Santificar e glorificar

O que significa que Deus seja santificado em seus filhos?

Gonzalo Sepúlveda

"Santificado seja o teu nome... Santificai a Deus o Senhor em vossos corações… Pai, glorifica o teu nome… Eu te glorifiquei na terra" (Mt. 6:9; 1 Ped. 3:15; Jo. 12:28; Jo. 17:4).

A maioria dos crentes estão familiarizados com estas expressões da Palavra do Senhor.

O contexto de 1ª Pedro capítulo 3 se torna muito aclarador. É preciso que os cristãos permaneçam separados de toda espécie de mal, e se formos padecer, que seja fazendo o bem, se a vontade do Senhor assim o determinar, mas jamais como malfeitores. Pois em tal caso, a responsabilidade seria nossa, e o padecimento inútil.

Santificamos ao Senhor quando assumimos os nossos próprios erros, faltas ou pecados cometidos, quando julgamos a nós mesmos e nos humilhamos devidamente diante da sua presença.

Santificamos ao Senhor quando pedimos perdão a quem ofendemos ou defraudamos, seja à família, os irmãos da igreja ou ao nosso próximo neste mundo.

Se não santificarmos permanentemente ao Senhor, as nossas orações se tornarão impedidas, a comunhão com os irmãos começa a decair, enfim, todo o interesse por servir ao Senhor começa a enfraquecer-se e, pior ainda, paulatinamente vamos ficando expostos a pecados maiores, e as conseqüências poderiam ser desastrosas se não reagirmos a tempo.

Um dos sintomas mais notórios deste decaimento espiritual, é que começamos a ressaltar as falhas e enganos dos outros. A falta de juízo pessoal deriva tragicamente em juízo para os irmãos.

Quando a comunhão de um crente com o seu Senhor é limpa, fresca, fluída, cheia do Espírito Santo, também estará cheia de misericórdia e amor para os mais fracos, com um zelo santo pelas coisas que correspondem à vida do corpo de Cristo, jamais com uma crítica ácida e desqualificante.

O Senhor se santifica

Deus teve que santificar-se a si mesmo nas vidas de Moisés e Arão no deserto, porque eles lhe representaram mal no caso da falta de água em Meribá, no deserto de Cades (Num. 20: 9-13), este fato teve como conseqüência que ambos foram impedidos de entrar em Canaã. O Rei Davi foi severamente repreendido da parte de Deus pelo profeta Natã, porque não teve a capacidade de santificar a tempo o nome do Senhor (2 Sam. 12: 7-14). Tal pecado de Davi foi bem conhecido por Joabe e certamente por outros servos próximos ao rei. Se Deus não tivesse intervido para julgar a Davi, os servos teriam tido argumentos contra o Senhor, lhe julgando como um Deus que tolera a impiedade dos seus filhos. Davi viveu então a maior seca espiritual que é conhecida e sofreu as conseqüências de sua falta de confissão (Sal. 32).

Aprendamos de uma vez que se não nos apressarmos em santificar ao Senhor, ele próprio o fará e as conseqüências podem ser trágicas.

Pedro, o discípulo intrépido e impulsivo, contradisse a seu Mestre, jurando que jamais lhe negaria. O pranto amargo atrás de sua derrota foi um juízo de si mesmo que santificou ao Senhor (Mat. 26).

Cada vez que Deus se santifica, Deus se separa do homem quanto à responsabilidade. Nas Escrituras abunda o registro de ocasiões em que Deus se santificou em seus filhos e em seus servos para que ficasse muito claro às gerações posteriores que ele nada teve a ver com as faltas e pecados deles. Faltar-nos-ia o tempo para falar de Nadabe e Abiú (Lev. 10: 1-3), do profeta Eli (1 Sam. 2: 27-35), do rei Saul (1 Sam. 15: 22-28), do rei Uzías (2 Cr. 26: 16-21) e de muitos outros. Alguns morreram antecipadamente, outros foram excluídos do serviço, outros terminaram leprosos até a sua morte.

Lembre-se irmão, se você não se apressar em santificar ao Senhor, ele próprio se encarregará de santificar o seu Nome em sua vida.

O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, adverte-lhe com respeito a "manter a fé e a boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado naufragaram quanto à fé" (1ª Tim. 1:19). Manter a boa consciência está diretamente relacionado com santificar ao Senhor. Só um ativo e permanente julgamento sobre nós mesmos permitirá a nossa consciência 'manter-se boa', quer dizer, limpa, sem impedimento algum, para comunicar-se com o Espírito do Senhor.

Enquanto uns mantêm a fé, outros naufragam - adverte o apóstolo. Isto nos fala claramente de que em alguma parte o pecado começa a invadir "a nossa embarcação" até fazê-la naufragar. Tal é a triste historia de muitos cristãos que retrocederam para os seus antigos costumes, ofendendo o seu Salvador e acarretando dores, tanto para si mesmos como para quem os rodeiam.

Mas em Deus há perdão. Se nos voltarmos para ele arrependidos, santificando assim o seu santo Nome, nos receberá com misericórdia.

O Filho glorificando ao Pai

Olhando para o nosso Senhor Jesus Cristo somos iluminados e consolados. Em um momento de aflição, ele tomou a decisão correta: "Agora esta perturbada a minha alma, e o que direi?, Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome" (João 12:27).

O contexto nos fala da proximidade da cruz. Ser 'salvo desta hora' teria sido evitar a cruz, optar por uma alternativa mais cômoda para si mesmo; mas graças ao Senhor, que não tomou tal caminho. Hoje nós somos o fruto daquela bendita decisão e louvaremos eternamente o seu nome por sua grande salvação.

"Pai, glorifica o teu nome…" é a expressão de uma firme resolução interior de avançar na direção correta. Também nos fala de uma linda comunhão, fluída, imediata, sem rodeio algum, própria de alguém que tem a sua visão limpa, para ver o trono de Deus sem obstáculo algum de consciência. Que cena mais brilhante do nosso Senhor!

Justamente aqui é onde repousa o singelo segredo da constante vitória do nosso Mestre: "Via o Senhor sempre diante de mim; porque está à minha mão direita não será abalado" (Atos 2: 25-28).

Nada entorpecia a constante comunhão do Filho na terra com o seu Pai nos céus. Pela mesma razão, nada podia debilitar-lhe nem desviar-lhe do caminho de amor e serviço ao Pai em benefício de todos os homens. Por tal razão, igualmente os espíritos lhe obedeciam, os pães se multiplicavam, e até os ventos e a tempestade do mar se acalmaram diante da voz da sua autoridade.

"Então veio uma voz do céu: Glorifiquei-o, e o glorificarei outra vez" (28). A imediata resposta do Pai mostra o seu agrado, a sua alegria e a sua permanente companhia celestial. O Pai já tinha sido glorificado em todo o viver prévio do nosso Senhor Jesus Cristo. Desde o seu nascimento até este ponto, o seu amor e poder, o seu caráter, bondade e autoridade tinham sido plenamente expressas pelo Filho. A sua vontade tinha sido feita de tal maneira que quem via o Filho podia ver o Pai. Desta maneira o Filho glorificou ao Pai. Agora, a expressão "o glorificarei outra vez" nos indica o que vinha a seguir, quer dizer, a crucificação, morte, ressurreição e exaltação do Filho.

Glória a Deus, porque tudo isto se cumpriu maravilhosamente!

Hoje o contemplamos coroado de honra e de gloria à mão direita da Majestade nas alturas, e na terra gozamos da bendita presença do Consolador, o Espírito Santo que nos sustenta e vivifica.

Quando o Senhor Jesus reconhece que o seu tempo se cumpre, ora a seu Pai: "Eu te glorifiquei na terra; acabei a obra que me deste para fazer" (Jo. 17:4). Quer dizer, "minha razão de viver foi manifestar o teu amor, o teu nome, as tuas palavras, o teu perdão, a tua compaixão e a tua vida aos homens". Quanta realidade e satisfação há nestas palavras do nosso Senhor!

Entendemos que para nós também há uma hora em que seremos avaliados, no final da nossa carreira, quando cruzar o Seu olhar, doce e por sua vez escrutinador, com o nosso (temamos tão somente em pensar nisso): "Bem, bom servo e fiel, sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te porei; entra no gozo do seu Senhor" (Mat. 25: 21), serão as benditas palavras de sua aprovação para quem lhe seguiu e o serviu com fidelidade. Para outros, no entanto, as palavras serão de dura e inapelável repreensão.

Nosso estado

Qual é o nosso estado hoje, irmãos? Que coisas perturbam a nossa alma? Que avaliação o Senhor faz de nós no dia presente?

Nós não somos como o Senhor. A nossa história está infestada de faltas, de inconseqüências, de tropeços, de reclamações amargas, de pecados, enfim, de períodos obscuros e sem fruto. Certamente, pode haver algum fruto a nosso favor, alguns pequenos lucros, todos atribuídos só a misericórdia e fidelidade do nosso Senhor. Se estivermos hoje permanecendo na fé, em comunhão com os irmãos, nos congregando com regularidade, lhe servindo, é porque a mão do nosso Deus tem nos sustentado.

Irmãos, se o Senhor não foi ainda devidamente glorificado com as nossas vidas, ainda estamos a tempo de nos humilhar diante do seu trono. O Senhor permanece fiel, ele não pode negar-se a si mesmo, e nos envia a sua palavra para nos curar, para recuperar o nosso coração e para que continuemos na batalha, na obra e na tarefa que encarregou a cada um. Cada um dará conta de si mesmo a Deus.

Todos os membros têm distintas funções e ministérios no corpo de Cristo, e todos devemos igualmente ser fiéis em expressar a vida e os dons que nos deu o Senhor.

Cravando uma estaca

Um dia o Senhor chegou às nossas vidas e se tornou o nosso firme fundamento. Então uma firme estaca foi cravada, um marco que assinala que somos filhos de Deus, salvos em Cristo Jesus.

Logo depois de ter caminhado todo este tempo, venhamos perante ele com toda a nossa história nas costas, santifiquemos ao Senhor de todas as nossas faltas, confessemos toda obscenidade e rebeldia, e digamos como Ele: "Pai, glorifica o teu Nome!". Uma nova estaca fique cravada em nosso viver.

Que se restaure aquela comunhão bela com o Senhor que estava interrompida ou estorvada. Que voltemos a vê-lo claramente e adorá-lo como é digno. Que possamos valorizar e abençoar a cada membro do Corpo de Cristo, pois nós necessitamos uns dos outros.

A nossa alma ficará perturbada diante de um compromisso maior? Temeremos os novos desafios que temos adiante?

Que o mesmo Espírito nos ajude, em nossa fraqueza, a proclamar: 'Pai, glorifica o teu nome, ainda que o que venha seja duro, e a renúncia maior, e os problemas se multipliquem. Que, ainda que o que venha não seja grato a minha alma (carne), quero a tua vontade. Que a vida de Cristo em mim se faça manifesta, que o meu serviço ao seu nome tenha fruto, para salvação e bênção de muitos. Que ao final de minha carreira possa tão somente ouvir as tuas benditas palavras de aprovação: "Bem, bom servo...". Não quero nada mais. Minha vida te pertence, Senhor Jesus!'.

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