ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O serviço dos ministros e o da igreja
Os ministros são para equipar os santos, para que em seguida eles façam a obra do ministério e edifiquem a igreja.
Marcelo Díaz
Nesta oportunidade, quero compartilhar com vocês um pouco mais referente ao tema do ministério de todos os santos, que, por certo, não está completo entre nós de maneira perfeita. Mas sim desejamos ardentemente que se manifeste.
Quando eu era jovem, fui a um instituto bíblico para receber preparação para o ministério. Ali a pergunta mais freqüente era: 'Que ministério tens?'. Supõe-se que ali estavam todos os que tinham um chamado de Deus para servir-lhe, de maneira que ninguém podia ignorar qual era o seu. As respostas mais habituais eram: evangelista, pastor e mestre. Assim, todos os que estudávamos ali nos dividíamos entre estes ministérios.
Hoje faço a vocês a mesma pergunta que me fizeram naquele tempo. 'Que ministério tens?'. Será que o serviço no Senhor se reduziu a apenas três ou cinco ministérios? A resposta é categoricamente 'Não', pois existe nas Escrituras e na vida normal da igreja um ministério muito maior, tão amplo que nele todos têm capacidade, e que, no entanto é um. É 'o ministério de todos os santos'.
Grande parte da vida passamos querendo conhecer do que isto se trata, como posso servir ao Senhor ou, em outras palavras, qual é a minha localização no corpo de Cristo. É uma questão que deveríamos ter mais ou menos resolvida.
Todos devem estar servindo, todos devem estar no ministério de todos os santos. É tão importante saber que fomos chamados para este ministério e participar dele, que Deus tem provido dons especiais para capacitar e equipar os santos com o fim de que possam levar adiante o seu trabalho. Estes são os chamados ministros da palavra, dons de Deus dados aos homens.
O serviço dos ministros da Palavra
O Senhor quer manifestar-se através da sua igreja, quer que sejamos cheio da sua glória. Ele quer expressar todas as suas riquezas e sabedoria aos homens, e para isto usará os santos, os chamados do seu nome, a quem enviará capacitando-os em diversos serviços conforme às riquezas de sua graça.
Uma das formas de equipá-los e manifestar a sua vontade clara e nítida é através da sua palavra. Para isto usará os ministros da palavra, que tem o trabalho de ministrar Cristo à igreja, pois só Cristo é o alimento necessário e suficiente para o crescimento espiritual. É certo -e o dizemos com tristeza- que neste tempo muitos ministros têm realizado o serviço que corresponde aos santos, e o monopolizaram para si. Também os santos descansaram nos ministros procurando a sua comodidade. Mas isso não é bom. E ainda que isto pareça certo em muitos ambientes cristãos, Deus segue abençoando a sua igreja, provendo ministros de Cristo para o seu povo. Graças ao Senhor por compartilhar do que é seu.
O Senhor deu à igreja apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, estes cinco ministérios lançam mão da palavra, e transmitem a voz do Senhor, transmitem a vontade do Senhor, inspirados nas Escrituras que já foram reveladas.
Para ver um pouco a ação destes ministérios e a relação com a igreja quero ler no livro dos Atos capítulo 20:17 para extrair algumas lições. Aqui se encontra Paulo, atuando como apóstolo (ministro da palavra), como alguém que foi enviado para fazer a obra. Estando em Mileto faz um chamado para os anciões da igreja em Éfeso. Esta igreja teve um início maravilhoso e Paulo participou ativamente nisso (Cap. 19). Notem que interessante é este discurso. Vou lendo e tirando algumas aplicações.
Verso 17. "Enviando, pois, de Mileto a Éfeso, fez chamar os anciões da igreja. Quando vieram a ele, disse-lhes...". Aqui já há uma relação do ministério da palavra e o governo da igreja. O ministério da palavra tem a ver com os dons da palavra (Efésios 4), e o governo da igreja tem a ver com os anciões, homens locais constituídos pelo Senhor, confirmados pelos apóstolos, para servir entre os irmãos e coordenar o serviço da igreja.
Paulo manda chamar os irmãos para compartilhar uma mensagem que ele tem, porque segundo ele entendia, já não os veria mais. Isto é realmente importante, notem a recepção ao chamado, o respeito e a sujeição mútua entre ambos. Paulo exorta os anciões e eles recebem a palavra com necessidade, afeto, amor, dependência. É tal a resposta de agradecimento ao Senhor que lhe abraçam, beijam-lhe e lhe acompanham até o último momento (V. 37-38). Irmãos, isto verdadeiramente é um exemplo, porque os anciões poderiam não responder ao chamado ou poderiam dizer: 'por que tenho que ir? Quem é este? É maior do que eu, é melhor que eu?'. Mas aqui vemos o modelo de Deus em corações tratados pelo Senhor dando importância ao que verdadeiramente é importante -a vontade de Deus- e seguindo-a, sujeitam-se uns aos outros.
No versículo 18 e 19, Paulo começa a falar-lhes com muito amor. "Vós sabeis como tenho me comportado entre vós todo o tempo, do primeiro dia que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda humildade, e com muitas lágrimas, e provações...".
Paulo diz de si mesmo: 'Vocês viram o meu testemunho, como me comportei como ministro da palavra entre vocês. Aqui já temos uma pista para vermos esta relação de apóstolos e anciões. Um ministro da palavra soberbo, iracundo, presunçoso e autoritário, nunca irá ser bem recebido. Alguém que ministra a Cristo, que leva o Cristo celestial para transmiti-lo através da mensagem, deve andar com humildade, edificar a igreja com humildade. E junto a isso as suas obras devem atestar por ele.
Assim vemos que somente por estes dois versículos extraímos lições para os obreiros e anciões que dão exemplos de mutualidade, sujeição, obediência, dependência, amor, testemunho e humildade.
A mensagem dos ministros
Agora, em relação à ministração da palavra quero que nos detenhamos no conteúdo da mensagem. Aqui são mostrados pelo menos cinco aspectos na ministração de um obreiro, que como bem diz Paulo deve dar-se em um ambiente de proclamação pública e na intimidade das casas. "... não me esquivei de vos anunciar e vos ensinar nada que fosse útil, publicamente e pelas casas... testificando a judeus e a gentios sobre o arrependimento para com Deus, e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo" (V. 20-21).
No ministério da palavra, a primeira ministração é o arrependimento para com Deus, e o segundo a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta é a essência do evangelho. Se não tiver chamado para o arrependimento, não há evangelho. O Senhor começou a sua mensagem com: "Arrependei-vos e convertei-vos...". A primeira mensagem de um ministro do Senhor é o arrependimento. A palavra arrependimento implica uma mudança, uma virada. Um novo nascimento.
Mas quantas vezes no trabalho espiritual nos encontramos com pessoas que são meio 'boas', meio 'crentes'. Tratamos de motivá-las para que sigam no evangelho, e não há resultado. Caminha um tempo, e não funciona; por quê? Porque o primeiro passo, o do arrependimento, não está bem firmado. Recordem que o primeiro rudimento é o arrependimento das obras mortas, e o segundo, a fé em Deus (Heb. 6:1).
O segundo é a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. À frente de Cristo ponho fé, ele é o autor e consumador de nossa fé. A
fé é a visão que transcende ao temporal, é ver o que não se vê e deixar de ver o que se vê. Parece paradoxal, mas na realidade ocorre quando um cristão deixa de ver o que não se vê; para, detém-se, acomoda-se e troca as suas lanças e espadas por pás e picaretas. E em seguida vem a sua ruína. Os desejos da carne se apoderam da sua fé e logo quer aumentar os seus celeiros para a sua segurança. Sem fé é impossível agradar a Deus.
"Agora, eis aqui, ligado eu em espírito, vou a Jerusalém Mas de nada faço caso, nem estimo preciosa a minha vida para mim mesmo, contanto que acabe a minha carreira com gozo, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" (vers. 22, 23).
Temos o arrependimento para com Deus e a fé em Jesus Cristo, e agora "o ministério para dar testemunho do evangelho da graça de Deus". Os ministros da palavra são ministros do evangelho da graça de Deus.
Há algo mais precioso que a graça? O evangelho é graça de Deus, presente de Deus. Não diz "o evangelho da lei de Deus" como alguns os interpretam transformando-o em lei, cheio de mandamentos, obrigações, sacrifícios da carne. O evangelho é graça, graça que salva e opera para a vida eterna. Bendita graça!
Continua no verso 25 dizendo: "E agora, eis aqui, eu sei que nenhum de todos vós, por entre quem passei pregando o reino de Deus verá mais o meu rosto". O quarto aspecto é o Reino de Deus, quer dizer o governo de Deus, a autoridade de Deus. Não a nossa autoridade, não o nosso governo.
Há ambientes cristãos que receberam revelação com respeito ao reino de Deus, mas com o passar do tempo se transformou no reino dos homens. Então, o reino de Deus termina sendo o governo de uns poucos homens. Quem entra neste ambiente, são postas demandas e exigências em nome de Deus, e termina sendo o reino dos dogmas, estatutos e regulamentos. O reino é de Deus! Deus faz a obra, Deus liberta o pecador, Deus expulsa os demônios, Deus revela a sua palavra, Deus faz tudo.
E por ultimo, versículos 26-27: "portanto, eu vos protesto no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus". Ali está o último aspecto e talvez o mais transcendente, pois é o conselho de Deus, revelado em Gênesis quando diz: "Façamos o homem". Paulo demorou três longos anos para transmitir este conselho à igreja: "portanto, vigiai, lembrando-vos que por três anos, de noite e dia, não cessei que admoestar com lágrimas a cada um" (V. 31).
Qual é o propósito de Deus, o desejo de Deus? Detenhamo-nos brevemente na carta aos Efésios, para interiorizarmos a respeito deste mistério. Nesta carta vemos como o céu se aproxima da terra, como o terrestre é absorvido pelo celestial.
É tão maravilhosa a revelação do seu conselho, que Paulo o define da seguinte maneira: "...dando-nos a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, o qual propôs em si mesmo, de reunir todas as coisas em Cristo tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" (Ef. 1:10). Quer dizer: resumir, concluir tudo que existe no céu e na terra em e debaixo de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso o Senhor Jesus subiu ao céu enchendo tudo da sua glória, para em seguida derramar-se a nós e encher tudo na terra. Como o apóstolo Pedro testifica: "A este Jesus ressuscitou Deus, do qual todos nós somos testemunhas. Assim, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós vedes e ouvis".
Paulo também nos explica isto dizendo em Efésios 4:7-9. "Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme à medida do dom de Cristo. Pelo qual diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora isto, aquele que subiu, o que é, senão que também tinha descido primeiro às partes mais baixas da terra?".
Jesus, tendo descido primeiro às partes mais baixas da terra, levou cativo o cativeiro, e subiu, e o Pai o entronizou. Estando acima encheu tudo de Cristo, e quando encheu todo o universo de Cristo, Deus por seu Espírito começou a repartir dons aos homens, à igreja.
A exaltação do Filho é a base do derramamento do Espírito Santo, dos dons de Deus, da graça de Deus. Cristo subiu e encheu tudo da sua glória, e os céus não puderam conter a sua glória. Então o Espírito Santo começou a derramar de Cristo para nós.
"aquele que desceu, é o mesmo que também subiu por cima de todos os céus para encher tudo. E ele mesmo constituiu...". Repartiu de si mesmo, da sua glória, da sua plenitude, de tudo o que havia nos céus. Ele tirou de si e o pôs na igreja, e constituiu "...a uns, apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres...". Dons de Cristo, que revelam uma parte dele, para nos mostrar a sua plenitude, a sua luz, a sua beleza, a sua grandeza.
De modo que quando um ministro da palavra começa a falar o mistério de Deus, está entregando uma porção de Cristo à igreja. Mas estes dons de Deus não são um fim em si mesmo; têm o seu lugar, têm o seu valor, a sua posição. Eles são Cristo caminhando, Cristo profetizando, Cristo evangelizando, Cristo pastoreando, Cristo ensinando, Cristo enchendo tudo "..a fim de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo".
Os ministros são para aperfeiçoar os santos, para equipá-los. Eles são para a igreja, para que os santos se alimentem de Cristo, retirem da plenitude de Cristo, e em seguida eles façam a obra do ministério e edifiquem a igreja.
Alguns interpretam isto como duas fontes de serviço: a primeira é a obra do ministério que é para os não crentes, o que Paulo chama em 2ª Coríntios 5:18 o ministério da reconciliação, um ministério para fora; e segundo o ministério para dentro, que é a edificação da igreja. Com o fim de, ou "...até que todos cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, a um varão perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef. 4:13).
Nestes textos há uma seqüência importante, que é: Deus reparte dons; os dons operam na igreja, é levantado ministros da palavra e edificam à igreja para que os santos façam a obra do ministério. Termina com o versículo 16: "...de quem todo o corpo, bem provido e unido entre si por todas as juntas que se ajudam mutuamente, segundo a atividade própria de cada membro, recebe o seu crescimento para ir edificando-se em amor".
A seqüência termina com a atividade própria de cada membro. Há dons... Manifestam-se os ministros da palavra... Equipam os santos... E os santos equipados começam a ter uma atividade própria.
As operações de todos os santos
Qual é seu serviço na obra de Deus? Qual é a sua atividade? Às vezes, temos rebanhos cheios de ovelhinhas gordas, equipadas com a palavra, mas sem nenhuma atividade. Os ministros têm uma atividade que lhes é dada pelo Senhor Jesus Cristo para te equipar, para que você faça o que o Senhor tem desenhado em seu plano, e que te é singular.
Irmão, o fim é que você sirva na igreja, na obra do ministério e na edificação do corpo de Cristo. Se não o está fazendo, rogue ao Senhor. 'Senhor, nos mostre a sua graça, abre os nossos olhos. Como posso te servir melhor, como posso te ser útil?... Não quero estar perdendo todos estes anos em mim mesmo'.
Por ultimo vejamos em 1ª Coríntios 12:4. Diz: "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas Deus, que faz todas as coisas em todos, é o mesmo". A palavra operação é a mesma palavra que se traduz como atividade que lemos recentemente. Há atividades, mas Deus, que faz todas as coisas em todos, é o mesmo.
Concluímos então o seguinte. Cristo desceu às partes mais baixas, mas também subiu até o máximo enchendo todo o céu da sua Glória, para em seguida derramá-la em abundância para a terra depositando-a em sua igreja. Nós devemos procurar ter liberdade para receber tudo que Deus queira nos derramar; liberdade para que o Espírito de Deus se expresse com os dons que Deus deu. Especialmente dons da palavra equipando os santos. Então, veremos muitos dons operando, ministrando, atuando. E Cristo, por seu espírito, governando tudo.
Assim seja, Senhor Jesus.