O Homem que tu deves conhecer

Uma revisão da Personalidade humana mais atrativa.

Marcelo Díaz

Em minha infância recebi um livro de presente, titulado "O Homem que você Deve Conhecer". O meu avô, que era pastor, me presenteou. Em seu interior estava registrada a vida de Jesus nos evangelhos. O título era um convite para conhecer Jesus Cristo. Hoje, depois de muitos anos, ainda não terminei de conhecer-lhe e de admirá-lo, pois Jesus é o Homem perfeito. E lhe conhecer é um desafio para toda a vida.

Os evangelhos têm como propósito nos mostrar a sua vida; são quatro distintos visões para uma mesma Pessoa. Uma releitura delas nos permite observar detalhes da pessoa de Jesus que são verdadeiramente surpreendentes. O estudo das suas palavras, conduta e atos, possibilita-nos aproximar de conhecer o homem segundo Deus, o protótipo perfeito da criação. Simultaneamente, o Espírito Santo se encarregará de revelar ao nosso espírito a sua preciosa Pessoa.

Jesus é o mesmo ontem, hoje e pela eternidade, e o desafio de lhe conhecer ainda é latente. Muitas pessoas rejeitam a Jesus sem sequer conhecer um pouco da sua verdadeira história. Pergunto-me, é justo fazer um juízo de alguém sem primeiro haver-lhe conhecido? Conhecer a Jesus é uma decisão que cada ser humano deve tomar a sério.

Desde pequeno dedicamos tempo a tantas coisas, deixando o transcendental. Enchemos as nossas mentes de personagens históricas e grandes pensadores, a quem admiramos e veneramos; mas não dedicamos tempo de verdade para conhecer o autor da vida.

Queria, através deste breve artigo, dar uma ligeira apreciada na vida de Jesus. Como o Filho de Deus se esconde no Filho do Homem, e como o Filho do Homem mostra o Filho de Deus aos seus mais íntimos amigos. Jesus foi e será o personagem maior de toda a história.

Um início no anonimato

No princípio, Jesus aparece aos homens no meio de um estábulo. Ele, sendo Deus, vestiu-se de células no útero humano; fez do ventre materno a sua casa. Voluntariamente se limitou às paredes do endométrio e ao desenvolvimento embrionário durante nove meses.

Ao nascer, cresceu sob a disciplina de uma família judia simples; novamente se limitou à formação de pais humanos, e para subsistir, adotou o oficiou do seu pai José, um carpinteiro, oficio no qual escondeu a sua glória por muitos dias até o tempo estabelecido por Deus.

A partir dali, ele começou a manifestar-se. Permaneceu muito tempo no anonimato; viveu escondido trinta anos da sua vida. Ele, sendo o resplendor da glória de Deus, voluntariamente se 'camuflou' entre os homens.

Nós, pelo contrário, queremos ser conhecidos, e desde meninos lutamos pelo primeiro lugar em tudo o que a vida nos proporciona. Educam-nos para sermos os melhores, quanto mais nos destacamos mais somos premiados. Somos impulsionados para uma vida centrada em nossas necessidades. Há no coração humano um forte desejo por ser admirado e reconhecido. Basta-nos uma pequena olhada para a nossa história para farejar quanta vaidade e orgulho enchem as nossas páginas. Não importa se prejudicarmos a outros com o fim de cumprir os nossos propósitos. E uma vez alcançados, redesenhamos novos planos a fim de saciar o nosso apetite.

Jesus ao contrário, com uma firme decisão, despojou-se da sua glória, humilhou-se a si mesmo fazendo-se homem, e nessa condição nos serve, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.

Jesus teve como missão nos revelar o Pai. Escolheu um punhado de homens com quem compartilhou longas horas; a quem, ao cabo de um tempo, chamou de amigos, e é nesse contexto que Jesus despiu a sua alma.

A pressão do Getsêmani

Em uma ocasião, pouco antes de morrer, Jesus Cristo viveu a maior pressão psíquica e espiritual que homem algum pode resistir. No monte das Oliveiras, o jardim chamado Getsêmani, que significa prensa de azeite, foi macerado psiquicamente. Todas as forças do inferno estavam contra ele, e, por outro lado, todo o eterno propósito de Deus descansava sobre os seus ombros.

Jesus orava ao seu pai em uma aflição inimaginável. A sua alma estava tão triste que se aproximava dos limites da morte. Lucas, como médico, assinala que o seu estado era uma agonia, na qual ocorreu um sintoma físico poucas vezes visto na medicina, que a partir da pressão psíquica e espiritual que experimentava, os seus vasos sangüíneos arrebentaram e o seu suor era como grandes gotas de sangue. No meio deste panorama, decidiu confiar a três discípulos a sua mais frágil humanidade, dizendo-lhes: "A minha alma está muito triste, até a morte, ficai aqui e velai comigo" (Mateus 26:38).

Será possível que Jesus, aquele que sustentava todo o poder, fosse comovido por semelhante emoção? Por outro lado, Jesus necessitava compartilhar a sua tristeza com os seus discípulos? Jesus não escondeu os seus sentimentos mais íntimos; ao contrário, precisou compartilhar a sua carga. No momento mais transcendente da sua vida, antes da cruz, Jesus não quis estar sozinho, escolheu três homens quem pouco antes meigamente chamou amigos. "Já não vos chamarei servo... mas vos chamei amigos" (João 15:15).

Rodeado de amigos

A palavra hebraica traduzida no Antigo Testamento por amigo, significa 'um associado' e vem da raiz 'pastar'. No grego do Novo Testamento procede de 'amante'. Quer dizer, um amigo é um do rebanho que apascenta contigo. Um que ama. Jesus, o bom pastor, que amou intensamente os seus amigos.

Que exemplo mais precioso se esconde no Homem Jesus! As disciplinas que estudam a conduta deveriam pôr a sua atenção nele e assim descobrir quanta riqueza se encontra contida em sua Pessoa.

Hoje nos encontramos com um tipo de homem tão distinto, solitário, independente, individualista. Promove-se uma liderança capaz de ultrapassar todo obstáculo, manter um domínio estóico das suas emoções, não mostrar nenhum pingo de dependência. Proliferam seminários de liderança nos quais se ressaltam a figura plenipotenciária de um homem auto-suficiente, seguro, sem sinais de fraqueza. A perfeição se associou a não-necessidade de outro. Mas muito internamente sabemos que a vida do ermitão é anormal. A nossa natureza nos obriga: O homem não foi criado para estar sozinho. Fomos feitos para outros e para si. O mesmo Senhor se rodeou de amigos no sentido mais puro da palavra.

Necessitando de outros

Por esta razão é que todo crente, da mesma forma que Jesus, necessita de outros em quem descansar. G. Campbell Morgan escreve a respeito e diz: "Faz alguns anos um amigo me deu uma entrevista que compilei em minhas notas privadas. Era de Mrs. Craik, em sua obra 'Vida pela vida', e a repito aqui por ser uma bela expressão deste pensamento: "OH, que consolo, que inefável consolo o sentimento de sentir-se seguro com uma pessoa, não tendo que avaliar os pensamentos ou medir as palavras, mas sim vertê-las tal como são, palha e grão juntos, sabendo que uma mão fiel vai separá-los, guardando o valioso, e com um alento de bondade espalhará o resto".

Quanto perdemos ao fechar o coração à generosidade dos outros. Uma alma encapsulada é um duro trabalho à intervenção divina: "…Se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica só…" (João 12:24).

A noite que o Senhor foi entregue foi a mais angustiante da sua vida. Os discípulos compungidos pela cena que se apresentava diante dos seus olhos, não puderam suportar a dor e se inundaram de tristeza ao ponto de ficarem dormindo. Novamente Lucas, com o seu senso médico, registra-o da seguinte maneira: "Quando se levantou da oração, veio a seus discípulos e os achou dormindo por causa da tristeza" (Luc. 22:45).

O irmão Augusto Jorge Cury, psiquiatra, explica assim este fenômeno que ocorreu nos discípulos: "O sonho dos discípulos era uma grande defesa inconsciente. Uma defesa que tinha como objeto evitar vislumbrar a agonia do mestre e, ao mesmo tempo, repor a energia cerebral consumida em excesso pelo processo de hiper-aceleração de pensamentos e tensão".

Quer dizer, em poucas palavras, a tensão dos discípulos era quase tão igual a de seu mestre. Neles se ativou um processo psicossomático inconsciente de sobrevivência emocional, que gastaria todas as suas energias deixando-os sem forças para acompanhar a Jesus. O seu sonho não era mais do que uma defesa para superar o momento.

Podemos confiar em quem vai falhar?

Agora pensemos um momento nesta cena: O ambiente era de tanta tensão, que os discípulos sonolentos e perturbados por causa da tristeza, escutavam ao longe a oração do Mestre. E ficaram dormindo. Mas Jesus, compungido, orava, sabendo que todo o advir do universo dependia da sua decisão. Entretanto, orou com os seus amigos, mesmo sabendo que não suportariam velar uma hora junto com ele. Mais tarde, o Mestre, com um tom afável e misericordioso, os acorda meigamente e instrui os seus amigos.

Que gesto mais sublime. Outra vez Jesus nos dá um golpe magistral. Podemos confiar em alguém ainda sabendo que em algum momento vai falhar conosco? Ninguém quer correr esse risco. Quem se conhece a si mesmo sabe da fragilidade humana - por isso custa-nos tanto confiar em outros. Que exemplo mais surpreendente vemos em Jesus. Ele, sabendo que os seus amigos não poderiam chegar a lhe acompanhar nem sequer uma hora, ainda assim confiou e se acercou deles.

Jesus não teve temor à desilusão; bebeu o copo da decepção e não se separou dos seus amigos. Com um ânimo heróico se agarrou a sua condição de homem, não a negando naqueles que o cercavam. Assim, amou-os até o fim. Sem sombra de dúvidas, Jesus é a pessoa mais cheia de virtude que tenha pisado nesta terra. As suas palavras e feitos são dignos de serem contemplados e estudados.

João, o apóstolo, contemplou-o mais que nenhum outro discípulo. Com profunda admiração viu com os seus próprios olhos a glória do Filho de Deus no Filho do Homem, e escreve o que também hoje é o testemunho daqueles que lhe conhecem: "E há também muitas outras coisas que fez Jesus, as quais se fossem escritas uma por uma, penso que nem ainda no mundo caberiam os livros que se teriam que escrever. Amém" (João 21:25).

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