Os tempos e as ocasiões próprias de Deus

A jornada cristã, ordenada para que Cristo seja formado nos crentes.

Andrew Webb

Leitura: Eclesiastes 3:1-8, 11; Gál. 4:19.

Para esclarecer algo, queria ler o primeiro versículo de Eclesiastes 3 em minha versão em inglês. Diz: "Para tudo há uma ocasião própria; e um tempo para cada propósito debaixo do céu".

Os que conhecem e os que não conhecem

Certamente, esta passagem em Eclesiastes tem uma revelação dupla; tem revelação espiritual e tem revelação natural. Quer dizer, esta passagem poderia ser aplicada a qualquer ser humano, já que todos passamos por este mundo e todos passamos por diferentes ocasiões, por diferentes tempos.

A diferença, entretanto, entre as pessoas que estão no mundo e os que foram chamados fora deste mundo, é conhecer o propósito de Deus; porque, quando se conhece o propósito de Deus, todos os tempos que vivemos têm sentido.

Este livro de Eclesiastes é conhecido pela frase: "Vaidade de vaidades". Quando Salomão o escreve, registra em muitos versículos a perspectiva do homem que não sabe do propósito de Deus. E o que destaca aqui, e o que o Espírito Santo quer nos mostrar, é que mesmo que alguém esteja vivendo ocasiões diferentes, algumas boas e outras difíceis, tudo tem o seu sentido quando vemos que o Senhor fez belo cada tempo.

Na passagem que lemos: "meus filhinhos, por quem torno a sofrer dores de parto, até que Cristo seja formado em vós" (Gál. 4:19), Paulo tinha isso muito claro nesse tempo da sua vida espiritual. Já tinha claro o que era o mais importante. Seja o que for que acontecesse, seja o que for que estavam vivendo os crentes nas igrejas na Galácia, o mais importante era que Cristo fosse formado neles.

E é assim ainda conosco hoje. Por Sua graça, chegamos a conhecer o propósito de Deus, o mistério que estava oculto pelos séculos e gerações. Agora, no Novo Pacto, nos concedeu esta graça enorme que não alcançamos para descrever com palavras: tem nos sido dados a conhecer os mistérios de Deus, os mistérios a respeito do nosso caminhar aqui na terra. Este é o propósito: Que Cristo seja formado em nós; assim, poderemos viver estes tempos, tranqüilos, sabendo que são tempos formosos em que o Senhor está se tornando muito maior em nós.

Que proveito tem que os homens trabalharem, que se afadiguem em suas ocupações? É vaidade de vaidades, porque o máximo que um homem poderia esperar fazer nesta terra é fazer-se famoso, que o seu nome siga sendo repetido pela humanidade, pelos séculos. Certamente, há homens que alcançaram isso; há homens e mulheres de séculos atrás que têm fama até hoje em dia. E o mundo tem orgulho de nomear certos conhecimentos que essas pessoas alcançaram. Mas, no final, esses nomes não serão lembrados.

"Palavras do Pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. Vaidade de vaidades, disse o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Geração vai, e geração vem; mas a terra sempre permanece" (Ecl. 1:1-4). Sim, sempre permanece, nesta dispensação. Mas virá outra dispensação, e os nomes destes homens e mulheres desaparecerão, e haverá só um nome que tem eco em todo âmbito, em todo lugar, que é Jesus Cristo. Ele terá um novo nome; ainda não sabemos qual é, mas certamente estaremos declarando esse nome precioso por toda a eternidade. Estaremos lhe adorando. Esse é o nosso futuro.

Então, para nós, os tempos que vivemos agora não são vaidade de vaidades, pois têm um propósito. O tempo que vivemos hoje é um tempo belo, feito belo por Deus. Mas só é assim quando temos esta revelação em nosso coração. E quando estamos passando por tempos que não queríamos passar, é nesses momentos que esta revelação vai nos manter firmes.

É somente quando podemos ter a perspectiva de ver estes tempos do ponto de vista de Deus, que vão se transformar, não em vaidade de vaidades, mas em tempos maravilhosos. É necessário, irmãos, que o Espírito Santo faça este trabalho em nós. É necessário que Cristo seja formado em nós. Isto é o que tem valor e tem brilho pela eternidade.

Diferentes jornadas na trajetória espiritual

Estamos acrescentando dia a dia o peso, o valor da eternidade, em nosso ser, por seguir a Cristo, por permitir que ele seja formado em nós. Este é o propósito de nossas vidas. Por isso é certo que o povo de Deus tem que passar por jornadas, por ocasiões próprias. É necessário para essa formação.

Deus não pode permitir que fiquemos em uma só jornada toda a nossa trajetória espiritual, porque assim Cristo não seria formado em nós. Seria formado um aspecto de Cristo em nós, mas não seria o bendito caráter de Cristo em toda a sua plenitude.

Vêm novos tempos, vêm novas etapas, novas ocasiões, no natural e no espiritual. Quer dizer, que o Senhor permite que todas estas ocasiões, todas estas etapas naturais, passem. E o Senhor as usa para a sua glória, para o seu propósito.

É certo que Satanás está operando no mundo e está levando a cabo os seus propósitos de iniqüidade; mas o Senhor tem absoluta e total soberania sobre todas essas maquinações. Não importa o que acontece no mundo, não importa como as nações estão conspirando contra o Cristo, porque o Senhor é soberano sobre esses planos. Então, o Senhor usa com grande efeito os tempos naturais, para levar a cabo os seus propósitos.

"Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar". Irmãos, a lista é longa, mas podem apreciar aí uma dualidade. Há sempre dois aspectos; cada tempo tem o seu oposto. Há tempos mais agradáveis, gloriosos, benditos; há ocasiões em que há muita riqueza espiritual; há tempos de edificação, há tempos de amor entre os irmãos. E também há tempos difíceis; há obstáculos. Mas o Senhor preparou todos, e cada um é belo.

É certo que a Palavra diz que o caminho terá que ser aplainado, varrer as pedras. Mas também aqui diz "tempo de juntar pedras". Porque às vezes é necessário que Deus ponha umas pedras em nosso caminho, para que nos demos conta que nós realmente somos vasos de barro; mas ele sempre estará ali para nos levantar.

Ele não põe o mal em nosso caminho. Se houver algum mal em nosso caminho, é porque nos apartamos desse bom caminho. Mas Deus permite que haja pedras em nosso caminho, para que a glória do Senhor possa ser vista.

Há diferentes etapas: há a infância, há a juventude, há a maturidade, há a velhice. E cada etapa traz novas experiências, e cada uma dessas experiências são necessárias para que, no espiritual, também vamos avançando da infância para a maturidade.

Cada etapa natural vem com uma dualidade espiritual. É necessário que nós, os jovens, aprendamos dos mais velhos, porque percorreram este caminho da fé por muito mais tempo. E é necessário que vejamos estes tempos como belos.

Remindo o tempo

É verdade também que há uma palavra como Efésios 5, que diz que temos que remir o tempo. Efésios 5:16 diz: "...remindo o tempo, porque os dias são maus" (RV2000). Isto está dito em outro contexto, é obvio. Falo com os jovens: Muitas vezes vemos isto e pensamos que temos que aproveitar todo o tempo enquanto somos jovens, e tentamos fazer muitas obras, e começamos a medir o nosso êxito espiritual enquanto lemos a Palavra, quanto oramos, quanto jejuamos, quantas boas obras praticamos. Mas é um fio muito fino entre a espiritualidade e o mero ativismo.

"Remir o tempo" não é por obras, mas por quanto de Cristo se forma em nós por meio dele. Não é pelo êxito que podemos ter em nossa relação pessoal ou coletiva com o Senhor.

Pode haver tempos maravilhosos, gloriosos, na igreja, e todos nos regozijamos. E depois vem um tempo mais difícil, e alguém se pergunta: 'O que está acontecendo? Por que o Senhor agora não se agrada de nós?'. Mas todos os tempos têm o seu propósito: Que Cristo seja formado em um novo aspecto, em uma nova forma, em nós. É necessário passar por estes tempos, porque Deus ordenou assim os passos do homem.

O mundo não conhece isto. O mundo, simplesmente, passa pelas diferentes etapas, e quando vêm as dificuldades, cada um depende de si mesmo para sustentar-se em pé. Mas nós não dependemos de nós mesmos, mas sim do Senhor.

Então temos que entender que "remir o tempo" é no sentido de quanto de Cristo está sendo formado em nós. Existe em nós um tempo perdido para Deus; mas esse tempo que muitas vezes vemos como perdido não é tempo perdido para Deus. Há uma diferença. Às vezes, nós medimos os tempos pelos 'êxitos espirituais', pelas obras, pela glória que é vista; mas nos tempos em que não se vê isso, não significa necessariamente que é um tempo perdido.

A única forma em que se pode perder o tempo para Deus é afastado do seu caminho; então Cristo não é formado em nós. Então pode produzir uma contradição: Que podemos dedicar toda a nossa vida em sermos religiosos, e Cristo não está sendo formado, mas é a nossa própria justiça que está sendo formada em nós. Nisso poderíamos passar toda uma vida, e seria tempo perdido para Deus.

A genealogia do Senhor Jesus, no primeiro capítulo de Mateus, é muito clara em dizer que há quatorze gerações entre Abraão e Davi, e de Davi até o cativeiro da Babilônia, e da saída da Babilônia até a geração do Senhor. Mas se alguém olhar para a história do povo de Deus, não eram exatamente quatorze gerações. De fato, o Espírito Santo tirou pelo menos três reis da genealogia entre Davi e o cativeiro. Por que? Porque esses foram tempos perdidos para Deus; porque aqueles homens, ao contrário de deixar que Cristo fosse formado neles, ao contrário de acrescentar algo ao propósito de Deus, desviaram-se, e por isso não são contados dentro da genealogia, não são contados dentro das gerações que Deus leva em conta.

O dia da provação

Agora quero falar algo da minha própria experiência, aos pais jovens. Alguém já não teve um tempo para dedicar-se ao Senhor, e agora começa a pensar que não tem a mesma relação com o Senhor que teve antes? Mas não é assim, irmãos. Seja o que for que estejamos passando, estamos em tempos maravilhosos. E a única coisa que temos que nos preocupar é de que Cristo esteja sendo formado em nós.

Esta é a glória máxima: Quando Cristo está formado coletivamente na igreja, a igreja se transforma em gloriosa. Não se mede isto pela reunião em si. Mede-se pelo conjunto de todos os nossos corações, e quanto estamos nos preocupando de que Cristo seja formado em nós. Este é o nosso desejo no Senhor.

Uma última passagem, Habacuque 3:17-19: "Embora a figueira não floresça, nem nas videiras haja frutos, embora falte o produto da oliveira, e os campos não dêem mantimento, e as ovelhas sejam tiradas do curral, e não haja vacas nos currais; contudo, eu me alegrarei no Senhor, e me regozijarei no Deus da minha salvação. Jehová o Senhor é a minha fortaleza, o qual faz os meus pés como o das corsas, e em minhas alturas me faz andar".

"Embora a figueira não floresça...". Me recordo da vara de Arão que floresceu: Uma vida de ressurreição, uma vida verdadeira. E às vezes, irmãos, não vemos isso em nós; não vemos uma vida que corresponda a isso, em casa, no segreto, em nosso coração. Nem sequer os nossos pais, nossas esposas, nossos maridos, nossos filhos, sabem disso, nós sabemos que não há essa realidade.

"...nem nas videiras haja frutos...". É obvio, o Senhor Jesus disse que ele é a videira verdadeira, e nós os ramos, e todo aquele que não dá fruto é lançado no fogo. Queria dizer aqui, simplesmente, que às vezes não damos os frutos que nós deveríamos dar. Talvez estejamos dando frutos, mas não nos damos conta; só que não correspondem aos frutos que nós gostaríamos de dar.

"...embora falte o produto da oliveira, e os campos não dêem mantimento...". As nossas obras. Possivelmente já não há boas obras; talvez estejamos passando por um momento difícil; possivelmente não podemos nem estar estimulados para ir a uma reunião, quando todas as nossas obras caem por terra.

"...e as ovelhas sejam tiradas do curral, e não haja vacas nos currais". Quando não há unidade no corpo, quando há uma ovelha por aí e outra por lá, e não se podem juntar.

"Contudo, eu me alegrarei no Senhor, e me regozijarei no Deus da minha salvação ... o qual faz os meus pés como deas corsas, e em minhas alturas me faz andar".

Há tempos em que o Senhor gostaria de ver todas estas coisas; mas também há tempos em que não vamos ver estas coisas. Não vamos ver obras; tristemente, não vamos ver muita vida. Mas o importante em tudo isso é que esse gozo que não se pode acabar está presente. Esse gozo, o gozo da salvação, é por conhecer o propósito eterno de Deus.

O gozo de conhecer o propósito eterno de Deus

Não é regozijar-se na própria salvação, porque já fomos salvos. Isso foi um fato no passado, e já passou. E então é compreensível que esse gozo poderia acabar-se. Mas quando alguém conhecem os propósitos de Deus, pode dizer: 'Eu tenho o gozo da minha salvação, porque estou no caminho celestial, vou para o alto, vou para os propósitos de Deus. Tenho em meu coração à igreja; quero ver os dias da igreja gloriosa. Quero ver a vinda do Senhor; quero passar pelo que preciso passar'.

Irmãos: Todos nós estamos na escola de Cristo e precisamos passar de ano. Ninguém pode ficar para trás. Alguém pode chegar na próxima realidade e dizer: 'Eu não quero passar isso'. Mas o Senhor é misericordioso. Muitas vezes, nem sequer nos damos conta da etapa em que vamos entrar, até entramos nela. E aí vem o socorro do Senhor, aí está tudo o que necessitamos para passar de ano, em Cristo, não em nós.

"...e em minhas alturas me faz andar". Deus nos pôs em Cristo. Estamos nele, e estamos sentados com ele nos lugares celestiais. Aconteça o que acontecer, seja qual seja a ocasião de tempo que estejamos vivendo, não importa; isso não muda o fato de que estamos assentados com Cristo; que ninguém pode nos separar do Seu amor. O importante é que o nosso coração esteja atento a quanto de Cristo está sendo formado.

A preciosidade de Cristo

Eu quero ser semelhante a Jesus, e creio que vocês também. Vocês tem visto algum homem tão formoso como aquele Filho do Homem que vemos nos evangelhos? Vocês já viram algum homem tão equilibrado, tão perfeito?

Muitas vezes olhamos para nós mesmos e dizemos: 'por que tenho este caráter? por que tenho isto? Isso é porque vimos algo maior; isso é porque vimos um ser humano mais perfeito. Se não, estaríamos contentes com o que somos. Diríamos: 'Bom, tenho isto; mas não importa. Quem é melhor? Quem não tem faltas?'.

Eu conheço um, e só um que não tem faltas. O Senhor Jesus Cristo, quando andou na terra, era tão formoso; as suas respostas, tão ternas. O Deus do Antigo Testamento mandava fogo e consumia às pessoas quando o tentavam; mas o Senhor Jesus não fez isso. Poderia ter feito quando os homens lhe bateram na face. Ele disse: "Se disse algo mal, por que me ferem?". Jamais saiu da sua boca uma palavra que não fosse formosa. Era paciente, tinha compaixão, era humilde. Tinha tanto amor pelas pessoas, das quais nós queremos nos distanciar.

Nos evangelhos, nós vemos em quem queremos ser transformados. Vemos a imagem do Deus invisível. Por gerações e gerações, ninguém viu jamais a Deus. Mas hoje nós podemos dizer que com os nossos olhos espirituais vimos ao Senhor. Na bendita Escritura, vemos este Filho do Homem passando pela terra, sofrendo. Ele passou pelas mesmas etapas que nós estamos passando hoje; por isso ele pode compadecer-se de nossas fraquezas, por isso ele é o grande sumo sacerdote.

Ele sabia quando manter silêncio e sabia quando falar. Sabia quando era o tempo de tirar as pedras, e quando as pôr nos caminhos deles. Ele passou por todos estes tempos que mencionamos em Eclesiastes, e saiu aprovado. E nós também queremos sair aprovados; queremos este mesmo caráter, esta mesma vida que já está em nós. A sua vida já está em nós, mas faltam os tempos, faltam as ocasiões, faltam as experiências, para que Cristo seja formado.

Mas nesta provação que estamos vivendo é necessário que rendamos o nosso coração. E a única coisa que nos sustenta nesses momentos, é que podemos dizer: 'Senhor, eu quero que o seu propósito se cumpra em mim'. É certo que temos fraquezas nestas ocasiões mais difíceis, mas o Senhor é bom, e ele tem esses belos tempos preparados para a igreja.

Se alguém veio pela primeira ou segunda vez a esta reunião, não gostaríamos que você ficasse no nível natural, simplesmente passando os seus dias, pois, aconteça o que acontecer, é vaidade de vaidades. Temos que dizê-lo assim, porque conhecemos um Caminho maior, conhecemos uma Pessoa mais gloriosa. Chama-se Jesus Cristo, e ele quer o seu coração, e quer te pôr em um caminho novo. Já não caminhará sobre esta terra com um propósito tão baixo como ser bem-sucedido, ter uma casa ou ter um automóvel, mas viverá pelo propósito eterno de Deus - que Cristo e toda a sua formosura seja visível em ti. E viverá por toda a eternidade expressando esta pessoa. E esse também, irmãos, é o nosso desejo.

Que assim seja.

Síntese de uma mensagem ministrada em Temuco, abril de 2008.

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