Reunindo algumas coisas

Considerações sobre o propósito de Deus e a sua obra presente.

Eliseo Apablaza

Dele, por ele e para ele

A obra de Deus não se origina no homem, mas em Deus. Quando a Escritura diz: "Porque dele, por ele, e para ele são todas as coisas", quando diz que Jesus é o Alfa e o Ômega, e quando diz também que "nele foram criadas todas as coisas", e em seguida diz que "tudo foi criado por meio dele e para ele", significa que ele é o autor, que projetou, antes dos tempos dos séculos, tudo o que nós temos hoje e somos hoje por sua graça.

O homem, quando quer fazer a obra de Deus, quando quer servir a Deus, pensa que ele pode ajudar a Deus, que ele pode começar algo que em seguida Deus aprove e lhe ponha a sua assinatura. O homem, em sua presunção, está acostumado a pensar que ele é capaz de fazer coisas para Deus. E talvez alguns pudessem perguntar: 'Por quem veio isto que está aqui entre vós? Quem idealizou este projeto de igreja, este modelo da igreja?'.

A resposta a isso é que nenhum homem o tem feito, nem nenhuns homens - no caso sendo vários. Quando a Escritura diz que "dele, por ele, e para ele são todas as coisas", significa que todas as coisas têm a sua origem em Deus. A obra de Deus tem a sua origem em Deus, tem a sua realização por meio do poder de Deus, e tem seu fim para a glória de Deus.

Quando os cristãos se consagram ao Senhor e querem servir a Deus, começam a pensar: 'Como posso fazer? Ah… vou começar desta maneira, vou continuar daquela, vou tomar estas idéias daqui, estas outras idéias de lá, para fazer um projeto de igreja. Isto é o que eu creio que a Deus vai agradar'.

Somos muito criativos na hora de pensar como servir a Deus. Somos muito engenhosos, e todos nós queremos ser engenheiros na obra de Deus. No entanto, uma das primeiras grandes lições que Deus tem que ensinar aos seus filhos, é que eles não podem projetar nada, nem podem iniciar nada para Deus. Simplesmente devem procurar descobrir qual é o propósito de Deus, qual é o projeto de Deus, qual é a vontade de Deus - essa vontade eterna que ele traçou para que nós a realizássemos.

No Salmo 139 encontramos algo maravilhoso. Ali diz que Deus nos formou no ventre da nossa mãe, de acordo com as coisas que estavam escritas em Seu livro. De tal maneira que tudo o que nós somos física ou psicologicamente, obedece a um desenho preestabelecido por Deus, e isso estava escrito em um livro.

Isso é no pessoal. E em Efésios 2:10 diz que nós somos feitura dele, "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas". Aqui não se refere ao que somos, mas ao que temos que fazer. De tal maneira, se unirmos o Salmo 139 e Efésios 2:10 temos uma coisa interessante. Tudo o que nós somos, o projeto de Deus de antemão, e aquilo que temos que fazer, também já está projetado de antemão.

De maneira que não deixa margem para a nossa criatividade, para a imaginação, porque ele em sua inteligência, fez-nos feitura dele. E a palavra feitura no grego é poiema, que se traduz também para o espanhol como poema, quer dizer, uma obra de arte. Porque somos, como igreja, a coisa mais maravilhosa que Deus tem feito.

Uma das coisas mais difíceis para os cristãos, quando querem começar a servir a Deus, é esperar que Deus tome a iniciativa. Quando alguém se consagra ao Senhor, ele pensa que se consagra para fazer coisas para Deus. Mas a primeira coisa que Deus faz quando nos consagramos é dizer-nos: "Espera"; e esse esperar é muito difícil.

Em Atos 13, vemos cinco profetas e mestres que estão ministrando ao Senhor. Todavia eles não se atrevem a fazer a obra de Deus. Eles decidiram esperar em Deus para esperar dele a ordem, a iniciativa, para que o Senhor pudesse introduzi-los em Sua obra.

Uma das provações mais difíceis para um servo de Deus é quando se consagrou para servir, e Deus não lhe permite servir. Alguém disse muito sabiamente que nós somos chamados por Deus para lhe servir e para não lhe servir, para fazer coisas e para não fazer coisas. Há momentos de atividade e há momentos de inatividade.

Uma obra de Deus, portanto, começa em Deus. Ele é a origem, ele é o Alfa. Se algo não começar em Deus, então não é aprovado por Deus, não tem valor espiritual. A igreja, ao contrário, é uma realidade espiritual.

Em seguida diz: "por ele", e a passagem de Colossenses nos ajuda muito, quando diz "por meio dele". Ou seja, ele não só tem que dar o ponto de partida, não só tem que originar uma obra, mas também tem que realizá-la, ele, com os seus recursos, por meio do seu Santo Espírito.

Isto é algo que nos aniquila, põe-nos nervosos. Se nós não tivermos algum discernimento espiritual não vamos entender nem vamos aceitar.

Então não há nada a fazer? Ou seja, o homem não tem nenhuma participação na obra de Deus? Como é isto de que Deus é o originador, o realizador e o fim da Sua obra? O homem fica humilhado. É inútil, não sabe, não pode.

Quando dizemos que ele é o Alfa e o Ômega, sim, está claro, é o princípio e o fim. Mas e o meio, o percurso entre o Alfa e o Ômega, fica ao nosso arbítrio?

Se esse fosse o caso, não poderíamos dizer: 'Toda a glória é de Deus', porque diríamos: 'Deus tem a glória de ter começado isto; mas nós temos a glória de havê-lo levado a cabo'. Mas Deus não divide a sua glória com ninguém. Se você roubar a glória de Deus, vai ter problemas. Porque "dele, por ele e para ele são todas as coisas".

Em todo o mundo

Agora, como é que isto aconteceu? Como explicar este fato que estamos vivendo, que estamos compartilhando juntos?

Deus começou uma obra, e não só aqui, neste pequeno país nos confins do mundo. Deus está levando a efeito em muitos países do mundo uma preciosa obra de restauração. De tal maneira que aqui não há exclusividade nem há mérito em nada. "Deus... se propôs em si mesmo reunir todas as coisas em Cristo, na dispensação do cumprimento dos tempos...".

Alguns dos irmãos que nos visitam provavelmente dizem: 'Isto deveria estar ocorrendo lá, em minha cidade; assim faremos um transplante'. Não, irmãos. Não é necessário tentar fazer igual lá. Se Deus ainda não começou lá, vai fazê-lo, e vai fazer algo próprio, não uma mera cópia. E provavelmente Deus está falando com você para que se ofereça para o Senhor e lhe diga: 'Senhor, eu sei que eu não posso fazer nada, não posso iniciar nada. Mas, Senhor, se não encontrar a outros melhores, conta comigo. Senhor, me sentirei honrado se tu me escolheres para colaborar contigo".

Por sua misericórdia, o Senhor nos permitiu ter contato com irmãos de muitos países. E à medida que avançávamos nisto, pudemos notar que havia um denominador comum: Deus está fazendo exatamente o mesmo em todos os países do mundo. O tempo está curto, o Senhor vem logo, e nós estamos sendo envolvidos na obra de Deus para a restauração da sua igreja. E isto é algo que nos comove.

A progressão da obra de Deus

Vejamos uma palavra em Atos capítulo 20. Este é o discurso de Paulo aos anciões da igreja em Éfeso. Vocês vejam como este discurso de Paulo mostra o processo gradativo de revelação que Deus faz a respeito da sua obra. E vejamos como nos sentimos representados por estas palavras de Paulo.

Versículo 21: "... testificando a judeus e a gentios sobre o arrependimento para com Deus, e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo". O começo da obra de Deus entre os homens é o arrependimento e a fé.

Em seguida diz no 24b: "... Contanto que acabe a minha carreira com gozo, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus". Aqui temos um terceiro ponto: o evangelho da graça de Deus.

E seguimos lendo: "E eis agora, sei que nenhum de todos vós, entre os quais passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu rosto". (V. 25). Aqui há outro elemento: o reino de Deus.

"Portanto, eu vos protesto no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus". (vv. 26-27). Notem vocês que isto que diz no verso 27 é mais ou menos o mesmo que diz no verso 20. Quer dizer, Paulo se propôs não esconder nada dos irmãos de Éfeso, mas compartilhar com eles tudo o que tinha recebido da parte de Deus.

Este é, então, a ordem de todas aquelas coisas: o arrependimento, a fé, a graça, o reino. Mas falta algo. Verso 28: "portanto, olhai por vós, e por todo o rebanho em que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentar a igreja do Senhor, a qual ele adquiriu por seu próprio sangue". Aqui aparece a igreja.

Então, o que é que nós vimos em nossa própria experiência, como também na dos outros? Que esta é a ordem que Deus segue na revelação do seu propósito. Primeiro, o arrependimento, a fé, o evangelho da graça. Em seguida, o evangelho do reino. Aí vemos a autoridade, o governo, o senhorio do Senhor Jesus Cristo. Implica um compromisso, uma entrega, uma consagração. E finalmente, no versículo 28, Paulo anuncia que a plenitude do propósito de Deus se relaciona com a igreja.

Então nos damos conta por que em Gênesis capítulo 2, o começo da história da redenção, aparece um matrimônio e depois, nos últimos capítulos de Apocalipse, há outro matrimônio. Adão e Eva nos falam da igreja e em seguida temos a desposada, a igreja, com o seu Noivo. Então, a igreja é o centro, porque a igreja é uma só coisa com Cristo.

Quando dizemos que Cristo é a cabeça, isto significa que a igreja é o corpo. É uma só realidade, porque não há corpo desligado da cabeça, e porque a natureza do corpo é a mesma natureza da cabeça.

Há cristãos que ficam na metade do caminho, dizendo: 'Nós estamos pregando o arrependimento, a fé, e a salvação. Temos que evangelizar, e temos esse mandamento em Mateus 28: 'Ide e pregai'. Está bem, esse mandamento está ali, é inevitável. Mas esse é só o começo da obra de Deus.

E em seguida temos "o evangelho da graça", em que nós vemos que tudo é pelos méritos do Senhor. E há cristãos que também ficam estacionados pregando o evangelho da graça. Inclusive alguns deliberadamente dizem: 'Eu prego só a graça. Não me moverei dalí'. Mas, irmãos, Deus tem mais, tem muito mais.

Outros avançam um pouco mais, até o reino de Deus. 'OH, sim, o reino é a grande verdade das Escrituras'. E fala de obediência, sujeição, etc., etc. No entanto, o conselho completo de Deus chega até a igreja, à relação de Cristo e a igreja.

Amados irmãos e irmãs, em que ponto você se encontra, ou se encontra a igreja na qual você se reúne, ou a obra a qual você pertence?

Necessidade de revelação

Agora, para conhecer Cristo e a igreja requer revelação. O Senhor disse a Pedro: "Isto não é coisa tua, isto é revelação do Pai". Em seguida, quando lemos Efésios e Colossenses, encontramos que Deus tem um mistério que é Cristo, e Cristo tem um mistério que é a igreja. Portanto, há um duplo mistério ali. E naturalmente, para que um mistério seja desvendado é necessário que haja iluminação, o que a Bíblia chama "revelação". "Por revelação me foi declarado este mistério", diz Paulo.

Aqui há uma coisa interessante. Paulo recebeu a revelação do mistério e o escreveu, e está escrito aqui nas epístolas de Paulo. Nós poderíamos pensar: 'Bom, basta que eu leia o que Paulo explica no que consiste ao mistério, e eu já conhecerei o mistério'. Mas não é assim.

É necessário espírito de sabedoria e revelação para poder entender o mistério do qual Paulo tem escrito. Na Bíblia tem a explicação do mistério, mas a revelação desse mistério não é alcançado por conhecimento bíblico, mas pelo Espírito Santo diretamente em nossos corações.

Podemos passar muitos anos estudando a Bíblia, e conduzir toda a terminologia, mas não há revelação do mistério. Não se trata apenas de conhecer o que Paulo escreveu sobre o mistério, mas também ter revelação sobre o mistério do qual ele escreveu.

Cristo é um mistério e a igreja é um mistério, que só o Espírito Santo pode revelar. Por isso, Paulo ali em 1ª Coríntios fala dessa sabedoria oculta, "coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem subiram ao coração de homem são as que Deus revelou aos que o amam". E estas coisas não é idéia humana; porque só o Espírito de Deus conhece as coisas ocultas e profundas de Deus, e só o Espírito pode nos dar a conhecer isso.

O Senhor disse em certa oportunidade: "Te louvo Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes estas coisas dos sábios e dos entendidos e as revelastes...". A quem? "...aos pequeninos". "Sim, Pai porque assim foi do teu agrado". E em seguida diz: "Ninguém conhece o filho senão o Pai, ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Então, aí nos fecha um círculo. Só o Pai conhece o Filho, e só o Filho conhece o Pai. Só o Filho conhece o que é a igreja. E nós não podemos entrar nesse círculo, porque é hermético.

Como nós poderíamos entrar no oculto de Deus, nos mistérios de Deus, se ele não nos abrir a porta, se ele não nos conceder um brilho da sua luz? Então, por isso, com respeito a isto, nós estamos impotentes, impossibilitados. Por isso o Senhor diz: "...ocultastes estas coisas de uns e as revelastes a estes outros". O Pai esconde e o Pai revela. E, quem vai perguntar-lhe isto ou vai contestar a Deus: por que escondestes estas coisas daqueles e por que as revelastes a estes outros?". Quem vai dizer isso a Deus?

Mas, eis que aqui nos encontramos neste ponto, em que Deus nos revelou por sua graça alguns dos seus caminhos, mostrou-nos algo do seu coração, mostrou a Cristo. Cristo, por sua vez, mostrou-nos algo a respeito da sua Igreja.

Construtores, não arquitetos

Não é que saibamos tudo, não há ninguém que possa presumir isso. Estamos recém começando, pela misericórdia de Deus. Não somos arquitetos, mas construtores. Paulo diz: "Eu como perito arquiteto pus o fundamento", e a palavra "arquiteto" ali ficaria melhor como "construtor". "Eu como perito construtor". Porque o arquiteto é o que desenha, e Paulo não criou nada.

Nenhum servo de Deus criou nada. Simplesmente ele recebeu um projeto que Deus desenhou, e o executou. Assim ocorreu com Paulo. O mesmo ocorreu com Moisés. Deus não deu a Moisés nenhum milímetro de liberdade, para que este adicionasse algo a esse projeto, caso contrário, provavelmente, Moisés teria feito um tabernáculo com forma de pirâmide.

O mesmo aconteceu quando Deus quis que fosse construído o templo em Jerusalém, os planos foram mostrados a Davi. E Davi depois diz a Salomão: "Filho, Deus não me deixou construir; escolheu a ti. Mas aqui estão os planos que Deus me deu. Tem que fazê-lo de acordo com estes planos".

Então, notem como Deus se preocupa com a sua casa. Quando ele constrói uma casa para si, ele não admite a intervenção do homem. Ele é quem projeta tudo, até nos mínimos detalhes. Ocorreu assim com o tabernáculo no deserto, com o templo em Jerusalém e também com a igreja. E talvez devêssemos dizer: '...e principalmente com a igreja', porque a igreja é a casa definitiva de Deus.

Construtores e não arquitetos. A obra não é nossa, a obra é de Deus. Nós somos simplesmente convidados, por sua misericórdia, para colaborar, para participar com ele nas coisas que ele já planejou.

Extraído de uma mensagem ministrada em Callejones, janeiro de 2008.

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