"Santificado seja o teu nome"

Uma apreciada nos nomes de Deus.

Roberto Sáez

"Vós, pois, orareis assim: Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o teu nome" (Mateus 6:9).

A oração conhecida como Pai Nosso, contém três petições concernentes aos interesses de Deus: Santificado seja o teu nome, venha o teu reino e seja feita a tua vontade. "Notem a ênfase centrada no pronome Tu". As outras petições estão centradas nas nossas necessidades.

O propósito é destacar neste artigo a primeira das três petições, já que Jesus está ensinando os discípulos a orar. Está dando instruções de como se devem fazer as práticas devocionais, tais como a esmola, a oração e o jejum. "Quando deres esmola… não faças como… Quando orar não faças como os hipócritas… Vós orareis assim: Pai nosso, que estais nos céus santificado seja o teu nome".

Mesmo que a vida cristã não seja uma vida de regras, pois não depende de normas ou leis, a vida cristã é a vida de Deus, a vida do céu que nos foi manifestada em Jesus Cristo e que agora está em nós pelo Espírito Santo, não obstante, nós que temos esta preciosa vida, necessitamos de instruções, passos certeiros e retidão no fazer. Temos que estabelecer a ordem nas prioridades, e quanto à oração, o mais importante, então, é santificar o nome do Pai.

O Nome do Pai

Jesus, orando ao Pai, disse: "manifestei o teu nome aos homens…" (João 17:6) Qual é este nome? Não se trata de um título específico, mas da revelação da natureza divina e seus atributos, os quais são impossíveis de descrever com um só título. Podemos ter uma visão do significado do seu Nome, observando a pessoa, a vida, as obras e os ensinos de Jesus.

O que observamos em Jesus, referente à revelação do nome divino, fica confirmado também através dos muitos nomes com que Deus se revela a si mesmo no Antigo Testamento. Nas experiências com os patriarcas, com Moisés e com o Povo de Israel, Deus se revelou a si mesmo, dizendo: "Eu Sou o que sou… está contigo, o Todo-poderoso, o seu Dono, o seu Curador, a sua Bandeira…"; e assim vai se revelando progressivamente. Todos esses nomes são aplicados ao Senhor Jesus no Novo Testamento.

Jesus é JESHUA em hebreu, e significa Salvação. Em toda a Bíblia, Jesus tem 252 nomes e todos eles convergem para um só nome e este é JESHUA. Pedro dá testemunho que "não há outro nome debaixo do céu, dado aos homens, em que possamos ser salvos" (Atos 4:12) O aspecto mais marcante que Jesus nos revelou de Deus o Pai é que ele tem prazer em salvar. Jesus ensinou que conhecê-lo é conhecer o Pai, quem vê a ele, vê o Pai, porque ele está no Pai e o Pai nele, e ele e o Pai são um. Não que seja a mesma pessoa, mas um, em essência. O que alguém é também o outro é. Assim se o Pai sente prazer em salvar, o Filho igualmente salva; se observarmos o que são as obras do Espírito Santo no livro de Atos, veremos que o Espírito Santo também salva.

Jesus se apresenta como "Eu Sou o Pão". Como Pão, nos salva da fome; como Luz, nos salva das trevas; como Caminho, nos salva de estarmos perdidos; como Pastor, salva-nos de nos desencaminhar. Assim, todos os nomes de Cristo convergem em Salvação, o mesmo que os nomes de Deus no Antigo Testamento.

Deus havia dito a Israel antes de entrar na terra prometida: "O lugar que Jehová seu Deus escolher de entre todas as vossas tribos, para pôr ali o seu nome para a sua habitação, esse buscarão e lá ireis" (Deut. 12:4). No Antigo Testamento, esse lugar foi Siló temporariamente e posteriormente Sião, uma figura de Cristo, aquele que é o lugar definitivo em que Deus pôs o Seu nome, a fim de que congregados em Seu nome possamos experimentar a manifestação de Deus.

Jesus disse: "Onde estiverem dois ou três congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles" (Mateus 18:20). A manifestação de Deus no meio da reunião dos congregados em seu nome sempre resultará em expressões de salvação, porque Deus está nos santificando a fim de que sejamos dele. Ele quer estar conosco, reunir-se conosco, a fim de dar-se a conhecer, e que nós, ao lhe conhecer, possamos desfrutar lhe adorando por sua grandeza. Israel, em suas reuniões, aproximava-se de Deus através dos sacrifícios; nós o fazemos através do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo o Senhor.

Os nomes de Deus no Antigo Testamento

Como são muitos, e muito extensa a explicação de cada um deles, vamos expor alguns e de forma breve, por causa do espaço.

Eloim: Este é o primeiro nome de Deus no Antigo Testamento. Aparecem centenas de vezes; somente no capítulo 1 de Gênesis são 32 vezes. Com este nome, Deus se revela como o que tem a governabilidade do Universo, o poder para a criação de todas as coisas, é o Deus que está por sobre as nações. A palavra "El" significa, em hebreu, Deus. A terminação "im" indica pluralidade, o qual diz que Deus não é uma pessoa, nem um indivíduo, mas uma unidade que habita em pluralidade de pessoas. A pessoa de Cristo está incluída em Eloim, participando ativamente como agente da criação. O Senhor Jesus revelou os mesmos atributos de Eloim, ao ter domínio sobre o criado: caminhar sobre as águas, repreender os ventos e o mar, tirar uma moeda da boca de um peixe, ressuscitar os mortos.

El Shadai foi traduzido como o Todo-poderoso ou também como o Onipotente. Este nome foi revelado a Abraão, no contexto da promessa de ter uma descendência numerosa. A promessa demorou a cumprir-se, Abraão e Sara tiveram que morrer para si mesmos para herdar o que Deus lhes tinha prometido; o filho chegou quando eles, humanamente falando, nada podiam ter. Isto costuma também a acontecer aos cristãos: queremos tomar a herança de Deus com os nossos próprios esforços. Deus se assegura de que lhe conheçamos como o Todo-poderoso; leva-nos ao limite das nossas forças para ele se mostrar como o Deus do impossível, já que nesse limite nós não podemos, e então vermos que ele pode. El Shadai também denota pluralidade de pessoas.

Adonai foi traduzido como Mestre, Amo e Senhor. Abraão viveu em um regime de escravos e amos; em um regime desta natureza, o amo tem poder absoluto sobre os servos e os servos devem obediência absoluta aos amos. Abraão tinha muitos servos; sendo assim, foi fácil entender a Deus como Amo, estando ele como servo. No Novo Testamento Jesus é chamado destas três maneiras, sendo a mais contundente "Senhor". Com este nome é mencionado mais de 650 vezes. As vezes que se traduz como "amo" é "adon" sempre referido a homens; só quando se refere a Deus leva o "ai" porque também denota pluralidade.

Os três nomes comentados revelam que Deus é uma família.

Yahvé Jireh: Este nome de Deus foi revelado a Abraão quando ia sacrificar a Isaque. O moço perguntou: "Onde está o cordeiro para o holocausto?"(Gênesis 22:7). Quando Abraão estava a ponto de cravar a faca para sacrificar o seu filho, Deus proveu o substituto, um animal emitiu um balido de entre os ramos. Abraão entendeu que ali estava a provisão de Deus. Viu de antemão, quer dizer, uma previsão, não só da que Deus lhe dava nesse momento para o seu filho, mas também a que Deus daria para todo mundo na pessoa do Messias. Viu de antemão, recebeu uma provisão, sobre a base de uma previsão. Então, no monte Moriá, onde tinha levantado o altar para sacrificar o seu filho, naquele mesmo lugar dois mil anos mais tarde morreria o Cristo e chamou a esse lugar: "Jehová proverá" (Yahvé Jireh). Portanto se diz hoje: "No Monte de Jehová será provido" (Gên. 22:14).

Até aqui, Deus se revelou aos patriarcas com alguns nomes que revelam o que é a sua pessoa e os seus atributos. Transcorrem mais de 400 anos, até que se mostra a Moisés com o nome divino das quatro consoantes: JHWH.

JHWH: foi traduzido como Eu Sou. Os masoretas, estudiosos do idioma hebreu nos séculos VII a XII, D.C. colocaram as vocais de Adonai no nome divino das quatro consoantes, ficando como Yahvé ou Yawe. Mais tarde, no século XVI, os espanhóis, na Versão Reina Valera, colocaram Jehová. O som do nome divino se perdeu, porque os escribas em Israel cuidavam muito em pronunciar o nome de Deus em vão. Como isto se tornou complicado, então decidiram escrever somente as consoantes, evitando as vocais. Com o tempo, o som se perdeu, e até agora não se sabe qual é o som original do nome divino. Mas Jesus diz que ele revelou o nome do Pai aos homens. Não se trata, então, de um título, mas sim da revelação, e por trás do nome -segundo o conceito daquela época em que viveu Jesus- estava a pessoa. De modo que através dos títulos de Deus conhecemos as pessoas que há em Deus, e a isto se refere Jesus com a revelação do nome do Pai.

Deus diz a Moisés: "E apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Onipotente, mais no meu nome Jehová não me dei a conhecer a eles" (Ex. 6:3). É interessante que a partir da revelação do nome divino das quatro consoantes, traduzido como o Eu Sou, Deus se revela a Moisés, manifestando daí em diante na história de Israel, este nome divino seguido de um substantivo, adjetivo ou verbo: Eu Sou o teu Curador, Eu Sou a tua Bandeira, Eu Sou o teu Pastor, Eu Sou a tua Paz, e assim por diante.

Santificado seja o teu Nome

O que significa santificar o nome de Deus? Na forma prática, santificar o nome de Deus é manter a fé no que Deus diz que é; no que Deus tem revelado de si mesmo. Eu Sou a tua Provisão, Eu Sou o teu Sustento, Eu Sou o teu Curador… Nestes dias em que o mundo incrédulo julga a Deus pelas calamidades na antiga Birmania, na China, ou o vulcão Chaitén no Chile, os crentes seguem dizendo que Deus é bom, que para sempre é a sua misericórdia. Esta lição os israelitas aprenderam. Muitas vezes estiveram no limite das suas forças, sendo provados de uma ou de outra maneira. Nesses momentos, alguém dentre os cantores emitia uma proclama: "Diga agora Israel, que Deus é bom e que para sempre é a sua misericórdia" - aparecem várias vezes no Salmo 107, fazendo memória da história de Israel. No Salmo 46:2 assinalam que embora a terra se movesse, os montes fosse transportado para o coração do mar, e as águas bramarem, eles não teriam temor, porque Deus estava com eles.

O nome das consoantes, essencialmente, é o Deus que esta presente, o Eterno. A tradução em espanhol, não fica tão clara, porque só se refere a Deus com o verbo ser, mas no original hebreu, Deus é o que está presente. Não se pode saber quem é Deus, se não estiver presente. Jesus disse que ele estaria conosco todos os dias até o fim do mundo: "Não temais, porque EU SOU o que está convosco", deveria ser a tradução do grego para o espanhol, no relato de Jesus caminhando sobre as águas.

O que significa santificar o nome do Pai, então? Significa sustentar a fé no meio das contrariedades da vida, quando tudo pretende negar a Deus, quando os ímpios se levantam para desacreditar a Deus, quando o seu próprio coração se desestabiliza da fé, por causa das pressões da vida. Temos que proclamar a nossa fé, pois o que vence o mundo é a nossa fé. Declarar o que Deus é, o que Cristo é, exaltar a Deus o Pai e a nosso Senhor Jesus Cristo apesar das provações ou no meio das provações; não perder a confiança.

O que aconteceu entre os doze espiões que foram ver a Terra Prometida? Por que vendo a mesma coisa, dez deles relataram o que viram de forma negativa, e dois o fizeram positivamente? Porque uns o viram com incredulidade e outros com fé, e isso é todo o assunto.

Profanar é justamente o contrário de santificar, o profano é o que está fora de Deus, o que não anda nos seus caminhos, com os seus intuitos, com o seu caráter, com a sua natureza, com a sua Pessoa. Santificar é colaborar com Deus, é fazer notória a diferença entre o santo e o profano, entre o que é de Deus e o que não é. Portanto, santificar o nome do Pai é estabelecer, por meio da fé, no meu próprio coração, o que Deus é para mim. Quando tudo me diz "Não", quando a minha circunstância é adversa, quando não entendo por que acontecem certas coisas, quando Deus desaparece da minha vista, a minha primeira resolução tem que ser centrar todo o meu coração no Senhor, proclamando o que Deus é para mim. A incredulidade deixa Deus de fora, desconhece-o, rejeita-o; mas a fé o inclui.

A revelação do nome Jahvé-Shalom ("Eu Sou a tua Paz") a Gideão mostra esta realidade de uma forma maravilhosa. Os dias de Gideão eram escuros. Os medianitas e os amalequitas vinham sobre os campos de Israel como bandos selvagens, destruindo o que tinha sido semeado, matando os animais. Israel teve que esconder-se em cavernas; alguns vigiavam o inimigo para não serem surpreendidos.

Haviam transcorrido 200 anos da morte de Josué. Naquele tempo deveriam ter entrado no repouso de Deus, mas agora viviam em completa intranqüilidade (é interessante que na raiz da palavra 'impiedade' está a palavra 'intranqüilidade'). Neste contexto, apareceu o Anjo de Jahvé a Gideão lhe dizendo: "Jehová está contigo, varão esforçado e valente" (Jz. 6:12). Aqui está completo o conceito do nome divino das quatro consoantes YHWH: "Eu Sou, é o que está contigo". Gideão responde: "Ah meu Senhor, se Jehová está conosco, por que nos sobreveio tudo isto?" (6:13).

Se lermos o contexto, observamos que é um descaramento perguntar a Deus o que estamos passando, quando vivemos fora da sua vontade. Israel, nesses dias, tinha a Baal e Asera, ídolos que estavam à porta da casa de Joás, pai de Gideão. "E Jehová olhou para ele…" (V. 14); o Anjo de Jehová agora é identificado como o próprio Jehová. Isto é uma revelação de Jesus Cristo - uma cristofanía, uma aparição antecipada de Cristo. "…Vai com esta tua força e salvarás a Israel da mão dos madianitas. Não te envio eu?" (V. 14). Gideão reage oferecendo um sacrifício diante de Jahvé, o qual é aceito com o sinal do fogo. Quando vivemos separados de Deus, a única forma de nos aproximar dele é através de um sacrifício.

A palavra "Shalom" é usada muitas vezes no AT., em diferentes contextos e aplicações, e se traduz como: pagar, aperfeiçoar, correto procedimento em uma transação comercial, as contas pagas, estar bem, estar em paz. É usado como saudação: Shalom é também "Paz para vós". No Brasil usam: 'Tudo bem?', na forma de pergunta, e leva a idéia de saber se tudo está bem, se tudo está em paz, se não há problemas. Na redenção é usada esta palavra, para fazer a paz entre os que estão separados de Deus pelos pecados; a dívida para ficar em paz teve que ser paga. Deus ensinou isto no livro de Levítico. Ali temos a oferta de paz. Foi esta oferta que Gideão apresentou a Jahvé. Em seguida, Gideão viu face a face o anjo de Jahvé, o qual lhe dice: "Paz seja contigo" (V. 23). Então Gideão edificou um altar a Jahvé, "e o chamou Jehová-Salom" (V. 24). Depois desta revelação do nome divino, veio a obediência: Gideão destruiu os ídolos da casa de seu pai, e partiu para a vitória contra o inimigo.

Isto nos diz muitas coisas. Ídolo é tudo o que se opõe a Deus. Temos posto diante de nós outros amores, seja homem, mulher, fama, dinheiro, o que quer que seja que substitui a Deus a um segundo plano? Não podes estar em paz com Deus a menos que reconheças que tens vivido fora da sua vontade e te aproximes dele por meio de Jesus Cristo.

Cristo é a nossa paz, ele pagou por nós, ele nos ofereceu a sua paz nos dizendo: "A paz vos deixo, a minha paz vos dou" (Jo. 14:27); ele ofereceu estar conosco todos os dias até o fim do mundo: Eu Sou, que está contigo, Eu Sou a tua paz. Você pode notar que o Deus do AT é o mesmo do NT? Todos os nomes de Deus no AT encontram pleno cumprimento na pessoa, na obra e nos ensinos de Cristo.

Uma vez mais, confirmamos que santificar o nome do Pai não é só repetir um título, mas permanecer, pela fé, na revelação do que há por trás do nome, isto é, a Pessoa, os atributos da Pessoa, o que é e o que faz esta Pessoa por e para nós. A pessoa do Senhor Jesus Cristo nos revelou o Pai através das suas obras: "Eu sou o que te sara", disse Deus a Israel quando sarou as águas amargas de Mara. Jesus através das suas obras curou os doentes. O que Deus faz no AT o faz também no NT. Deus nos revelou em Cristo; quem viu a Cristo viu também ao Pai.

Quando você orar, relembre, sustente a fé com respeito a quem é o Pai para você, sobre a base do que Cristo lhe mostrou. Verá que embora a prioridade esteja em enfocar o que é o "Tu" de Deus, "O SEU NOME", resultará em beneficio para você. Quando você santifica o nome do Pai é você quem ganha, porque o que você confessa em relação ao que Deus é repercutirá em sua vida para o seu próprio bem.

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