, que emite brilhos.
Então, por assim dizer, quando as potestades superiores vêem dos céus esta realidade que há aqui em Callejones, e quando vocês ministram a Cristo uns aos outros, quando vocês se edificam uns aos outros, que é o que elas vêem? É como se vissem irmãos, uma multidão de vagalumes de diversas cores. Como vocês crêem que isso seria visto?
Estou dando este exemplo para que nós visualizemos a realidade espiritual de Cristo na igreja. Porque obviamente as luzes de cores e os brilhos é uma forma de exemplificar uma realidade espiritual. O que significa espiritualmente é isto: Que cada um de nós, sendo membros deste corpo que é a igreja, expressamos a Cristo de uma maneira específica, única, irrepetível.
Cada um de vocês expressa a Cristo de maneira diferente. Ou, por assim dizer, até mais ousadamente, cada um de vocês expressa um Cristo diferente. Claro, não quero dizer com isto que haja muitos Cristos. Há um só Cristo, mas em sua expressão tem uma multiformidade tão maravilhosa que não há ninguém que mostre a Cristo da mesma maneira que o outro.
Há detalhes diferentes. Mateus mostra a Cristo como o Rei, Marcos como o servo, Lucas como o homem, João como Deus. Quatro, quatro maravilhosas visões de Cristo. De repente, quando a gente pensa em um rei, não imagina um rei humilde; então Mateus e Marcos não poderiam andar juntos. No entanto, o Senhor é Rei e é como um servo, o Senhor é homem e é Deus.
O Salmo 139 diz que nós fomos criados de acordo com um projeto de Deus que estava escrito em um livro. E em seguida em Efésios 2:10 diz que ele nos fez, assim como a igreja, como um poema. Se a igreja for um poema, você é um verso do poema. Se a igreja for um arco íris, você é uma das cores do arco íris.
Cristo não pode ser expresso totalmente por ninguém em particular. Por isso que quando os irmãos de Corinto diziam: "Eu sou de Paulo, eu sou de Cefas, eu sou de Apolo", e outro dizia: "Eu sou de Cristo", o Espírito Santo através de Paulo se levanta para dizer: 'Estão equivocados! Vocês não podem amar só ao Cristo de Paulo, porque é como estar tomando uma parte de Cristo e excluindo as outras. Vocês têm que amar o Cristo de Paulo, mais o Cristo de Cefas, mais o Cristo de Apolo'. Todos expressam a Cristo de uma maneira diferente, e nós não temos que dizer: 'Este ou aquele', mas sim: Este e aquele, este e este e este e este e aquele'. É a iridescencia de Cristo. Assim, cada um de nós em particular é só uma cor, só um brilho.
Quando nós ainda não vemos a igreja, sofremos muito com a idéia de ter que conter e expressar tudo o que Cristo é. 'Ai! Tenho que ser um cristão completo, maduro, espiritual, que seja um bom pregador, que expulse demônios, que seja compassivo, que seja um bom visitador, etc. Eu tenho que alcançar a soma da perfeição. Eu tenho que expressar a Cristo, e todos os frutos do Espírito, e realizar todas as bem-aventuranças'.
No entanto, isso nunca será possível. O Cristo completo só podemos vê-lo na igreja, não em uma pessoa somente. Assim que não se decepcione se você vê um irmão que mostra a doçura de Cristo, mas que na hora de ter a autoridade de Cristo, ele não a pode expressar. Não lhe é dado expressar esse aspecto de Cristo; mas outro o expressará.
Por isso, quando vemos a multiformidade de dons, e a multiformidade de expressões de Cristo que há na igreja, quando surge uma determinada necessidade no meio da igreja, procuramos os irmãos que receberam os dons adequados para suprir essa necessidade. Aí estão os servos que Deus preparou, que preparou de antemão para cumprir esse ministério e desenvolver essa função'.
Então, no corpo de Cristo encontramos o descanso e a paz. Quando descobrimos o nosso lugar no corpo - que é a de ser um só membro, a de fazer talvez uma só coisa - descansamos porque no corpo estão todas as demais graças que eu não tenho.
Assim, irmãos e irmãs, estes dias vocês escutaram várias mensagens, viram a muitos irmãos e irmãs fazendo coisas, servindo. Vocês vejam, no conjunto, a beleza de Cristo. Que maravilhoso é Cristo!
Cada um de nós faça o que o Senhor lhe chamou para fazer, cumpramos as obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas, resplandeçamos a cor de Cristo que nos é dado expressar, e deixemos que cada um mostre o seu. Eu me alegrarei com a linda cor verde que você expressa, e a rosada que expressa aquele outro irmão, e amarelo que expressa o que está mais à frente -estou falando metaforicamente-. Esse é o Cristo multicolorido, iridescente, que somos como igreja.
Assim, quando vemos estas coisas, nós vamos saindo de nós mesmos, do "eu", para entrar no "nós". Por muitos anos falamos tudo na primeira pessoa do singular: "Eu te mando", "eu digo", "eu creio", "eu proponho", etc. OH, individualismo! Temos que sair do "eu" e entrar no "nós".
O que nós somos? Somos individualistas ou um corpo? Inclusive, ao dizer "eu e os meus colaboradores" estamos nos pondo por cima dos outros. Melhor seria dizer que somos 'colaboradores', que colaboramos com Deus, todos juntos. Irmãos, o único que tem colaboradores é Deus. Nós temos companheiros, conservos, co-obreiros. Isso é corpo de Cristo. Que o Senhor nos ajude.
Extraído de uma mensagem ministrada em Callejones, janeiro de 2008.