Decisões falidas

Conseqüências da desobediência de um pai.

Marcelo Díaz

O livro de Juízes é um livro triste. Triste, porque se perdeu a visão de avançar de geração em geração. Quando o povo de Deus saiu do Egito, deu voltas por muitos anos pelo deserto. E depois da morte de Moisés, Josué continuou entrando e possuindo a terra que Deus tinha prometido. No entanto, com a morte de Josué o povo perdeu a visão.

Diz a Escritura: "Logo que Josué tinha se despedido do povo, e os filhos de Israel se foram cada um para sua herança para possuí-la. E o povo tinha servido o Senhor todo o tempo de Josué, e todo o tempo dos anciões que sobreviveram a Josué, os quais tinham visto todas as grandes obras do Senhor, que ele tinha feito por Israel. Mas morreu Josué filho do Num, servo do Senhor, sendo de cento e dez anos. E o sepultaram em sua herança em Timnate-Heres, no monte de Efraim, ao norte do monte de Gaás. E toda aquela geração também foi reunida aos seus pais. E se levantou depois deles outra geração que não conhecia ao Senhor, nem a obra que ele tinha feito por Israel" (Juizes 2:6-10).

Assim começa a história do livro de Juízes. Este livro mostra-nos a tarefa inconclusa do povo de Deus. Porque as gerações que se seguiram não avançaram na batalha de tomar toda a terra que Deus tinha-lhes entregado, e em conseqüência disso o povo se acomodou. Cada um se foi para a sua herança. Trocaram as armas pelas ferramentas, e começaram a trabalhar na terra. Tornaram-se sedentários, e esqueceram aquilo que Deus tinha lhes chamado para possuir. Enquanto isso os filhos começaram a crescer e viram os seus pais na comodidade. E o que recebem os filhos quando vêem a comodidade dos pais? Um evangelho cômodo. Em seguida, a tendência natural será repetir os mesmos padrões de conduta que a geração anterior.

Muito do que são e serão nossos jovens depende de nós. Se um filho vai a seu pai sem compromisso com o que é espiritual, a tendência natural para esse filho será a mesma. Os jovens vêem e repetem.

Destaquemos duas questões que agravam o fato. A primeira, é que a segunda e a terceira geração têm de certa maneira maior dificuldade que a primeira para crer. Pois não sabem o custo do que foi alcançado, não conhecem os prodígios de Deus para introduzir-nos na terra. A Bíblia registra que a primeira geração viu cair o maná, viu que se abriu o mar Vermelho e todos os milagres de Deus. Não foi assim com as gerações seguintes, que correram e caíram na tentação de assentarem-se e desprezar o que foi alcançado, pois não conheceram o custo que os seus pais tiveram que pagar. Então, de algum jeito com os nossos filhos ocorre o mesmo. Claro, pois se forem criados em um ambiente mais resguardado, de maior proteção, havendo já alcançado algumas promessas, gozam de um ambiente são no qual podem desenvolver-se. Então, muitos não sentem a necessidade de um Salvador, pois em seus raciocínios, não pecaram. 'Do que vou me arrepender se não fiz nada de mal?'. Tal é o dilema de um moço que foi criado no evangelho. Nós, os que viemos de fora, vimos o Senhor, vimos a sua glória, soubemos do nosso pecado, arrependemo-nos e entramos em Cristo. Mas alguns deles não entendem nada disto.

A segunda é o conflito de relacionar-se com os irmãos, que em muitos casos é fastidioso, pois os criticam. Outros sentem que estes moços em nossas reuniões só perdem o tempo, e os olham com maus olhos, porque parece que não despertam para a fé. Em conseqüência, temos jovens com enormes obstáculos para continuar a tarefa, para chegar a possuir toda a terra que têm por diante.

Irmãos, temos que acolher os nossos jovens, recebê-los. Estimulá-los à fé. Não importa que venham influenciados com certas modas, recebamo-los, abracemo-los. Porque são nossos filhos, nossos jovens. Eles vão continuar. Iremos, eles ficarão. Há muito ainda por possuir.

Outro aspecto da geração do livro de Juízes, é que foi cega e incrédula, pois deixaram de ver o que não se vê. Em 2ª Coríntios 4:18 nos diz: "...Não olhando nós para as coisas que se vêem, mas sim para as que não se vêem; pois as coisas que se vêem são temporais, mas as que não se vêem são eternas". O que ocorre quando alguém deixa de ver o que não se vê? Começa a ver o que se vê; então se acomoda e põe o seu coração em tudo o que se vê, e se esquece do que não se vê. E perde a essência da vida - a meta. Lembrem de Moisés que se sustentou como vendo o Invisível. Isto é essencial em uma geração: Que os jovens possam ver o que não se vê. Quando um jovem consegue perceber isso, ver o Senhor, nunca mais se esquecerá do que os seus olhos viram. Por isso o esforço de um pai deve estar em transmitir por todos os meios a fé, e assim facilitar a revelação do Filho de Deus em seus filhos.

Observemos o último versículo do livro de Juízes que revela em sua magnitude a decadência espiritual dessa geração. No meu entender, é onde mais nos mostra a condição de uma geração que deixa de ver o que não se vê. "Nestes dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia" (Juízes 21:25). Quando isto ocorre, emerge o "bom critério", as boas opiniões, o 'melhor raciocínio', a 'boa' intenção; em conseqüência, escasseia o temor de Deus, e tudo o que é nosso -ainda que pareça ser muito bom-, surge em substituição da boa vontade de Deus. Nisto consiste a tragédia do homem.

A responsabilidade de um pai

Em meio a esse ambiente de decadência espiritual, de comodidade, de cegueira e falta de temor de Deus, nasce o livro de Rute. Diz no começo:

"Aconteceu nos dias que governavam os juízes, que houve fome na terra. E um homem de Belém de Judá foi morar nos campos de Moabe, ele e sua mulher, e seus dois filhos. O nome daquele homem era Elimeleque, e o de sua mulher, Noemi; e os nomes dos seus filhos eram Malom e Quiliom, efrateus de Belém de Judá. Chegaram, pois, aos campos de Moabe, e ficaram ali. E morreu Elimeleque, marido de Noemi, e ficou ela com os seus dois filhos, os quais tomaram para si mulheres moabitas; o nome de uma era Orfa, e o nome da outra, Rute; e habitaram ali uns dez anos. E morreram também os dois, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e do seu marido" (Rute 1:1-5).

Aqui se inicia uma história que tem um começo tão triste como o livro dos Juízes. Um homem toma uma decisão equivocada e com isto transfere morte para a sua família.

Lembram da parábola chamada do filho pródigo? Quando este filho tinha esbanjado tudo disse: 'Quantos empregados na casa de meu pai têm abundância de pão, e eu, sendo o filho, estou morto de fome!'.

Pois bem, assim também este homem chamado Elimeleque, pai de família, foi de Belém -que significa casa de pão-, para outras regiões, as terras de Moabe, um povo reconhecido como inimigos do povo de Deus. Deixou "a casa de pão", a casa do Pai, para iniciar um caminho árduo e pedregoso. Como diz o provérbio: "Há um caminho que ao homem lhe parece direito, mas o seu fim é caminho de morte" (Prov. 14:12).

Elimeleque se equivocou! Tomou uma má decisão, e com isso afetou a sua esposa e aos seus filhos.

Este homem, pai de família, posto por Deus ali para levar o conhecimento do Senhor, para resguardar a casa e levá-la debaixo da sujeição a Jesus Cristo, foi da casa de pão, dali onde havia provisão, onde estava a bênção de Deus, para uma terra inimiga. Pôs os seus olhos nas coisas temporárias, e se foi procurando melhores perspectivas.

Hoje é freqüente ver que alguns com muita facilidade tomam decisões sem temor de Deus, e deliberadamente aceitam ofertas que são projetadas humanamente no trabalho, estudos, econômico, social, sem considerar o conselho de Deus e o testemunho do corpo de Cristo. Sequer consultam o Senhor, procuram novas projeções. Como diz o versículo: "...cada um fazia o que bem lhe parecia". Este preceito costuma ser o começo daqueles que terminam em uma grande tragédia.

Elimeleque pensou que era o melhor para si e a sua família. Ele esperava ter um melhor bem-estar, melhor posição econômica e social. Mas perderia o fundamental - perderia a Cristo. A sua esposa lhe acompanhou, os seus filhos também, e toda a família estava concorde com um só objetivo. No entanto, as conseqüências foram nefastas, pois depois de um tempo morreu ele e os seus dois filhos.

Quantas decisões você têm tomado em sua vida? E em quantas delas trouxe morte para a sua família? Toda decisão tem conseqüência - mais cedo ou mais tarde, a vida ou a morte afetará aos seus por causa da sua decisão.

Por isso, cada pai tem o imperativo do Espírito de estar no temor de Deus, consultando, inquirindo, procurando, clamando. OH, Senhor, nos revele a sua vontade! Se não mostrares os seus caminhos não nos moveremos; se não te revelares morreremos! É nossa tarefa trazer todas as coisas ao Senhor e compartilhá-las com o corpo de Cristo, e assim, na sabedoria corporativa, receber direção e graça para agradar ao Senhor. Este é o nosso chamado.

Noemi ficou viúva, com duas jovens mulheres viúvas às suas custas. E que tragédia significava nesse tempo ser viúva! Desamparada socialmente, sem marido, sem cobertura, sem direitos sociais. A mulher judia ficava na mais completa indefensabilidade social, condenada a viver de esmolas, errante e pobre.

Irmãos, pergunto de novo: Quantas decisões tuas trouxeram morte para a sua casa? No transcurso do serviço na obra, encontrei-me com muitos jovens que carregam amargas dores pela conduta irresponsável dos seus pais. Alguém, como papai, não se dá conta, mas os moços muitas vezes têm verdadeiras amarras internas por causa de nossas más decisões. A incapacidade de um jovem de avançar em Cristo, muitas vezes tem estreita relação com as decisões dos seus pais.

Devemos ser francos nisto: causamos danos às nossas casas; muitas das nossas decisões não foram acertadas, e não temos contribuído com vida no nosso lar. Em conseqüência nossas mulheres, deprimidas por nossa atitude, tem sentido a angústia do abandono e a incompreensão. Hoje falo com os homens da casa. Irmãos! Nisto somos responsáveis diante do Senhor.

A responsabilidade da esposa e dos filhos

Por outro lado as mulheres também têm uma responsabilidade que cumprir. Diz a Bíblia: "E um homem de Belém de Judá foi morar nos campos de Moabe, ele e a sua mulher, e os seus dois filhos". Quer dizer, a mulher consentiu em tal decisão e ambos, junto com os seus filhos, partiram para a ruína. As mulheres são muito importantes no reino de Deus, e às vezes se equivocam na opinião. Porque o Senhor as pôs para ser ajudadora idônea em Cristo, e não foram fiéis em sua responsabilidade, entenderam mal a submissão, pensando que a submissão é quase negação, anulação, quase não ser nada.

Isso não é a submissão. Eu necessito do meu lado uma mulher que me ajude em Cristo, e que me impeça naquilo que é mau. Necessito desse tipo de mulher. Uma mulher que nunca me diga nada não me serve; quem quase não fala. Necessito de uma mulher que me impeça no equívoco. Que me diga: 'Mas isso não é do Senhor, isso não é bom, o Senhor não nos mandou isso!'. Necessito que me impeça e me incomode em tudo aquilo que está longe da vontade de Cristo. É provável que não seja o que eu queira escutar. Isso não me é agradável; ao contrário, vai me incomodar grandemente. Mas esta ação pode nos salvar. Não posso presumir que tenho toda a luz de Deus, e que a mulher que Deus pôs ao meu lado só é uma companhia.

Quanto de Cristo perdemos quando as irmãs se diminuem, negam-se e se anulam! Quanto perde a igreja quando as mulheres se isolam e se escondem! Muito de Deus perdemos quando as mulheres não assumem a sua posição.

As esposas são postas pelo Senhor, para edificar a família e para colaborar, construir com o seu marido em uma mesma direção. Em provérbios diz: "A mulher sábia edifica a casa, mas a néscia com as suas mãos a destrói" (Provérbios 14:1).

Uma esposa no reino de Deus não pode ser passiva. As irmãs têm uma nobre tarefa, e uma de suas funções é impedir tudo o que não é de Cristo. Nós os maridos não gostamos, mas nos faz bem. Isto permitirá que sejamos humilhados, nos porá diante do Senhor uma e outra vez, procurar sinceramente o seu rosto para decidir em sua vontade o que é bom e agradável aos seus olhos.

O seguinte diálogo não ajuda a um marido: Ele diz:'O que você acha se fizermos isto? Ela responde: 'Sim… Está bem'. O marido continua dizendo: 'Não, vamos fazer isto outro'. Ela torna a responder: 'Sim, está bem'. Em seguida ele volta a dizer: 'Não, vamos trocar, faremos aquilo'. E ela: 'Sim, está bem'. Pergunto: Que ajuda é esta? ... Nenhuma!

Irmã, quando você vê que o seu marido irá pecar com tal atitude , com tal indecisão… incomode-o! É a sua responsabilidade. Seguir a Cristo é segui-lo na família. Todos nós temos o mesmo chamamento. Com amor e respeito, o casal é o agente mais efetivo na possessão da boa terra.

Também diz o versículo: "…e os seus dois filhos". Os filhos têm a sua responsabilidade no reino de Deus, pois podem impedir no que não é do Senhor. É obvio, devem fazê-lo com respeito. Quantas vezes fomos seriamente questionados pela fé genuína e sincera de uma criança! Deus nos fala através dos filhos. Um filho tem todo o direito, no Senhor, de aproximar-se do seu pai e exigir conseqüência, retidão, honestidade. 'Pai, mãe, isto que vocês estão decidindo não é bom'. Quanto nos fala isto, quando um filho em fidelidade ao Senhor consegue vencer a vergonha e o temor, e em amor fala com os seus pais para correção! Pais, devemos ser sensíveis e humildes para receber correção do Senhor mesmo que seja por parte dos nossos filhos.

Mas, o que ocorre quando em um lar ninguém assume com responsabilidade o chamado de Deus? Então chega a morte e esta passa a todos. Chegam a destruição, a pobreza, a angústia e a dor.

A misericórdia do Senhor

No entanto, bendito seja o Senhor, pois a sua misericórdia é para sempre! Nós pais temos cometido muitos enganos; embora tenhamos procurado fazê-lo de forma certa, equivocamo-nos muitas vezes. Freqüentemente, atuamos na ignorância; outras vezes teimosamente.

No entanto, a misericórdia de Deus não fica imóvel frente a um coração contrito e humilhado. Porque a história nos conta que desta situação tão trágica da casa de Elimeleque, Deus proveu descendência. Deus em sua onisciência, com uma decisão tão equivocada de um pai, encontrou fé em uma mulher estrangeira: Rute a moabita, que volta junto com Noemi, a sua sogra, dos campos de Moabe para a cidade de Belém (Rute 1:6, 19). Rute acha refúgio em Deus. E Deus Pai, que é rico em misericórdia, encontra nela um ventre disposto a receber a sua descendência. Em sua soberania, ele introduz uma mulher que vem de um povo maldito, excluída da congregação de Israel, no povo de Deus, para cumprir o seu propósito eterno. Rute se uniu a Boaz e tiveram filhos, e dessa descendência veio o nosso bendito Senhor Jesus Cristo! (Rute 4:20-21).

Irmãos, consideremos a misericórdia do Senhor, que é capaz de trazer luz diante de uma decisão errada e obscuro, quando há arrependimento. Disse o filho pródigo da parábola: OH, voltarei para a casa de meu pai e lhe pedirei perdão! "Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado seu filho; faz-me como a um dos seus empregados". E o que fez o pai? Lançou-se sobre o seu pescoço e lhe beijou, vestiu-lhe, colocou calçados em seus pés e fez uma festa. Quando um homem se arrepende, a misericórdia de Deus lhe cobre, e até da pior decisão pode obter vida. Que maravilhoso, que precioso é o Senhor!

E assim foi. Você lê a genealogia de Mateus e de Lucas, e ali você encontra escrito o nome de Rute. O seu filho se chamou Obede, e este é pai de Jessé, pai de Davi, de quem vem Jesus Cristo.

Pedindo perdão

Queria terminar com um ato de amor por nossos filhos. Vamos tomá-los, vamos abraçá-los e vamos lhes pedir perdão por nossos equívocos. Procure o seu filho, tome-o, abrace-o, e lhe diga: 'Perdão filho por meus enganos, por meus equívocos. Eu te amo. Você é meu filho, você é minha filha, e você vai continuar a tarefa'. Há muito de Cristo por conhecer.

Jovens, vão aos seus pais e abracem-nos. Também lhes peçam perdão por suas rebeldias, por suas obstinações, por suas más palavras e atitudes. Cada um com os seus pais, cada um com os seus filhos. Reconcilie-se com o seu filho, abrace-o, ame-o; diga-lhe que precisa dele.

Exaltem ao Senhor.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco, em julho de 2007.

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