A batalha é do Senhor

Os recursos que há em Cristo para as batalhas espirituais.

Oliver Peng

Leitura: Deuteronômio 20:4-8.

Deuteronômio capítulo 20 se refere a nossa batalha contra o nosso inimigo. O versículo 1 nos diz que o nosso inimigo será sempre mais poderoso, com cavalos, carros e um povo claramente mais numeroso que nós. Mas ainda assim não devemos temer-lhe, porque "o Senhor vai conosco, para lutar por nós contra os nossos inimigos, para nos salvar" (V. 4).

Palavras consoladoras

Em seguida nos dá quatro cenários onde as baixas (mortes) poderiam ocorrer: 1) quem acabou de construir uma casa nova, 2) quem acabou de plantar um vinhedo, 3) quem acabou de comprometer-se em matrimônio, e 4) os que estão assustados.

O resultado possível dos quatro panoramas é igual: "...não seja que ele morra na batalha". A solução para os quatro casos também é a mesma: "Vá, e torne para a sua casa" (vv. 5-7). Isto nos apresenta um paradoxo muito interessante: por um lado, temos a promessa do Senhor de ir conosco, para lutar por nós e nos salvar; e por outro, a perspectiva das baixas no fragor da batalha é muito real.

Quando a Bíblia nos apresenta um paradoxo, há geralmente algo muito interessante que espera para ser revelado.

A promessa do Senhor de ir adiante, lutar e nos salvar representam a Sua graça. A batalha não é nossa; é do Senhor. Fazemos frente a um inimigo experiente, ardiloso e formidável, que tem cavalos, carros e um povo mais numeroso que nós. Este antigo inimigo, ardiloso e desumano enganou e tem causado estragos à humanidade por séculos. Mas no último campo de batalha, no Calvário, o nosso Senhor Jesus foi adiante de nós para batalhar e nos salvar. O inimigo foi derrotado de uma vez para sempre e nós fomos salvos por Sua graça.

O Senhor agora está fazendo um trabalho mais profundo e mais refinado por Sua própria graça para produzir o caráter do Seu Filho interiormente em nós, de modo que, mediante a Sua graça, também nós possamos agora fazer frente a um inimigo derrotado e obter diariamente as nossas vitórias. Não é por nosso próprio esforço, força ou capacidade, mas sim pela presença poderosa do Espírito Santo em nós e através do Seu trabalho subjetivo de levar à morte as obras da carne (Rom. 8:13 b).

Assim conseguimos obter estas vitórias diárias. Em outras palavras, se não cedermos ao Senhor nenhum terreno para que faça o seu trabalho mais profundo e mais refinado em nós, e se formos insensíveis aos seus tratamentos, quer dizer se "dermos coices contra o aguilhão", ali não haverá nenhum elemento de Cristo que seja agregado em nós, e nós enfrentaremos à perspectiva de certas baixas em nossas batalhas espirituais.

Contei freqüentemente em um encontro que tive pouco depois de ter nascido de novo, no Peru em 1968. Meus pais nos levaram a visitar alguns amigos na Casa Grande, e ali conhecemos a Bert Elliot (irmão de Jim Elliot) e sua esposa, Colleen, missionários nas selvagens e primitivas selvas peruanas. Ali na sala de estar da família de nossos amigos, eu vi os seus rostos. Nunca tinha visto algo similar nem poderia explicá-lo, mas me senti como vendo uma luz radiante emitir do rosto desse casal. Neste mesmo dia, 39 anos mais tarde, aquela imagem segue vívida em mim. O que foi aquilo que vi? - pergunto-me freqüentemente.

Com o passar dos anos, depois de ter sofrido muitas baixas em minhas batalhas espirituais com o inimigo, comecei lentamente a entender. Certamente era o Cristo que tinha sido profundamente lavrado e constituído em seu ser com muitos tratamentos, sofrimentos e rompimento do vaso de alabastro, que chegou a impactar e tocar as vidas de muitas pessoas. Totalmente desconhecido para mim, até então um cristão renascido… o que vi em seus rostos era Cristo!

Isto nos leva aos quatro casos de pessoas que foram enviados para casa do campo de batalha: 1) Aquele que construiu uma casa nova, 2) que plantou um vinhedo, 3) que se casou, e 4) o que era tímido de coração.

Uma característica comum parece operar nos quatro aspirantes a soldados que foram enviados para casa - careceram de maturidade e estabilidade no Senhor.

Para estes quatro tipos de homens, o Espírito Santo destacou quatro áreas importantes que os fizeram inúteis nas mãos do Senhor: casa, vinhedo, esposa e medos.

Casa

Antes que possamos entrar na batalha contra o formidável inimigo, precisamos experimentar a Cristo como nossa "casa". Temos que conhecer a disposição, o plano, as habitações, o equipamento e a formosura de Cristo, se é que vamos para a batalha. Antes de qualquer coisa, necessitamos uma visão dele e do Seu propósito eterno (plano e disposição). Precisamos morar confortavelmente em Cristo "que é estar arraigados e fundamentados nele" e permitir-lhe o "fazer morada (casa) em nossos corações" (as habitações).

Precisamos possuir uma boa medida das riquezas e do caráter de Cristo, de modo a poder exibir adequadamente as riquezas de Cristo (o equipamento). Finalmente, precisamos ser alargados, mediante os seus tratamentos, em Cristo, e produzir abundância de ervas e de especiarias da fragrância da sua ressurreição em nosso caráter (formosura de Cristo). Quando todos estes elementos se conjugam em nossa experiência, estamos experimentando a Ele como nossa "casa" ou habitação".

Vinhedo

Em seguida precisamos experimentar a Cristo como nosso "vinhedo ou vinha". Tem que haver uma evidência de que a graça encha de tal maneira as nossas vidas que permita nos ocupar e trabalhar com Cristo, a fim de que o fruto possa produzir-se. Paulo disse aos Coríntios, "eu sou o menor dos apóstolos… antes trabalhei mais do que todos eles, não eu, mas sim a graça de Deus comigo" (1 Coríntios 15:9-10).

Uma apropriada experiência da graça nos capacitará sempre com a carga e a capacidade de Co-trabalhar com o Senhor; e o ministério que resulta é o nosso "vinhedo". Muitos santos preciosos desejam zelosamente servir ao Senhor e serem úteis em suas mãos, mas o seu engano comum é centrar-se no que ele pode ou deseja fazer para o Senhor em vez de permitir que a graça faça um cultivo mais profundo no terreno do seu coração.

A maioria de nós tem corações cheios de pedras que precisam ser tiradas ou removidas. Diariamente o nosso coração é distraído pelo agito do mundo que tende a endurecer os solos do nosso coração fazendo-o duro e denso. Necessitamos que o Senhor remova as pedras e quebrante e remova os chãos, de modo que as videiras possam criar raiz em nossos corações.

Freqüentemente o nosso coração é ressecado pela dureza que nos rodeia; diariamente o pó do mundo, a rotina dos nossos afazeres e tantos trabalhos que não temos nenhuma umidade que deixe produzir vida. Necessitamos grandemente de que a graça umedeça e regue a terra seca do nosso coração.

Uma vez que o Espírito Santo tenha cultivado e a graça tenha irrigado o chão para uma tenra recepção de Cristo e da sua palavra, as videiras em nós criarão raízes, florescerão e darão fruto. Quando experimentamos a Cristo como nosso "vinhedo" não há necessidade de procurar os ministérios ou de perguntar como podemos servi-lo. Nossa vinha será o nosso ministério.

No capítulo final de Cantar dos Cantares, a sulamita declara: "Salomão teve uma vinha em Baal-Hamon, a qual arrendou a guardas, cada um dos quais devia trazer mil moedas de prata por seu fruto. A minha vinha, que é minha, está diante de mim; as mil serão tuas, OH Salomão, e duzentas para os que guardam o seu fruto" (Cantares 8:11-12).

Aqui vemos a sulamita que foi profundamente tratada e que produziu uma vinha cheia de Cristo, a qual veio a ser o seu ministério. Não só satisfez a Deus, a quem lhe oferecem as "mil peças de prata," mas também, tem um excedente das riquezas de Cristo para compartilhar com outros - as "duzentas peças".

Muitos preciosos irmãos estão muito preocupados perguntando-se qual será o seu 'ministério', mas eles esqueceram o assunto mais importante - não tem deixado Cristo cultivá-los e irrigá-los como a uma vinha. É perigoso envolver-se em um ministério sem ser tratado como uma "vinha".

Maria, quem quebrou o vaso de alabastro, não procurou um ministério. A fragrância que emanou de seu vaso quebrado era o seu ministério. E que poderoso ministério foi! Depois de dois mil anos, essa fragrância persiste na casa até hoje. Pode perceber o seu aroma?

Dorcas não procurou um ministério. Ela fez as túnicas e os vestidos para as viúvas. OH, mas que grande ministério ela tinha. Quando ela morreu, os anciões tiveram que enviá-la para que Pedro a trouxesse de volta! Isso demonstra quantas saudades sentiam do seu 'ministério'! Olhe ao redor. Vê pessoas ocultas, pouco conhecidas e sem fama, sem 'glamour' como ela, nas igrejas de hoje?

Note que a sulamita em Cantar dos Cantares diz: "A minha vinha, que é minha, está diante de mim". O que a separou de todas as demais é que ela tinha 'a sua própria vinha'; o restante deles era simplesmente "encarregados" (guardas) do vinhedo. Também, a sua vinha estava "diante dela". Quer dizer, em qualquer ambiente onde o Senhor nos coloque, tem o potencial de converter-se em nossa vinha.

A vinha de Dorcas era algo que estava diante ela -costurando roupas para as viúvas necessitadas-, não pregando em algum púlpito - com o devido respeito aos pregadores. Em vez de perguntar qual seja o nosso ministério, faríamos bem em nos perguntar a nós mesmos se possuímos uma vinha. Então, olhemos ao redor para ver o que é que temos diante de nós.

Não penso em fazer alguma coisa em minha velhice, embora o tempo seja na verdade um elemento crítico; hoje estou muito contente onde o Senhor me colocou. Por sua graça, ele está cultivando e irrigando a sua vinha em mim. Removendo as pedras e umedecendo a terra -e meus olhos atentos ao Lavrador- o ministério que resulte não será nada do que deva me gabar. É tudo dele. Tudo dele.

Amor

Então o que acontece com o apaixonado? A intimidade vem à mente. Nota a necessidade de desenvolver intimidade com o Senhor? A única e mais prejudicial enfermidade que murcha a vida e que é como uma praga na maioria dos cristãos é a falta de intimidade com o Senhor. Muitos cristãos exibem os seus dons, as suas obras, o seu zelo, mas têm muito pouca experiência no quarto secreto.

Pode-se dizer, alguns cristãos não têm a menor idéia sobre experiências no quarto secreto. Tome o exemplo de qualquer caráter santo na Bíblia; não encontrará nem um só que não tenha tido experiências íntimas com o Senhor. Tome qualquer caráter santo na história cristã; não há nenhum que não tenha tido doces experiências íntimas com o Senhor. Não é nosso conhecimento, dons, ou zelo o que nos faz soldados: é nosso conhecimento de primeira mão e experiência íntima que nos permitem (ou nos capacitam para) fazer frente ao inimigo no campo de batalha.

O coração covarde

Agora vamos a aquele que está assustado. O medo provém de uma constituição interna frágil. Enfim, este último suposto soldado é o resultado dos três anteriores, quer dizer, carência de experimentar a Cristo como a casa, carência de experimentar a Cristo como a vinha, e carência de experimentar a Cristo na intimidade.

Finalmente, a solução aos quatro tipos de soldados desqualificados é a mesma: "Volte para a sua casa". Quando não experimentamos a Cristo como nossa "casa", nossa "vinha," ou nosso "amor" seremos limitados pelo medo e incapazes de lutar contra o inimigo. A única solução é voltar para a nossa "casa". Quase não é necessário dizê-lo, precisamos entrar individualmente na realidade espiritual de Cristo em todas estas três áreas deixando-o tratar profundamente em nós e lançar mão da graça que ele provê em cada caso. O tratamento do Senhor é uma questão muito pessoal e individual. Mas tem que haver um ambiente corporativo para balançar e para regular nossas experiências individuais.

Notem que o Senhor não disse: "Volte para a sua nova casa", "a sua vinha", ou "a sua noiva". Ele disse: "Volte para a sua casa".

A riqueza da Casa de Deus

A casa é um tipo da igreja; é o ambiente corporativo que balança nossas experiências individuais. Ninguém, nem os 'gigantes espirituais', podem conhecer o Senhor, ver o Senhor, ouvir o Senhor sozinhos, por si mesmos. Sem o corpo -a casa- que nos regule e equilibre, nossa experiência espiritual estará condenada à decepção, ao engano e à inutilidade, não importa quão dotados sejamos.

É na "casa" onde aprendemos a nos sujeitar uns aos outros. É na "casa" onde se adquire a Sua humildade. É na "casa" onde se prova a nossa capacidade para a batalha. É na "casa" onde seremos equipados para a guerra contra o inimigo.

Muitos santos se lançaram no campo de batalha sem estar corretamente preparados. Alguns partiram para o campo de batalha, mas nunca tornaram completamente à Casa.

Com toda a honestidade, nenhum de nós está qualificado para ir ao campo de batalha. E o Senhor, em sua graça, enviou a "casa", não a qualquer casa, para nos consolidar. Que o Senhor nos conceda um grande desejo por Sua Casa.

É nesta Casa onde finalmente aprendemos a possuir, em uma medida mais completa, com todos os santos, a realidade da "casa", do "vinhedo" e da "noiva". Ajuda-nos Senhor!

Traduzido de www.thecloseddoor.com. Usado com permissão do autor.

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