O Senhor é o Espírito

O ministério do Espírito Santo no meio da igreja.

Rodrigo Abarca

«E estando juntos, mandou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse-lhes, que de mim ouvistes. Porque João certamente batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias» (Atos 1:4).

No começo do livro de Atos acontecem uma série de fatos históricos. Por um lado, o Senhor subiu aos céus para sentar-se à mão direita do Pai, e, por outro lado, os discípulos ficam na terra para começar a tarefa de edificar a igreja. Então, o que o Senhor diz ali tem uma suma importância, porque tem a ver com aquilo que vai reger, governar e permitir que efetivamente a igreja seja edificada.

Por isso, o Senhor adverte-lhes que por nenhum motivo façam nada até que ocorra um evento fundamental: «E estando juntos, mandou-lhes...». Notem bem aqui, não lhes aconselhou, mas lhes mandou, que não se ausentassem de Jerusalém, quer dizer, que não começassem nada ainda.

Recordem que o Senhor lhes havia dito antes: «Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura ... ser-me-eis testemunhas ... Ide e façais discípulos de todas as nações». Mas aqui lhes diz: ‘antes de ir, antes de começar alguma coisa, tem que esperar, porque vocês não podem ir e fazê-lo sozinhos, por conta própria. Têm que esperar que venha o Espírito Santo, a promessa do Pai, e então deverão ir’.

Primeiro, esperar «a promessa do Pai, a qual, disse-lhes, ouviram de mim. Porque João certamente batizou com água...». E então lhes explica como vai ser: «...mas vós sereis batizados...». O Senhor usa aqui a palavra grega ‘batizar’, cuja idéia é cobrir algo com água ou submergi-lo completamente. Então: ‘Assim como foram submersos por João no rio Jordão, vocês vão ser submergidos no Espírito Santo». Essa é a figura. A partir daqui, vai começar tudo.

Ele disse que tinha prometido antes. Olhemos em João 14:15: «Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai – recordem que ele falou da promessa do Pai –, e vos dará outro Consolador». Observem bem esta expressão do Senhor, porque é muito importante. Se o Senhor disse «outro», é porque já há «um». Não diria outro se não houvesse um. Mas, como há um, fala, portanto, de outro.

Neste caso, a palavra grega que aqui se traduz como Consolador é parakletos. Significa, além de Consolador, alguém que fica ao lado de outro para edificá-lo, alguém que anima, alguém que exorta, alguém que ajuda, alguém que defende, alguém que se faz de advogado a favor de outro. Tudo isso, em conjunto, é o significado da palavra parakletos. E esse primeiro parakletos foi o Senhor Jesus Cristo.

Quando ele estava com os seus discípulos, guardava-os, protegia-os, defendia-os, advogava a favor deles. Quando estavam desanimados, levantava-os; quando estavam debilitados, fortalecia-os; quando estavam confundidos, esclarecia as suas dúvidas; quando tinham perguntas, respondia-as; quando se equivocavam, corrigia-os.

Mas agora ele lhes diz: ‘Eu vou’. E acrescenta: «Antes, porque lhes ei dito estas coisas, o vosso coração se encheu de tristeza, mas eu vos digo a verdade...». Bendito seja o Senhor, ele é a verdade! O que ele diz é verdade. ‘Confiem em mim’, é o que está pedindo o Senhor: «Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não viria; mas se eu for, vo-lo enviarei». Outro Consolador, para que esteja conosco para sempre. Outro que deveria fazer o mesmo que o Senhor Jesus fazia, e a ser o mesmo que o Senhor era para com os seus discípulos. Não algo inferior, nem de segunda mão.

Às vezes, temos uma idéia teologicamente correta do Espírito Santo, quer dizer, «Você já sabe irmão, aquela terceira pessoa da Trindade que é Deus com o Pai e com o Filho, e que tem a mesma essência do Pai e do Filho». Esta é uma boa resposta teológica, mas, em nossa experiência prática de igreja, tão individual como corporativa, o que sabemos do Espírito Santo? Para nós é verdadeiramente o mesmo parakletos que era o Senhor; ou é algo de segunda mão? (Pensamos: - que pena que o Senhor não esteja conosco!).

A inevitável necessidade da unção

Vamos ler uma passagem do Antigo Testamento para entender melhor este ponto, no livro de Êxodo 40:9. De fato, todo o capítulo 40 de Êxodo nos descreve o momento em que o tabernáculo foi erguido. Moisés preparou todos os materiais, as cortinas, os móveis, a arca, a mesa com os pães da proposição, o candelabro, o altar, e tudo o que se requeria para levantar a tenda de reunião. Quando tudo estava preparado, então foi erguido o tabernáculo.

Como vocês sabem, o tabernáculo do Antigo Testamento é figura da casa de Deus, que no Novo Testamento é a igreja. Então, observemos qual foi a primeira ação que se cumpriu no momento em que foi levantado o tabernáculo, a casa de Deus:

Versículo 9: «E tomará o azeite da unção e ungirá o tabernáculo, e tudo o que está nele; e o santificará com todos os seus utensílios, e será santo». Antes que o tabernáculo entrasse em função, devia ser ungido. «...e tudo o que está nele».

Aqui necessitamos aperceber que a ênfase está na palavra ‘todo’. Não é somente a unção sobre o tabernáculo de uma maneira geral, mas também de tudo o que está dentro do tabernáculo. O tabernáculo era feito de muitas peças pequenas. Havia utensílios, instrumentos e objetos para usos diversos, e diz a Moisés que deve ungir não somente o tabernáculo em geral, mas também cada utensílio em particular. «Ungirá também o altar do holocausto e todos os seus utensílios; e santificará o altar, e será um altar santíssimo. Deste modo ungirá a fonte e sua base, e a santificará».

Quer dizer, todos os elementos que aqui tipificam a vida da igreja tinham que ser ungidos primeiro, antes de funcionar. Sem unção, os objetos do tabernáculo não podem servir ao Senhor; só através da unção se tornam úteis e apropriados para o Senhor.

O azeite da unção é, na Escritura, uma figura do Espírito Santo. Então, o que significa que tudo deve ser ungido? Que tudo deve ser coberto, como disse o Senhor, pelo Espírito Santo na vida da igreja, antes de começar a funcionar como é devido.

Quando o Espírito Santo vier, significa que tudo ficará ungido e submerso no Espírito Santo. O que fica submerso, neste caso, é obvio, não são os objetos materiais como no Antigo Pacto, onde tudo eram tipo e figura. Não são os edifícios, os assentos, os lugares de reunião, os instrumentos de música. O que é ungido é a casa espiritual de Deus, que são os filhos e filhas de Deus.

O que significa ser submergidos no Espírito Santo? Significa desaparecer. Quer dizer, de alguma maneira o Espírito Santo é quem toma o controle de tudo; nós ficamos ali, mas estamos transbordados, e inteiramente subordinados ao Espírito Santo de Deus. A igreja é um organismo espiritual. Não é algo produzido pela alma humana. E espiritual é um adjetivo de «espírito»; quer dizer, aquilo que vem do Espírito se chama espiritual. Não o que vem da alma.

Somos espirituais quando o Espírito Santo tem o controle de tudo. Deixamos de ser espirituais quando o Espírito deixa de ser o que governa e dirige as coisas no meio da igreja.

O ensino de Atos

E o que faz com que o Espírito de Deus esteja presente, ou, pelo contrário, se ausente de nossa vida de igreja? No livro dos Atos podemos encontrar uma resposta a esta pergunta. No capítulo 2 temos a vinda do Espírito Santo, que desce e se deposita sobre os irmãos e irmãs, e nesse momento nasce efetivamente a igreja sobre a terra. Os irmãos estavam reunidos orando, mas não eram realmente igreja até o momento em que o Espírito Santo desceu.

Portanto, nós podemos juntar irmãos e podemos criar uma congregação; mas isso, por si só, não é a igreja. Não, até que a vinda do Espírito Santo nos amalgame e nos constitua em igreja, porque essa é uma obra que só o Espírito de Deus pode fazer. Aquela vida de corpo que é a marca da igreja, só pode ser produzida pelo Espírito Santo de Deus.

Mas ali onde a liderança humana, onde a iniciativa humana, e onde o homem tomou o lugar do Espírito, não há guia, nem comunhão no Espírito, nem relacionamento no Espírito; portanto, não há igreja em termos reais. É obvio, cada um, se é que nasceu de Deus, pertence à igreja do Senhor Jesus Cristo; mas estamos falando em termos práticos e reais.

Recordem que no capítulo 1 de Atos, o Senhor adverte os irmãos que viria o Consolador. E quando o Espírito Santo veio, pelo menos os apóstolos já estavam de alguma forma preparados para compreender e conhecer a ação do Espírito, porque era exatamente o mesmo que o Senhor Jesus Cristo realizou entre eles. A diferença está em que antes, o Senhor estava fora deles, como uma pessoa de carne e osso com o qual conversavam, e, portanto, havia severas limitações.

Por exemplo, quando o Senhor Jesus estava com Pedro, João e Tiago no monte, é evidente que não estava nem com Bartolomeu, nem com Tomé e os outros. Havia uma restrição física; não podiam estar todos na mesma intimidade, na mesma comunhão com o Senhor. Se ele estivesse na Galiléia, não poderia estar em Samaria; se estivesse em Samaria, não poderia estar na Judéia.

Mas agora que o Espírito Santo veio morar em todos os filhos de Deus, o Senhor Jesus Cristo está ali onde houver um filho de Deus, e essa é a enorme diferença, e por isso é melhor. Então, era conveniente que o Senhor fosse, porque se Pedro estivesse em Samaria e João estivesse em Jerusalém e Paulo estivesse percorrendo a Galácia, ali estava com eles o poderoso Filho de Deus, por meio do Espírito Santo! Assim que o Senhor podia agora se multiplicar por tantos quantos fossem os membros do seu Corpo, por obra do Espírito Santo.

Consequentemente, quem deve dirigir todas as coisas na igreja? Só o Espírito e ninguém mais que o Espírito. Por isso, necessitamos que o nosso conhecimento e relação com o Espírito Santo sejam reais. E para isso devemos aprender algumas lições.

O Espírito Santo é Deus em pessoa

«Mas certo homem chamado Ananias, com Safira sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também a sua mulher; e trazendo só uma parte, a pôs aos pés dos apóstolos. E disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisse ao Espírito Santo...?» (Atos 5:1-3).

Pedro não diz: «para que mentisse ao Senhor Jesus Cristo», mas sim «...para que mentisse ao Espírito Santo». Podemos extrair, ao menos, duas coisas desta passagem. Primeiro que o Espírito Santo não é simplesmente uma força, uma influência, que atua por trás das coisas na igreja, de uma maneira secundária e inadvertida, mas é uma pessoa claramente distinguível. Você não pode mentir a uma influência, não pode mentir ao vento nem à eletricidade, mas pode mentir a uma pessoa.

Segundo, que não apenas é uma pessoa, mas também a Divina Pessoa que está na igreja hoje. O Filho de Deus, em pessoa, está hoje à mão direita do Pai, e o Pai, em pessoa, está no céu. E das três pessoas divinas, qual é a que hoje está efetivamente na igreja? Nós dizemos que o Senhor está conosco, e que Deus está conosco, mas é o Espírito de Deus quem efetivamente está morando em nós. E porque Deus é um, o Filho de Deus e o Pai estão aqui também.

Então, quando mentimos, quando se trata de enganar a Deus na igreja, mentem ao Espírito Santo em pessoa. Nós nos atrevemos a falar assim hoje em dia?

Às vezes não temos essa consciência, essa tão clara percepção da primeira igreja sobre a presença da divina pessoa do Espírito Santo. Vocês sabem o que significa: «O Senhor está em seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra». Se Deus estiver aqui, que o homem não fale, que somente Deus fale; que não atue o homem, que atue Deus. Se Deus estiver aqui, que não governe o homem, que Deus governe, porque está o seu Espírito. Isso foi o que ocorreu em Atos. O Espírito atuou, e Ananias e Safira morreram no mesmo instante por ter mentido ao Espírito Santo.

O requisito essencial para o serviço

Em Atos 6:1 vemos a primeira dificuldade que enfrentou a igreja em Jerusalém. Não há nada ideal ou romântico nisto da vida de igreja. As igrejas são reais, e têm muitos problemas, mas estes servem para a manifestação da graça, da sabedoria, do amor e da paciência do Senhor Jesus Cristo.

«Naqueles dias, como crescera o número dos discípulos, houve murmuração dos gregos contra os hebreus...». Os irmãos murmuraram, e o motivo era que, quando se repartia a comida, os judeus de origem grega, não nascidos na Judéia e considerados como de segunda categoria, eram discriminados.

Mas, prestemos atenção à solução dada pelos apóstolos ao problema: «Então os doze convocaram à multidão dos discípulos, e disseram: Não é justo que nós deixemos a palavra de Deus, para servir às mesas. Procurem, pois, irmãos, de entre vós a sete homens...» (Atos 6:2-3).

Do que se tratava? De repartir a comida. Não era algo para dizer: ‘Irmão, necessitamos pessoas muito capacitadas para isto’. Humanamente falando, esse tipo de tarefa é fácil; repartir a comida é algo que qualquer um pode fazer. Mas, observem, estamos falando da igreja do Senhor Jesus Cristo. Não estamos falando de algo humano, mas de algo divino, e na igreja tudo tem que ser sob a unção do Espírito Santo. Então, quem vai servir às mesas?

«Procurem, pois, irmãos, de entre vós a sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, a quem encarregue deste trabalho» (Atos 6:3). Observe que para servir às mesas, para repartir a comida, terá que ter bom testemunho. E que mais? «...cheios do Espírito Santo...». Irmão amado, na igreja do Senhor Jesus Cristo, até para pregar um prego, terá que ser cheios do Espírito Santo. Por quê? Porque a igreja tem que ser ungida pelo Espírito, da tenda até as estacas.

Quando enviamos na igreja os que não são cheios do Espírito Santo para fazerem as tarefas, sabe o que ocorre? A igreja cai em sua condição espiritual. Porque até o servir às mesas requer discernimento espiritual, e para isso terá que ser cheios do Espírito Santo. Por que os irmãos se descuidavam e davam a uns mais e a outros menos? Porque estavam cheios de preconceitos. E o único que pode tirar os preconceitos do nosso coração e da nossa mente é o Espírito Santo de Deus, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Portanto, este é o segundo princípio que achamos no livro dos Atos. Na igreja todas as coisas têm que ser feitas por homens e mulheres cheios do Espírito Santo de Deus. E observem o resultado. Versículo 7: «E crescia a palavra do Senhor...». Quer dizer, algo que parece ser de pouca importância como o servir as mesas, e repartir a comida, ao ser feito espiritualmente, por homens cheios do Espírito, trouxe enormes conseqüências: «... e o número dos discípulos se multiplicava grandemente em Jerusalém».

Muitas vezes a vida e o crescimento da igreja estão paralisados porque, em alguns aspectos que nós consideramos secundários, ou de pouca importância, descuidamos da presença do Espírito de Deus nos irmãos e nas irmãs.

O Espírito dirige a igreja

No capítulo 10 de Atos temos a história de como o Senhor abriu à porta aos gentios para que estes viessem à fé. Recordem que Pedro tinha ido a Jope, uma cidade portuária, e ali estava hospedado na casa de Simão o curtidor; e enquanto ele orava no terraço da casa, veio-lhe a visão de um tecido cheio de animais considerados imundos pelos judeus, e disse a Pedro: «não chames tu comum ao que Deus purificou».

«E enquanto Pedro estava perplexo dentro de si sobre o que significaria a visão que tinha visto, eis que os homens que tinham sido enviados por Cornélio, os quais, perguntando pela casa de Simão, chegaram à porta. E chamando, perguntaram se morava ali um Simão que tinha por apelido Pedro. E enquanto Pedro pensava na visão, disse-lhe o Espírito: Eis aqui, três homens o buscam» (Atos 10:17-19).

Temos neste ponto uma primeira menção importante: «...disse-lhe o Espírito». O texto poderia dizer: ‘Disse-lhe o Senhor’, mas nos diz diretamente: «disse-lhe o Espírito». Se você ler o livro dos Atos, vai encontrar que essa é a maneira normal em que os apóstolos ou os irmãos eram governados. Às vezes é dito: «O Senhor apareceu em uma visão e lhe disse...». Mas a maioria das vezes é: «Disse-lhe o Espírito...». Quer dizer, é reconhecido que a voz do Espírito Santo de Deus falando no coração é a voz do Senhor.

A Escritura declara: «Disse o Espírito», para enfatizar que é a pessoa do Espírito quem está atuando nesta situação. E observem como o Espírito fala na primeira pessoa. Versículo 20: «levanta-te, pois, e desce não duvidando de ir com eles, porque eu tos enviei». Você pode notar? O Espírito assume toda a autoridade e fala na primeira pessoa.

E o Espírito enviou a Pedro. Não é simplesmente algo que atua como uma influência, mas alguém que apresenta identidade e autoridade na primeira pessoa. «Eu os tenho enviado». Fala com a autoridade de Deus, porque o Espírito Santo é Deus, e Deus não pode falar senão como Deus.

O Espírito Santo possui todos os atributos e as prerrogativas de Deus. Não pode ser colocado, nem considerado em um lugar inferior ao de Deus. Se nós não considerarmos o Espírito como deve ser, o Espírito não pode operar entre nós. Se não o honrarmos como deve ser honrado, reconhecendo efetivamente a sua autoridade divina, ele não poderá atuar na igreja. Se nós não reconhecermos que ele é Deus, ele não pode atuar como Deus, e se não atuar como Deus, ele não atua de maneira nenhuma, porque Deus só atua quando é reconhecido como tal. Por isso Pedro não discutiu. Era Deus. E obedeceu.

E aqui há uma chave que nos mostra como andar no Espírito. Pedro não entendia o que o Espírito lhe pedia. Toda a sua formação religiosa lhe dizia que isso era absolutamente impróprio e inadequado. Ia contra tudo o que ele entendia – até seu conceito de igreja, porque para ele até esse momento a igreja só estava constituída por judeus e na prática não passava de uma seita judaica. Mas, graças a Deus, isso não era o que o Espírito tinha em mente.

Mas o interessante é que Pedro era um homem sujeito ao Espírito; e embora não entendesse até onde chegava o propósito de Deus deixou-se guiar pelo Espírito e como conseqüência, esse dia as portas da igreja se abriram para os gentios, não por iniciativa de Pedro, mas por iniciativa do Espírito Santo de Deus.

Porque o Espírito sabia tudo o que tinha que vir e era obra do Espírito trazer para os gentios e uni-los ao corpo que é a igreja. Porque o mesmo Espírito que atuou em Pedro para abrir a porta aos gentios sem que este entendesse, é o mesmo Espírito que um dia revelou a Paulo o mistério escondido dos séculos em Deus: Que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho.

Às vezes perdemos de vista como ocorreram as coisas. O Senhor Jesus ensinou muitas coisas maravilhosas, mas a revelação do mistério eterno de Deus veio pelo Espírito Santo aos apóstolos e profetas. E foi esse mesmo Espírito quem revelou muito tempo depois a Paulo o significado deste evento na casa de Cornélio, onde atuou em sua própria soberania divina, por sua própria condição de Deus, tomando as rédeas da igreja e levando-a adiante até contra os preconceitos e as idéias preconcebidas de Pedro.

O Espírito estabelece ministérios

«Havia então na igreja que estava em Antioquia, profetas e mestres: Barnabé, Simão o que se chamava Niger, Lucio de Cirene, Manaém o que havia se criado junto com Herodes o tetrarca, e Saulo. Ministrando estes ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo...» (Atos 13:1-2).

Aqui há algo muito interessante. O Senhor Jesus tinha estabelecido a doze a quem chamou apóstolos durante o seu ministério na terra. Esses doze apóstolos estavam em Jerusalém, e isso foi algo que fez o Senhor. Mas agora o Senhor subiu ao céu, e ele está à mão direita de Deus o Pai.

Mas, observe o que ocorre aqui em Antioquia, uma igreja quase toda gentílica. Aparentemente, os irmãos que são nomeados como mestres e profetas são todos judeus; mas a maioria dos irmãos e irmãs eram gentios. Vemos a ação do Espírito aqui, uma vez mais, operando até contra os preconceitos de muitos irmãos, e até dos próprios líderes de Jerusalém. Mas aqui há uma coisa muito mais extraordinária ainda. O Espírito Santo lhes diz: «apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado» (V. 3). O Espírito mesmo toma a iniciativa e nomeia a dois apóstolos, além dos doze que o Senhor tinha nomeado. E estes apóstolos, tempo depois, foram reconhecidos pelos de Jerusalém como verdadeiros apóstolos do Senhor (Gál. 1:17, 2:9), os quais reconheceram a obra soberana do Espírito de Deus em Antioquia.

Mas, observem: o Espírito não consultou a ninguém. Ele atuou com autoridade divina, e enviou a estes dois novos apóstolos. Porque o Espírito Santo já tinha tudo preparado. Isto resultou, no surgimento de todo o grande movimento das igrejas gentílicas, iniciado pelo Espírito com homens enviados pelo Espírito, ungidos e governados pelo Espírito.

Enviados pelo Espírito

Mais adiante, quando você lê sobre as suas viagens encontra dito: «Nós, querendo entrar em tal província, o Espírito Santo o proibiu. Depois quisemos ir à outra e o Espírito Santo não nos permitiu». Quer dizer, na obra de Deus, não é que você faz ou se move como quer. Se for enviado pelo Espírito, você tem que caminhar pelo Espírito, entrar onde o Espírito lhe permite entrar e não entrar onde o Espírito lhe impeça de entrar, porque é o Espírito o que edifica a igreja.

Além disso, no momento em que os anciões foram estabelecidos nas novas igrejas, buscou-se que fossem homens cheios do Espírito Santo de Deus. Porque todas as funções, todos os ministérios, todos os movimentos e tudo o que se faz na igreja tem que estar sob a unção do Espírito Santo de Deus.

Devemos nos perguntar, em conseqüência, com relação a tudo o que hoje estamos fazendo: O Espírito nos enviou? O Espírito nos mandou? Nisto onde estamos trabalhando hoje em dia: o Espírito nos colocou? Irmãos anciões, as decisões que estão tomando na direção dos assuntos da igreja: o Espírito as ordenou? Obreiros, o que fazemos hoje: o Espírito nos enviou a fazê-lo? Irmãos e irmãs que servem em qualquer serviço: o Espírito está nos levando a atender as necessidades dos irmãos? Ou ao invés disso tem sido a ação da nossa alma, das suas emoções, ou dos seus conceitos e interesses?

É o Espírito quem governa tudo na Igreja, ou somos nós? Isso faz toda a diferença. Chegou um dia desastroso, trágico, de ruína para a igreja, no final do primeiro século. Os homens tomaram o lugar do Espírito e este não pôde seguir governando a igreja. Apareceram os bispos, os líderes da igreja, para governar, para dirigir, para determinar, para mandar. Nesse dia, o Espírito Santo deixou de ser o Senhor da igreja e se retirou.

Graças a Deus pelos obreiros, pelos anciões, pelos ministros e todos os que servem. Mas quem deve governar, dirigir, mandar, quem tem os planos, quem sabe tudo, é o Espírito Santo. Se nos desligarmos dele, vamos esquecer imediatamente a essência de tudo, porque a memória das coisas divinas está no Espírito. Os planos das coisas divinas e a tarefa por cumprir estão no Espírito. Toda a plenitude de Cristo está no Espírito. Ele é o outro Consolador que veio para nos conduzir à glória eterna.

Por isso, precisamos ser homens e mulheres cheios do Espírito Santo!

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