Servindo sem suor

A destruição e a reconstrução que o Espírito Santo realiza nos filhos de Deus.

Rubén Chacón

"Eles entrarão no meu santuário, e se chegarão à minha mesa, para me servirem, e cumprirão as minhas prescrições. E será que, quando entrarem pelas portas do átrio interior, usarão vestes de linho; não se porá lã sobre eles, quando servirem nas portas do átrio interior, dentro do templo. Tiaras de linho lhes estarão sobre a cabeça, e calções de linho sobre as coxas; não se cingirão a ponto de lhes vir suor" (Ezequiel 44:16-18).

Este é uma ordenança para os sacerdotes do Senhor. No Novo Pacto, todos somos sacerdotes, todos podem entrar no santuário e ministrar a Deus. E esta ordenança do Senhor diz que os sacerdotes devem entrar vestidos de vestimentas de linho; não porão sobre eles coisas de lã. E a razão do porque não devem vestir-se de roupa de lã, segundo o versículo 18, é para que a roupa não os faça suar.

"Não se cingirão de coisa que os faça suar". Isto quer dizer que Deus não quer suor em sua casa. O que significa o suor? O suor é produzido quando fazemos um grande esforço. Portanto, o suor representa o esforço humano. Se Deus não quer suor em sua casa, quer dizer que Deus não quer esforço humano em sua casa. Interessante, não?

Vamos ler agora em Levítico 19:19. "Guardarás os meus estatutos; não permitirás que os teus animais se ajuntem com os de espécie diversa; no teu campo, não semearás semente de duas espécies; nem usarás roupa de dois fios misturados".

"O seu campo não semeará com mescla de sementes". Sublinhemos a palavra 'mescla'. "...e não porás vestidos com mescla de fios". Outra vez, sublinhemos a palavra 'mescla'. Deus não quer linho e lã misturados. Deus não quer uma mescla do divino com o humano. O esforço humano em sua casa atrapalha a obra de Deus.

Deus não quer que façamos 50 por cento e ele faça os outros 50 por cento, ou que nós façamos 10 por cento e ele faça 90 por cento. Ele quer fazer cem por cento. Custa-nos muito entender que o crescimento no Senhor é que nós diminuamos para que o Senhor cresça. O Senhor quer encontrar espaço em nós, para ele fazer cem por cento.

Vocês têm lido a carta aos Gálatas. Os Gálatas estavam caindo neste engano. Eles tinham sido justificados pela fé, tinham sido salvos pela fé; mas agora criam que a santificação era pelas obras. E vem Paulo para dizer-lhes: 'Não, a santificação também é pela fé'. Tudo é pela fé, tudo é obra de Deus.

A obra de Deus é cem por cento dele. Ele não necessita da nossa ajuda, não necessita da nossa intromissão. Necessitamos simplesmente nos dispor, nos abrir, permitir que o Senhor faça a sua obra completa. A obra de Deus é perfeita, a obra de Deus é absoluta; é uma obra terminada, é uma obra eterna. Louvado seja o Senhor! Que o Pai possa abrir os nossos olhos para ver que contemplamos uma obra que já está acabada.

O propósito de Deus

Por que Deus não quer o nosso esforço? Para conhecer a resposta, precisamos compreender como fomos criados e para que fomos criados. Em outras palavras, precisamos conhecer o propósito de Deus. E quando entramos no propósito de Deus, encontramos que você e eu fomos criados para conter a Cristo e para expressar a Cristo, para que a vida de Cristo fosse manifestada através de nós.

Portanto, desde o começo, Deus nunca planejou que nós tivéssemos que ajudar a Deus. Desde o começo, ele nos criou e nos planejou como um vaso para conter a vida de Cristo, e para que essa vida se manifestasse através de nós.

Porque caímos em pecado é que nós não podemos oferecer nada aceitável a Deus. Não é só o pecado - que manchou todas as nossas ações - que faz que todas as nossas ações sejam híbridas ou misturadas, mas sim há uma razão ainda mais profunda: Nunca fomos criados para ajudar a Deus, mas sim para deixar que ele se manifeste através de nós.

O plano de Deus era o seguinte: O homem foi criado tripartido, espírito, alma e corpo. Adão foi criado com vida humana. Como diz a Escritura, foi feito alma vivente. Não obstante, foi criado para a árvore da vida. Foi criado com um tipo de vida -a vida humana- mas foi criado para outro tipo de vida - a vida que estava na árvore da vida.

Por isso, quando criou Adão, pôs ele no jardim, e no meio do jardim, Deus plantou a árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal. Adão saiu da mão criadora de Deus com vida humana, mas foi criado para tomar a vida que estava na árvore da vida.

Que vida era que estava na árvore da vida para Adão, se ele já tinha sido criado com vida humana? A vida da árvore da vida é a vida de Cristo. E o propósito de Deus é que Adão, criado com vontade, com intelecto e com emoções, tivesse voluntariamente comido da árvore da vida. Quando Adão fosse para o centro do jardim, embora ali estivesse a árvore da ciência do bem e do mal - do qual Adão não devia comer -, não obstante, estava também a árvore da vida.

Quando Adão fosse ao centro do jardim, deveria comer dessa árvore. Se Adão o tivesse feito, a vida de Deus, que é a vida de Cristo, teria entrado em seu espírito, e em seu espírito teria a vida de Cristo. Então, Adão poderia, a partir desse momento, expressar a vida do Senhor. A vida de Cristo poderia começar a manifestar-se através dele; a sua alma estaria em harmonia com o seu espírito, e a alma, qual uma esposa, seria a ajuda idônea do espírito. O espírito seria como o marido, e a alma como a esposa. E a alma, que não tinha pecado, seguiria ao espírito sem resistência e sem oposição. O homem seria então uma expressão de Cristo. O homem não se expressaria a si mesmo, mas a vida de Cristo nele.

Agora, todos nós sabemos que isto não ocorreu. Infelizmente, Adão desobedeceu. Quando foi ao centro do jardim, ele comeu da árvore da ciência do bem e do mal. E Deus disse: 'Que não estenda agora a sua mão e coma também da árvore da vida'. O seu espírito não recebeu a vida de Deus, e o drama foi o seguinte: a alma, então, prevaleceu sobre o espírito. Em lugar de ser serva, a alma se tornou rainha; em lugar de ser esposa, fez-se marido, e começou a viver por si mesma. Tornou-se auto-suficiente, autônoma, rebelde, super ativa. Fortaleceu as suas capacidades. A vontade se tornou uma vontade ferrenha. Uma mente que tudo intelectualiza. Os seus sentimentos se tornaram desequilibrados, que nos arrastam para um lado e para outro. A alma se desencaminhou, saiu do seu lugar, ficou em uma posição para a qual nunca foi criada.

Por isso, Deus não quer o nosso esforço em sua casa. Deus queria o plano original. O espírito do homem vivificado com a vida divina e expressando-se através de uma alma dócil, uma alma que é serva do espírito, uma alma que não resiste a Deus, que pode seguir na forma sensível o que a vida de Cristo quer expressar.

Mas desde o dia em que Adão caiu, o homem só expressa a si mesmo. O que sai de nós não é a expressão de Cristo; é a expressão de nós mesmos. O do homem é introduzido em Sua casa, e na casa de Deus tem mistura. Por um lado, está o de Cristo, que às vezes flui, que às vezes se manifesta; mas ainda há muito de nós na casa de Deus.

O ativismo da alma

Mas não temos apenas uma alma fora do lugar, em uma posição para a qual nunca foi criada, mas também esta super atividade que tem a alma, esta autonomia que exerce, esta força com que quer realizar, finalmente produz cansaço, produz suor, produz que tenhamos uma alma desgastada, que quando sua por agradar a Deus, por servir a Deus, não há alegria, não há repouso. Pelo contrário, o esforço humano traz consigo queixa, desânimo, frustração, depressão, insatisfação.

Quantos de nós que estamos aqui estamos cansados, quantos de nós que estamos aqui estamos esgotados, frustrados, desanimados! Deus não quer suor em sua casa. Deus quer que o seu serviço, o serviço para ele, seja feito com gozo, seja feito com paz, seja feito com repouso e com alegria. Necessitamos o descanso do Senhor, precisamos aquietar a nossa alma, e deixar que o Senhor opere através de nós.

Vamos ler em Isaías 57:10. "Na multidão dos teus caminhos te cansaste, mas não disseste: Não há remédio; achaste novo vigor em tua mão, portanto, não te desanimaste". Esta é a situação da nossa alma. Em muitos caminhos, procurando participar, procurando realizar-se, procurando colaborar, procurando ajudar a Deus.

Ou seja, os nossos caminhos nos cansam, mas não até o ponto de dizer: 'Já não há mais esperança'. A nossa alma volta a tomar vigor, volta a encher-se de esperança, e não desanima, e continua. E tornamos a nos cansar, e tornamos a nos frustrar, mas não até o ponto de dizer: 'Não há remédio', mas tomamos novamente energia, e deixamos de nos desanimar. Isso não é o que quer o Senhor. O Senhor quer que cheguemos ao ponto da rendição total.

Versículo 20: "Mas os ímpios são como o mar em tempestade, que não pode estar quieto". Assim é a alma do homem, como o mar em tempestade, que não pode aquietar-se. E o versículo 21 diz: "Não há paz, diz o meu Deus, para os ímpios".

Descanso para a alma

Jeremias 6:16. "Assim diz o Senhor: Parai-vos nos caminhos, e olhem, e perguntai pelas veredas antigas, qual seja o bom caminho, e andai por ele, e achareis descanso para a vossa alma". "Parai-vos nos caminhos...". A palavra caminhos está no plural. Isaías havia dito: "Na multidão dos teus caminhos te cansaste". Esse é o problema da alma: transita por uma multidão de caminhos. E o profeta Jeremias diz: "Parai-vos nos caminhos, e olhem, e perguntai pelas veredas antigas, qual seja o bom caminho...". No singular, o caminho é um só.

Não há muitos caminhos, só há um caminho, o bom caminho. E o profeta diz que quando o encontrarem ande por ele, "...e acharão descanso para a vossa alma". Quando olhamos no Novo Testamento o cumprimento disto, em Mateus 11:28-30, lemos: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve".

Há alguém aqui que está trabalhado e que está oprimido? "Vinde a mim", diz Cristo, "os que estão cansados e sobrecarregados, e eu vos farei descansar". Como o Senhor nos faz descansar? "Tomai sobre vós o meu jugo...". Quer dizer, que a nossa alma volte para a posição original, deixe de ser auto-suficiente, deixe de ser autônoma. A nossa alma volte a sujeitar-se ao espírito. O jugo de Cristo sobre nós é o seu espírito.

E diz o Senhor: "...e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas". Ele tomou o texto de Jeremias capítulo 6. Portanto, segundo o próprio Senhor, quem é o bom caminho? Ele mesmo era o bom caminho. Cristo é o bom caminho. E levando o seu jugo, achamos descanso para a nossa alma, porque o jugo de Cristo é suave, e a sua carga leve.

Achamos descanso e repouso, recuperamos o gozo e a alegria, desaparece o suor, quando tomamos o jugo com Cristo, quando aprendemos a caminhar com ele, quando deixamos que ele vá adiante de nós, quando permitimos que ele faça cem por cento, quando nós diminuímos para que ele possa crescer, para que ele possa encher tudo em sua casa, para que nós voltemos a ser seus servos, voltemos a ser dóceis ao seu Espírito.

E por último, 2ª Timóteo 2:1. "Tu, pois, meu filho, esforça-te na graça que está em Cristo Jesus". Aqui parece que há uma contradição. Paulo diz a Timóteo: "Esforça-te". Em que ficamos? Tem que esforçar-se ou não tem que esforçar-se? Se olharmos bem, Paulo diz a Timóteo: "Esforça-te na graça". E isto é uma paradoxo, porque a graça é o oposto das obras. Então, o verbo 'esforçar-se', parecesse que não tem relação com a graça. E Paulo diz a Timóteo: "Esforça-te...", mas "...na graça que está em Cristo Jesus".

Parafraseando este texto, seria mais ou menos assim: esforça-te em não fazer nada; esforça-te em que tudo seja feito por Deus". E, por que não fazer nada requer esforço? Porque a nossa alma sempre está disposta a fazer algo, a nossa alma sempre está disposta a tomar a iniciativa; a nossa alma não pode ficar quieta.

Qual é o nosso maior problema no momento de orar? Que temos uma alma que não pode estar quieta nem em silêncio. É assim. Quando queremos estar na presença de Deus, sentimos e experimentamos que a nossa alma está ativa, cheia de idéias, cheia de boas intenções. E quando queremos estar quietos, descobrimos que não podemos. Necessitamos um esforço para não fazer nada, porque a nossa tendência natural é sempre fazer algo.

Assim que este texto não contradiz o que temos dito, mas é um paradoxo. Esforça-te em não fazer nada; esforça-te para que Deus faça tudo. Deus é poderoso para fazer cem por cento, e quer fazê-lo através de ti, sem suor, sem cansaço, sem queixas, sem frustrações, sem desânimo, mas com gozo, com alegria, e no repouso do Senhor. Amém.

Síntese de uma mensagem ministrada em São Bento do Sul, Brasil.

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