ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O vigia que veio da China (2)
A exemplar e controvertida história de Nee To Sheng, mais conhecido como Watchman Nee.
Águas Vivas
Watchman Nee nasceu na China, em 1903. Cristão de terceira geração, aos 17 anos de idade se consagrou inteiramente ao serviço do Senhor. Graças à ajuda recebida especialmente da missionária Margaret Barber, Nee progrediu rapidamente no conhecimento do Senhor Jesus Cristo e do propósito de Deus. Sua fé foi grandemente provada aos 24 anos de idade, quando esteve afligido por uma enfermidade mortal, da qual foi curado milagrosamente. Em 1934, logo depois de uma larga espera por Pin-huei, sua noiva de juventude, casou-se com ela.
Prematuramente, Watchman Nee conheceu o dissabor da maledicência. Recém casado, uma tia de sua esposa deu rédeas a sua irritação pelo enlace de sua sobrinha com tal indivíduo, publicando em um jornal de ampla difusão uma série de injúrias contra Nee, durante uma semana inteira. Ela o acusava de ser um pregador de baixa moral, sustentado por recursos estrangeiros.
O impacto sobre o ânimo de Nee foi muito forte, levando-o quase à depressão. Entretanto, várias experiências alentadoras viriam para tirar-lhe desse estado.
Além disso, a obra que se expandia reclamava a sua atenção. Dois foram os meios que permitiram esta expansão. Uma, a ampla difusão que tiveram as publicações de Nee entre cristãos de todas as filiações. Sua claridade e simplicidade para expor as doutrinas bíblicas foram de grande ajuda para os recém convertidos. O segundo, foi o uso espontâneo do lar dos crentes como centros para o desenvolvimento de novas igrejas. Grupos de oração surgiam em cada nova cidade aonde os cristãos se mudavam. A isto se somava o trabalho dos obreiros, que evangelizavam e estabeleciam novas igrejas. Em 1938, Nee declarou que havia 128 'apóstolos' dedicados à obra. Alguns deles no estrangeiro: Filipinas, Singapura, Malásia e Indonésia. O mesmo Nee visitou Manila em 1937.
No ano de 1935 se uniu a Nee Chiang Sho Dao, mais conhecido como Stephen Kaung. Proveniente de uma família metodista conheceu a Nee em uma conferência em uma universidade em Shangai, onde Kaung estudava. Kaung viria a ser posteriormente um dos mais fiéis colaboradores, e continuadores da obra de Nee no Ocidente, e o é até o dia de hoje.
As novas necessidades que surgiam conduziram Nee a deixar de lado parcialmente os ensinos sobre a vida interior do cristão, para aproximar-se a assuntos mais técnicos e práticos da obra e as igrejas. Tanto é assim que foi publicou em 1938 o livro Revendo a Obra, conhecido hoje sob o título A Igreja Normal. Este livro foi objeto de muita polêmica, embora tenha realizado uma contribuição inquestionável para uma visão mais clara do modelo apostólico da igreja.
Um frutífero percurso pela Europa
Neste mesmo ano, Nee fez uma viagem a Europa, onde conheceu pessoalmente a T. Austin-Sparks, de quem tinha sido um ávido leitor. Com ele assistiu à Conferência de Keswick, na Inglaterra. Por este tempo, rompeu-se em toda a sua crueldade a guerra chinês-japonesa. Quando foi tocado para falar, Nee dirigiu à reunião em intercessão pelo longínquo oriente, em tais termos que deixou sinais indeléveis nos que lhe escutaram.
A. I. Kinnear, um dos seus biógrafos, estava presente naquela ocasião: "Foi uma oração que os presentes jamais esqueceram: 'O Senhor reina; afirmamos ousadamente. Nosso Senhor Jesus Cristo está reinando, e ele é Senhor de tudo. Nada pode tocar a sua autoridade. São forças espirituais que estão decididas a destruir os seus interesses na China e no Japão. Portanto, não rogamos pela China nem tampouco pelo Japão, mas sim rogamos pelos interesses do seu Filho nesses dois países. Não culpamos a nenhum homem, pois são somente instrumentos nas mãos do seu inimigo. Nós desejamos a sua vontade. Quebra, Oh Senhor, o reino das trevas, pois as perseguições à sua igreja estão ferindo a ti. Amém".
Durante a Conferência falou sobre as qualidades necessárias para um missionário, e, apoiado na epístola aos Romanos, falou sobre "A obra do Senhor para a nossa salvação: o Senhor mesmo como nossa vida". Foi muito significativo que no fim de semana tenha participado da grande reunião de comunhão sob o lema: "Todos um em Cristo Jesus".
A. I. Kinnear fala assim de sua experiência pessoal com Nee: "Quando falava em público, seu excelente domínio do idioma inglês, junto com as suas maneiras agradáveis, produzia um deleite ao escutar-lhe. Mas era o conteúdo das suas mensagens que nos cativou. Não desperdiçava palavra, mas sim ia direto ao assunto e assinalava algum problema da vida cristã que nos preocupava desde tempos atrás, ou nos confrontava com alguma demanda de Deus que tínhamos deixado de lado".
Quanto a manter a comunhão com o Senhor, Nee estava acostumado a usar o seguinte exemplo: "Suponha que um trem esteja viajando de Szchuan para Kunmim. Ele deve passar por muitos túneis. Às vezes está viajando na escuridão, às vezes na luz. A experiência da comunhão de um cristão com o Senhor é igual. Se estiver na escuridão, ele primeiro deve confessar o seu pecado. Se não houver nenhum sentimento de pecado, deve exercitar a sua vontade para continuar na comunhão".
Enquanto estava na Inglaterra, Nee recebeu a triste notícia de que Pin-huei tinha perdido o filho que esperavam. Pin-huei não voltou a conceber, e o matrimônio não chegou a compartilhar o gozo de ter filhos.
Em outubro, Nee foi convidado para a Dinamarca para celebrar reuniões. Em Copenhague, deu uma série de mensagens sobre Romanos 5 ao 8 intitulados A Vida cristã Normal. Estes, junto com outros sobre o mesmo tema, formaram mais tarde os livros que levam o próprio nome e o A Cruz na Vida Cristã Normal. Passando por Odense, deu uma notável palestra sobre as palavras chaves de Efésios: Sentem-se, Andem, Estejam Firmes, que logo foi publicado em forma de livro.
Quando chegou a Paris, retornando da Noruega, Alemanha e Suíça, encontrou uma carta dos seus colaboradores em Shangai insistindo-lhe a considerar mais a fundo o problema da aplicação prática do Corpo de Cristo com o seu novo amigo e conselheiro Austin-Sparks. Entretanto, Austin Sparks tinha escolhido enfatizar melhor o Corpo figurado de Cristo e a liberdade do Espírito para dar-lhe hoje uma variedade de expressões sobre a terra, em cada uma um testemunho da Cabeça que está no céu. De maneira que embora a compreensão e amizade entre eles fossem profundas, neste particular custou a eles entrar em acordo. Não tinham desacordo quanto ao vinho novo, mas a preocupação de Nee se firmava nos odres que o continham.
Ali em Paris, com a ajuda de Elizabet Fischbacher, traduziu para o inglês o seu livro Revendo a Obra, que foi publicado na Inglaterra em maio de 1939.
Voltando a Shangai
Voltando a Shangai, teve que atender outros assuntos. Um deles era a estreiteza do local da rua Wen The Li. Tinham anexado duas casas à primeira, mas o espaço ainda era pequeno. Mais tarde seriam adicionadas outras duas, obrigando a uma nova distribuição cada vez.
Alguém descreveu assim a cena nessas reuniões: "no domingo pela manhã muitas pessoas se reúnem em silencio às 9:30 para escutar a pregação da Palavra. As mulheres de um lado e os homens do outro, sendo o salão mais largo do que comprido. Nos bancos sem encosto todos devem sentar-se o mais junto possível para aproveitar ao máximo o espaço, pois nos três lados da parte exterior do edifício tem pessoas escutando pelas janelas e diante da ampla porta de duas folhas, ou por alto-falantes. Outros estão reunidos no piso superior. Junto com os pobres estão os cultos e os ricos: doutores juntos com operários, advogados e professores com serventes e cozinheiros. Entre as irmãs modestamente vestidas há muitas mulheres e moças modernas com penteados da moda e maquiagem, mangas curtas e vestidos de seda com cortes nas laterais. Os meninos brincam de correr de um lado para o outro, os cachorros entram e saem, os vendedores ambulantes passam pela rua, ouvem-se as buzinas dos carros e os alto-falantes soam distorcidos. Mas cada domingo é pregado fielmente a palavra da cruz. É dado o alimento mais sólido e um desafio claro".
Em suas pregações, Nee mantinha a atenção com as suas maneiras suaves, seu raciocínio singelo, mas exaustivo e com as suas analogias muito adequadas. Jamais foi visto ele utilizar notas, mas recordava e podia reproduzir algo que tinha lido. Para ilustrar algo, visualmente desenhava no ar um quadro imaginário, e para ilustrar algum ponto contava uma anedota pessoal, quase sempre era contra si. Seu agudo senso de humor produzia freqüentemente risadas no auditório e ninguém dormia em suas reuniões. Mas do principio ao fim jamais se desviava do seu tema.
Quanto à orientação do Senhor para a obra, Nee era muito aguçado em seu discernimento e rápido em tomar decisões. Explicando por que era assim, dizia: "Se me equivocar, o Senhor usará o muro e a mula para me frear, assim como fez com Balaão".
Sua esposa, sempre presente, calada e reservada, preferia manter um pouco afastada do grupo, mas o apoiava em tudo o que ele fazia.
Na primavera de 1940, Nee deu uma série de estudos muito práticos sobre Abraão, Isaque e Jacó, sob o título Os tratamentos de Deus em seu Povo, que foi publicado mais tarde sob o título Transformados em sua semelhança. Como efeito de sua viagem a Europa, sua pregação sobre a igreja chegou a ser mais espiritual ou mística. "A Igreja, Os Vencedores e o Eterno Propósito de Deus" foi o tema de suas mensagens na Primeira Conferência, e que seguiu um curso muito completo sobre "a Igreja, o Corpo e o Mistério".
Outra vez sob a disciplina do Senhor
Por este tempo, o ministério de Nee experimentou uma virada importante. As condições econômicas na China se tornaram muito difíceis por causa das contínuas guerras. Muitos obreiros que serviam em tempo completo começaram a ter necessidades. Nee tinha se encarregado do sustento de muitos deles, mas agora se via limitado para ajudá-los. Desalentado por este problema que se agravava com o passar dos meses, Nee tomou uma decisão que foi muito resistida por alguns.
Seu irmão Huai-tsu, doutor em Química, tinha formado um centro de investigação em seu próprio laboratório. Também tinha estabelecido em Shangai uma drogaria para a fabricação e distribuição de medicamentos. Sendo Huai-tsu um bom professor e cientista, mas um péssimo homem de negócios, a empresa não prosperava. Eles esperavam que Nee socorresse o seu irmão, embora ele ajudasse a tantos irmãos. Mas como não o fazia, os pais chegaram a criticá-lo por isso.
Nee viu que ali havia um potencial. A empresa, por não estar diretamente ligada com a guerra, poderia prosperar, pois supria uma necessidade para o país. Assim, teve a idéia de formar uma companhia associada para a fabricação de remédios de primeira qualidade, empregando a experiência de seu irmão como químico e doando os lucros para a obra do Senhor. Assim nasceu "Laboratórios Biológicos e Químicos da China", com domicilio em Shangai.
No princípio Nee, como presidente do diretório, deixou as coisas nas mãos do gerente C. L. Yin, e só vigiava as operações ocasionalmente, vestindo um traje moderno de homem de negócios para as entrevistas, e pondo em seguida sua humilde vestimenta habitual para visitar os crentes.
Muitos pensavam que Nee tinha abandonado a obra. Quando um grupo de irmãos visitou-lhe e interrogou-lhe a respeito, ele disse: "Só estou fazendo o que Paulo fez em Corinto e em Éfeso. É algo excepcional e só dedico uma hora diária para capacitar os representantes da companhia; em seguida faço a obra do Senhor". Quando insistiam, ele replicava: "Sou como uma mulher que ficou viúva e tem que sair para trabalhar por necessidade". Entretanto, mais tarde, ele reconheceu que havia outras razões: uma delas era a pesada monotonia de sua rotina diária.
Este novo modo de vida foi questionado pelos quatro anciões da igreja em Shangai. Tinham mudado o seu conceito a respeito dele e chegaram a considerá-lo um desertor. Assim, no final de 1942 pediram-lhe que se abstivesse de pregar em Wen Teh Li. O impacto que esta decisão produziu nos irmãos foi severo e, como é evidente, deu lugar a muitas especulações. Alguns criticavam inclusive os almoços de Nee com pessoas do mundo.
Em razão do silêncio que mantiveram os anciões, ele sentia que todo o seu testemunho estava em jogo. No entanto, a causa do grande número de obreiros que dependia dele, não sentiu liberdade para revogar a sua decisão. Não procurou justificar-se a si mesmo, mas sim aceitou a decisão dos anciões como uma disciplina de Deus, quem há seu tempo justificaria tal ação.
Sua esposa, que lhe ajudava no laboratório, não podia entendê-lo. Certo dia ouviu Nee respondendo a um chamado telefônico no qual a outra pessoa falava com voz forte durante longo tempo. Ele se limitou a escutar, respondendo de vez em quando: "Sim... sim... obrigado... obrigado". "Quem era o que te falava dessa forma?", perguntou-lhe quando pendurou o telefone. "Era um irmão que me dizia todo o mal que eu estava fazendo". "E é culpado de tudo isso?", lhe perguntou ela. "Não", replicou. "Então, por que não lhe deu uma explicação em vez de dizer 'obrigado'?", exclamou impacientemente. "Se alguém exalta a Nee To Sheng até o céu", respondeu-lhe, "segue sendo Nee To Sheng. E se alguém o pisoteia até o inferno, segue sendo Nee To Sheng".
Em outra oportunidade perguntaram-lhe por que não tratava de dar explicações, evitando assim ser mal interpretado. Ele respondeu: "Se as pessoas confiarem em nós, não é necessário explicar; se elas não confiarem em nós, não serve de nada explicar". Ele não só não se justificava quando era caluniado, mas tampouco argumentava nem discutia quando era repreendido pessoalmente por alguém. Nee dizia: "quanto mais baixo colocamos algo, mais seguro estará. É mais seguro pôr uma taça no piso".
Típico de sua maneira de ser, sabe-se que inclusive enviou ajuda econômica secretamente a alguns dos irmãos que se opunham a sua conduta. Os lucros de sua empresa eram dedicados inteiramente ao sustento dos obreiros. Também investiu dinheiro na aquisição de um centro de treinamento, com umas doze cabanas, no Monte Kuling, perto de Fuchou, e para a construção de um novo local de reuniões em Shangai.
Certa vez, Nee foi repreendido por um empregado durante um longo tempo. Nee estava sentado calmamente em uma cadeira, com um jornal na mão, sem mostrar nenhuma mudança em sua expressão. Quando os vizinhos se deram conta de que o empregado estava atuando mal, intervieram.
Nee cria que o Espírito de Deus nos disciplina por meio de todas as coisas que nos acontecem. Deus prepara cada detalhe do ambiente que nos rodeia, a fim de tirar de nós o que somos naturalmente, e nos conformar à imagem de Cristo. Todas as coisas de nossa vida natural devem ser tiradas, para que o nosso ser possa ser constituído pelo Espírito Santo com a vida divina. Nee aprendeu a aceitar todo tipo de circunstâncias sem murmurar, acusar, ou criticar. Considerava tudo uma disciplina do Espírito Santo; cria que todas as coisas colaboravam para o seu bem espiritual. Quem o conheceu via ele sempre calmo, em paz, e disposto a aceitar todo tipo de situação.
No Laboratório logo surgiram problemas que não havia previsto, e as demandas do negócio logo começaram a ocupar cada vez mais o seu tempo. Havia lutas comerciais e uma competição exagerada com as outras companhias. Houve queixa dos acionistas, e inclusive houve acidentes. Seus dons para organizar e conciliar foram utilizados ao máximo em uma situação delicada em si mesma e agravados pela guerra.
Apressado pelas necessidades, Nee aceitou um emprego no governo. Por causa de sua rica experiência no Senhor, era um funcionário muito eficiente. Todos os seus superiores o admiravam. Ele nunca tentou demonstrar que era superior; ao contrário, vivia e trabalhava em uma atitude de submissão e acatava as ordens dos seus chefes. Quando a guerra terminou, ofereceram-lhe um alto cargo, entretanto, ele o recusou por causa de sua chamada para fazer a obra de Deus.
Sua grande habilidade levou a empresa a ocupar o primeiro lugar entre os produtores e importadores de remédios na China. Nos dois anos e meio seguintes viajou muito, e eventualmente também ministrava a Palavra em outros lugares. Em 1945 deu uma série de palestras sobre as Sete Igrejas da Ásia, identificando-as com fases da história da Igreja. Entretanto, não se sentia com liberdade para partir o pão com os irmãos.
Em Chunkin, pediram-lhe que participasse da mesa do Senhor. Entretanto, ele não o fez; simplesmente se sentou e orou em silêncio. Quando lhe perguntaram o motivo, ele disse: "O problema com a igreja em Shangai ainda não foi resolvido; portanto não posso partir o pão aqui". Alguém lhe perguntou quando reassumiria o seu ministério, e ele respondeu: "Não há nenhuma possibilidade".
Em sua dupla função de homem de negócios e ministro de Deus cresceu intelectualmente como nunca antes e gozava disso, mas seu físico frágil começou a ressentir. As demandas do seu negócio eram tantas que sobrava pouca força para ocupar-se diretamente na obra do Senhor.
Quando terminou a invasão japonesa, Nee começou a fazer planos para desligar-se do laboratório. Em Shangai as portas ainda estavam fechadas para ele. Mas não só ele tinha problemas; a igreja também. Por causa da guerra, tinham dificuldades para reunir-se em Wen Teh Li, e só podiam fazê-lo pelas casas. Agora, pouco a pouco, começavam as atividades novamente.
Em meados de 1946, Nee pediu a Lee Shang-chou (Witness Lee), que mudasse de Chefú para Shangai para ajudar na obra. Lee mudou-se e foi de muita ajuda. Seu caráter autoritário e seus dotes de organizador devolveram a ordem para a igreja dispersa. Estabeleceu-se um estrito programa de reuniões e ordem por distritos. Entretanto, em pouco tempo, a liberdade do Espírito começou a se perder. Inclusive chegou-se a instalar um sistema de relógios para registrar a hora de chegada de cada crente, e "se fechou" zelosamente a mesa do Senhor. A disciplina e a sujeição foram a palavra de ordem desse tempo. Nee estava ausente.
No coração dos que tinham a responsabilidade nas igrejas, havia grande preocupação pela prolongada ausência de Nee. Já em 1946, Lee tinha perguntado aos anciões em Shangai: "Atuaram no Espírito quando tomaram a decisão de excluí-lo? Qual foi o efeito? Podem dizer se tal decisão produziu vida?". Com tristeza tiveram que responder negativamente.
Remindo o tempo
No verão de 1947, Nee compartilhou uma série de mensagens que se reuniram sob o título A Liberação do Espírito, que tratam do quebrantamento necessário como condição para a liberação do poder divino no crente. Também dirigiu reuniões para estudantes universitários, tanto em Shangai como em Fuchou, sua cidade natal.
As últimas ênfases nos últimos ensinos de Nee têm a ver com três tópicos principais: a disciplina do Espírito Santo, o quebrantamento do homem exterior (a alma), e a liberação do espírito. Embora o Espírito Santo habite em nós, se nosso homem exterior não for quebrantado, nosso espírito jamais poderá ser liberado, mas sim ficará aprisionado em nosso interior. Por isso, o homem exterior deve ser quebrantado a fim de que o homem interior (o espírito humano com o Espírito Santo) possa ser liberado. Este quebrantamento se produz através das circunstâncias de nossa vida, ordenadas pelo Espírito Santo. Quando se produz a liberação do espírito, aqueles que nos escutam são vivificados. E nisto consiste, em definitivo, a obra de Deus.
No início de 1948, em reunião com vários obreiros, entre eles Lee, Nee delineou um plano de ação para a obra que estabelecia Fuchou como o centro. Este plano surgiu a partir de uma nova luz do livro de Atos, onde se viu que a ênfase da obra é regional. Desde Fuchou (e outros centros regionais) esperava-se abranger toda a região adjacente, mediante o envio de obreiros e o traslado de famílias.
Através de Lee, os anciões de Shangai convidaram Nee para dirigir uma Conferência em Wen Teh Li, no mês de abril. Quando Nee chegou, encontrou uns sessenta obreiros e mais de trinta anciões de todas as partes da China, junto com os de Shangai mesmo. Nee se reuniu primeiro com os anciões de Wen Teh Li, e, na presença de Deus, fez uma ampla confissão de suas próprias falhas durante os últimos anos. Com este ato de reconciliação foi restaurada finalmente a comunhão entre eles. Tinham passado seis anos.
Entretanto, em Shangai havia muitas inovações. Estabeleceu-se uma forma de hierarquia entre os de maior responsabilidade que os fazia ocupar cadeiras mais elevadas. Por unanimidade, a Nee reservaram a mais alta.
Os irmãos tinham esperado com muita expectativa o seu retorno. Aqueles dias, eles encheram o recinto. Uma de suas primeiras mensagens se apoiou nas palavras de Jesus: "Dêem a Deus o que é de Deus" (Mc. 12:17). O efeito foi tremendo. Muitos se voltaram para o Senhor. Em menos de um mês, cerca de duzentos novos crentes tinham sido batizados. O lugar de reunião, que tinha capacidade para 400 pessoas, reuniam mais de 1500, alguns sentados nas escadas, nos salões contíguos, ou na rua.
Já tinham difundido a notícia de que Nee tinha doado o laboratório para a igreja. Como conseqüência, no meio de uma grande gritaria, muitos se consagravam a Deus trazendo ofertas em dinheiro para a extensão da obra. Outros traziam doações em mercadoria. Alguns entregavam suas empresas para o uso da igreja. Tal coisa nunca se havia visto na China antes. Era um retorno a Atos 4 com as suas benções.
O problema que se apresentou depois foi que as igrejas tiveram uma prosperidade material sem precedentes. Controlavam grande quantidade de recursos e dirigiam empresas justo no momento quando a palavra 'capitalista' começava a ser um termo de desonra, e quando a mera possessão de riquezas causariam suspeitas.
O programa de capacitação para obreiros foi retomado em Fuchou. Em meados de junho de 1948 mais de cem jovens de várias cidades se reuniram no afastado e tranqüilo monte Kuling, onde Nee entregou variados ensinos por vários meses. Essas mensagens foram reunidas e publicadas sob os seguintes títulos: "O operário cristão", "O ministério da Palavra de Deus", "Lições para novos crentes" (52 lições), "A Autoridade Espiritual", "Os Assuntos da Igreja", "Esquadrinhem as Escrituras", "Conversas adicionais sobre a Vida da Igreja".
Quando Nee se dirigia aos obreiros, era como se abrissem as comportas que tinham estado sob pressão durante muito tempo. Caminhava de um lado para outro com as mãos às costas, falando com todo o coração. Logo depois de suas palestras, dava tempo para perguntas. Suas respostas foram de muito valor, jamais evasivas, e sempre francas e diretas. Sua sensibilidade espiritual tinha alcançado tal desenvolvimento, que era capaz de discernir a condição dos demais de maneira cabal, e ajudá-los. Seu caráter era muito doce e suave, expressão clara de sua maturidade espiritual.
Cada manhã havia uma sessão dedicada a testemunhos individuais, onde um obreiro podia falar por uma meia hora, depois os outros expressavam as suas críticas, e finalmente Nee resumia tudo para benefício daquele que tinha testemunhado.
Todo o programa de capacitação era conduzido sob um sentido de urgência -Nee falava entre sete e oito horas diárias- pois o futuro político da nação era desconhecido. A revolução de Mao tomava cada vez mais força.
Preparando-se para o inverno
Em seu regresso a Shangai, Nee encontrou um clima de grande agitação política e social. Da leitura de Marx e Engels, Nee previu que se fosse estabelecido o marxismo na China, as condições para a igreja seriam extremamente difíceis. Aos jovens presentes, disse-lhes: "Quando os mais velhos caem, vocês devem seguir adiante". Nee pensava que, no máximo, teriam uns cinco anos para fazer a obra de Deus com liberdade.
No entanto, no início de 1949 a situação já mostrava sinais preocupantes. Nee instruiu a Lee que fizesse os acertos para deslocar-se com a sua família até Taiwan. Outros obreiros foram enviados a Singapura e Filipinas. A esposa de Nee e outras mulheres foram enviadas a Hong Kong. O Treinamento de Kuling foi cancelado abruptamente, e em Shangai foi inaugurado o novo local na rua Nanyang, com capacidade para 4000 pessoas.
Quando o Exército da Libertação entrou em Shangai em maio de 1949, Nee estava ali. Em um primeiro momento não houve restrições para a igreja, de modo que Nee pôde dar estudos bíblicos todas as semanas. Em outubro do mesmo ano, foi proclamada a República Popular da China com Mao Tse-tung como Presidente.
Enquanto foi possível, Nee viajou pelas principais cidades, e também a Taiwan, onde respirava a igreja nascente. A última vez que Nee visitou Taiwan, os irmãos, entre eles Witness Lee e Stephen Kaung, procuraram retê-lo, pois a situação em Shangai era muito arriscada. Nee respondeu-lhes: "demorou tanto tempo para levantar a igreja ali, posso abandoná-la agora? Os apóstolos, acaso, não ficaram em Jerusalém sob condições similares?". Na última noite voltaram a rogar a Nee que não retornasse. "Se voltar, pode significar o fim", disseram-lhe. Mas Nee tinha recebido um telegrama dos anciões de Shangai informando-lhe de seus muitos problemas e rogando-lhe que voltasse o quanto antes possível. Mesmo assim, os irmãos insistiram pela última vez a que não retornasse. Nee exclamou: "Não tenho cuidado da minha vida! Se a casa está caindo e meus filhos estão dentro, devo sustentá-la até com a minha cabeça se for necessário".
Voltando a Shangai, mandou chamar a Pin-huei para que se reunisse com ele, e pouco depois falou com os obreiros sobre como "aproveitar o tempo porque os dias são maus". Nee pensava que era possível e necessária certa cooperação com o novo governo, segundo Romanos 12, e assim exortava os irmãos. Insistia em não emigrar, a estar preparados, como bons cristãos e chineses, para o sacrifício.
Durante 1949 a maioria dos missionários com visão evangélica tinham procurado manter-se em seus postos com a esperança de continuar com o seu testemunho sob o novo regime. Mas em meados de 1950 o governo começou uma série de reuniões tendentes a estabelecer uma igreja oficial na China, a da Tríplice Auto-reforma.
A pressão política começou nas zonas rurais. As igrejas foram fechadas, e seus dirigentes perseguidos e encarcerados.
Mas até neste período de turbulências, os irmãos ainda podiam reunir-se em Nanyang. Ali os que iam e vinham foram abençoados pela cálida personalidade de Nee e suas valiosas exposições bíblicas. Um pastor chinês escutou Nee falar uma semana inteira sobre Romanos 1:1, e comentou: "Cada noite deu um sermão diferente de notável qualidade; mas quando ele os juntava tinha uma larga e bem composta tese. Era simplesmente maravilhoso".
No ano 1951, o governo comunista pôs-se a empregar uma estratégia de reuniões públicas de acusação contra os missionários e líderes cristãos. Em 30 de novembro, no período oficial da Tríplice Auto-reforma, publicou-se uma carta de um crente de Nankin, em que acusava a Nee de servir ao imperialismo e controlar 470 igrejas do país a partir da sua sede central em Shangai.
Quando um grupo de obreiros consultou a Nee o que faria para defender-se da acusação, ele recordou-lhes as suas experiências passadas quando foi disciplinado pela mão de Deus. Toda vez que isso tinha ocorrido, o resultado tinha sido muito instrutivo e de muito fruto espiritual.
Os agentes comunistas realizaram em Nanyang uma reunião de acusação contra Nee. No entanto, nenhum irmão se levantou para refutar a acusação. Os agentes saíram derrotados, mas com a demanda de que Nee convencesse os irmãos a fazê-lo mais adiante.
A partir de então, e prevendo que faltavam poucos dias de liberdade, Nee se aproximou da tarefa de preparar material bíblico. Vários colaboradores tomavam nota de tudo o que ele lhes ensinava. A um grupo de jovens, por exemplo, falou exclusivamente sobre as provas da existência de Deus. Houve também uma série de estudos, de caráter prático, sobre Cristo como a justiça, a sabedoria e a glória de Deus para o crente, e sobre o poder da ressurreição.
No entanto, não era isso o que tinha ordenado o Movimento Tríplice Auto-reforma. Portanto, houve novas demandas do governo, esta vez de que saísse de Shangai. A desculpa era que tinham ficado pendentes alguns assuntos do laboratório, e que devia apresentar-se na Manchuria. De modo que o sentido de urgência em aproveitar ao máximo o tempo que ficava intensificou ao ponto do desespero. Juntos trabalhavam todo o dia e até altas horas da noite, expondo e gravando a Palavra de Deus, até que no mês de março, apenas dormiam duas horas por noite.
Finalmente, foi impossível evitar o ultimato do governo. Com suma tristeza se despediu dos irmãos e de sua esposa e partiu para Harbin. Os crentes não tiveram mais notícias dele até que foi acusado formalmente em janeiro de 1956.
Detenção e processamento
Aos cinqüenta anos de idade foi detido na Manchuria pelo Departamento de Segurança Pública em 10 de janeiro de 1952, e na primeira investigação foi acusado de "tigre capitalista", à margem da lei, que tinha cometido os cinco crimes especificados contra a corrupção no comércio. Advertiram-lhe que o laboratório deveria pagar uma multa de 17.000 milhões de yuan em moeda antiga (quase meio milhão de dólares). Nee não aceitou esta acusação, e tampouco tinha os recursos para pagar tal multa; de modo que permaneceu encarcerado, e o laboratório foi finalmente confiscado pelo Estado. No cárcere foi tirada a sua Bíblia e não foi permitida comunicação alguma com os de fora.
Stephen Kaung crê que repetidas vezes lhe ofereceram a oportunidade de ser reivindicado como líder máximo cristão se guiasse os seus muitos adeptos a identificar-se com a Igreja da Tríplice Auto-reforma. Ao não aceitar, os seus captores o submeteram a longos interrogatórios, vigilância intensiva, e fizeram que escrevesse uma e outra vez a sua biografia até embotar a sua mente, procurando elementos para acusá-lo criminalmente.
Em sua ausência, muitas igrejas associadas a ele se uniram ingenuamente à política estatal, mas muitas delas se apartaram nos anos seguintes, ao comprovar o engano da estratégia marxista.
Em 18 de janeiro de 1956 começou no salão da rua Nanyang uma série de reuniões organizadas pela Câmara de Assuntos Religiosos, com o propósito de dar a conhecer aos crentes a lista de acusações criminais que se levantariam contra Nee e seus colaboradores, e insistiam aos crentes a expressar os seus pontos de vista. As acusações eram de intriga e espionagem imperialista, de atividades contra-revolucionárias hostis à política do governo, e irregularidades financeiras e libertinagem. Tudo isso estava contido em nada menos que 2.296 folhas. Este exercício pretendia incitar os irmãos à indignação contra Nee, para uma reunião maciça de acusação que seria levado a cabo de um mês.
Com efeito, em 29 de janeiro se apresentou o "Caso Nee" diante da Corte de Segurança Pública de Shangai, e no dia seguinte se levou a cabo a reunião de acusação no salão de Nanyang. Estavam presentes umas 2.500 pessoas. As acusações foram proclamadas publicamente em detalhe e apoiadas por uma exibição de fotografias e outras 'provas' documentadas. O processo durou um mês. No mesmo lugar onde Nee tinha guiado à igreja em oração e tinha-lhes exposto a Palavra que exalta a Jesus Cristo, efetuou-se a longa recitação de acusações contra ele.
Como observou um colega e amigo, as acusações contra Nee não eram religiosas, mas sim políticas e morais. Por toda Shangai se obrigavam os pastores e evangelistas a organizar pequenos grupos de estudo para pôr em conhecimento de todos os cristãos os 'crimes' de Nee. Em 6 de fevereiro, Tien Feng, o diário oficial do movimento religioso estatal, dedicou 11 páginas para revisar o caso Nee. Os números posteriores seguiram com abundância de injúrias.
Em meados de abril anunciou-se que a reorientação da igreja na rua Nanyang já estava concluída. Em 15 de abril entrou formalmente para formar parte do Movimento Tríplice Auto-reforma.
Em 21 de junho de 1956, Nee apareceu perante a Suprema Corte de Shangai. A reunião durou cinco horas. Durante a audiência foi anunciado que ele tinha sido excomungado por sua própria igreja, foi declarado culpado de todos as acusações e sentenciado a 15 anos da prisão, com reforma mediante trabalhos forçados, a partir de 12 de abril de 1952.
Na prisão até o final
Todo prisioneiro que cumpria uma sentença podia designar um parente para visitá-lo. Somente depois de um intervalo de cinco anos, foi permitido a Pin-huei ir ver-lhe. As entrevistas, que eram fiscalizadas, efetuavam-se em um salão, separados por uma barreira de arame tecido, e durava meia hora. Podia-se renovar a permissão a cada mês. Nee também podia enviar e receber uma carta por mês, o que era estritamente censurada.
A cela de Nee media 2,70 x 1,35 M. O único móvel era uma plataforma de madeira sobre o piso que servia de cama. A porta dava para uma galeria de 0,70 M., com janelas na parede oposta. Devido aos insetos era difícil conciliar o sono.
O dia se dividia em oito horas de trabalho, oito de educação e oito de descanso. A roupa era pobre, a comida escassa, a calefação não existia. Nee recebeu a mesma reforma educativa que os prisioneiros políticos. Escutavam conferências sobre política, atualidades e técnicas de produção. Mais adiante, mantiveram-lhe ocupado traduzindo do inglês para o chinês livros científicos e artigos jornalísticos de interesse oficial.
Em novembro de 1952 foi publicado o seu primeiro livro em inglês: A Vida Cristã Normal, impresso em Bombay, Índia. É pouco provável que ele se inteirou da ampla difusão que tiveram as suas mensagens fora da China e da bênção que produziram.
Um prisioneiro estrangeiro de outro pavilhão conta que Nee procurava cantar todas as manhãs, antes que começassem os alto-falantes, quatro ou cinco canções que ele tinha composto a partir das Escrituras. Outros prisioneiros que recuperaram a liberdade em 1958 diziam que ouviam com freqüência Nee cantar hinos em sua cela.
A fome que aumentou sobre o país no começo dos anos 60 também chegou aos cárceres. Em 1962, quando dois frágeis anciões foram postos em liberdade logo depois de cumprir sentenças de dez anos, disseram que Nee pesava menos de 50 quilogramas. Um ano e meio depois estava doente no hospital do cárcere padecendo de isquemia coronária, e o eximiram por um tempo do trabalho manual.
Em abril de 1967 se cumpriram os 15 anos da sentença de Nee. Mas isso não significava necessariamente a sua liberdade. Freqüentemente estavam acostumados a estender a condenação a quem não mostrava mudanças em sua maneira de pensar. Por isso, quem orava por sua libertação não estavam tão otimistas. Em todo este tempo, saquearam muitas vezes o lar de Pin-huei, revisando os seus pertences, ridicularizando e destruindo tudo o que era cristão. Para ela foram anos muito difíceis.
Em setembro, os anciões da igreja em Hong Kong receberam uma nota, o parecer das autoridades da China, de que tanto Nee como a sua esposa podiam ser resgatados e sair do país se fosse depositado uma soma considerável de dinheiro na filial do Banco da China. Os crentes reuniram muito prontamente a quantia e foi depositada. No entanto, no princípio do ano seguinte, receberam a informação de que a transação não se faria. O dinheiro foi devolvido aos seus doadores.
O que aconteceu? Muitos pensam que foi o mesmo Nee quem não aceitou o resgate (Heb. 11:35). Talvez tenha pensado que ao manter-se em sua atitude de cooperar com o governo ajudaria a formar uma imagem de cristãos fiéis, para diminuir a animosidade contra eles. Talvez tenha preferido seguir nas mãos de Deus, para experimentar mais tarde o poder de sua ressurreição.
Em maio de 1968 um chinês, que visitava uma capital ocidental, pediu asilo. Ali contou às autoridades que tinha sido um guarda do cárcere de Shangai e que, mediante o testemunho de Nee, tinha encontrado a Jesus Cristo como o seu Salvador.
Em janeiro de 1970, com a idade de 66 anos, e depois de 18 anos no cárcere, Nee foi transferido para um "cárcere aberto" ou um campo de trabalhos forçados na campina. Ali, ou o clima não lhe caiu bem ou o trabalho que lhe deram foi muito para ele. A doença cardíaca que o afligia se agravou, causando-lhe muitas moléstias. Não obstante, já vislumbrava o fim da sentença de 20 anos, e as esperanças de Pin-huei brotaram novamente.
Uma tarde de 1971, ela estava arrumando algo em seu lar, aonde possivelmente muito em breve chegaria o seu marido. Subiu sobre um banquinho, perdeu o equilíbrio e caiu, fraturando várias costelas. É possível que tenha sofrido um leve enfarte. Poucos dias depois morreu no hospital.
Quando Pin-cheng, a irmã de Pin-huei visitou Nee no campo de trabalho, encontrou-o aparentemente bem, face à má notícia. Mas em um dos seus bilhetes ao seu sobrinho, revela o seu verdadeiro estado: era o desfecho. Tinham ansiado tanto sua reunião no próximo abril! Não se sabe o que tenha ocorrido no verão de 1972. Em 12 de abril, Nee fez 20 anos de prisão, cinco a mais do que foi publicado em sua sentença.
As autoridades tinham aceitado dar liberdade a Nee, com a condição de que deveria viver em um pequeno povoado -de nenhuma forma em Shangai nem Fuchou- e desde que a comunidade assinasse um documento em que o aceitasse. Um sobrinho de Nee procurou fazer alguns trâmites a respeito.
Seis semanas depois esteve em Anhwei. Teria sido muito penoso a viagem, ou sofreu mais privações? Não temos mais detalhes. Não sabemos se teve alguma companhia cristã em seus últimos momentos. Tudo o que sabemos é que em 1° de junho de 1972, aos 68 anos de idade, passou para a presença do Senhor.
Só Pin-cheng foi informada da sua morte. Quando foi ao lugar acompanhada de uma sobrinha, o corpo do Nee já tinha sido cremado. Ela tomou as suas cinzas, e as deu a um sobrinho, a qual as enterrou, junto às de sua esposa. Um funcionário do campo mostrou-lhes um papel que tinha encontrado debaixo do travesseiro. Tinha escritas várias linhas com palavras de letras grandes, escritas com mão trêmulas. O papel dizia: "Cristo é o Filho de Deus, que morreu para a redenção dos pecadores e ressuscitou ao terceiro dia. Essa é a maior verdade do universo. Morro por causa da minha fé em Cristo. Watchman Nee".
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